VOCÊ ESTÁ CANCELADO

VOCÊ ESTÁ CANCELADO

Depois de escrever sobre MIMIMI e Desconstrução, pensei em fechar a tríade de assuntos polêmicos e bem emblemáticos falando sobre o atual e famoso CANCELAMENTO. Uma forma justa e perfeita, creio eu.

Como sempre, gosto de trazer o significado da palavra para que comecemos a tomar contato com a mesma.

De acordo com Oxford Languages:

CANCELAMENTO

Substantivo masculino – ato ou efeito de cancelar; canceladura.

Para quem pensa que a política de cancelamento é algo recente, ledo engano. Você sabia que ela remonta à época da ditadura militar? Talvez você acreditasse ser este tema fosse atual, novidade no mercado, mas na realidade, a política do cancelamento já havia acontecido na época da Ditadura Militar e o suposto algoz da história seria o famoso cantor Wilson Simonal.

De acordo com a história, o cantor teria sido acusado de ser “dedo duro/informante” dos órgãos de repressão da horrenda fase vivida no Brasil da Ditadura Militar.

Ocasionando um cancelamento do artista pela classe artística e intelectual de nosso país. O que levou uma estrela a encerrar a sua carreira.

Quem tiver interessa para saber toda a história, vale a pena assistir aos filmes:

– Simonal, do diretor Leonardo Domingues;

– Simonal, ninguém sabe o duro que dei (documentário), dos diretores Micael Langer, Calvito Leral e Cláudio Manoel.

Se quiser ler a matéria sobre o primeiro cancelamento no Brasil, click aqui.

Porém, como a minha intenção não é focar na fascinante história desta celebridade, mas mostrar as marcas e cicatrizes e efeitos deixados no cancelado oriundo das ações tomadas pelo cancelador, então sigamos em frente.

Afinal, o que é o cancelamento?

O cancelamento aparece em 2017 em um movimento chamado  #MeToo. Este movimento denunciava assédio sexual e o abuso de homens conhecidos contra mulheres.

Depois outras pautas como feminismo, racismo, sexismo, LGBTQI+, começaram a ter mais destaque e força nas redes e as famosas minorias começaram a ter voz ao se posicionar ou pedir o cancelamento daquilo que entendem ir de encontro com o que seria o politicamente correto.

Em 2019, o termo “cultura do cancelamento” foi eleito pelo Dicionário Macquarie como o termo do ano. Referido dicionário seleciona todos os anos as palavras e expressões eu mais caracterizam o comportamento do ser humano.

Sabe a famosa cena o programa “O Aprendiz” de Roberto Justus em que ele diz: “Você está demitido”, permito trazê-la a atualidade e deixar nas mãos dos juízes de plantão para em alto e bom som gritem: “VOCÊ ESTÁ CANCELADO.”

Afinal me responda:

_Os juízes do tribunal das redes sociais hoje agem corretamente ou estão errados?

Em matéria publicada no site da Universidade de Fortaleza, o jornalista Alison V. Marques nos faz pensar ao dizer:

“A questão também é que não é a atitude que é cancelada, mas a pessoa. Todos nós podemos cometer um erro. Já pensou se fôssemos cancelados todas as vezes? Essas críticas podem levar à intolerância, e isso não é saudável. Quando uma pessoa erra, ela pode aprender com um feedback menos agressivo. Nada justifica, por exemplo, criar perfis fakes para atacar em comentários e até mesmo produzir fake news com frases fora de contexto.”

Para ler a matéria na íntegra, click aqui

Através das mídias, principalmente, as redes sociais, o cancelamento tomou força e vigor e tem sido aplicado à celebridades, políticos e todos aqueles que apresentem comportamento que o público julga inadequado.

O público com o advento das redes sociais tem se tornado acusador e juiz daqueles que não pensam como eles, o que pode ser muito perigoso tanto para o cancelado como para o cancelador.

Podemos dizer que o cancelamento seria “justo” quando se trata de assuntos polêmicos como machismo, sexismo, feminismo, racismo, transfobia, homofobia, etc, mas até que ponto a justiça é feita? O cancelado não merece o perdão? De que vale o ditado: “errar é humano, perdoar é divino.”? Ninguém tem direito a uma segunda chance? Ou terá erros que não merecem o nosso perdão? E se o cancelado fosse uma pessoa próxima e querida, talvez seu pai, mãe, marido, esposa, companheiro, companheira, filho ou filha?

As pessoas se veem no direito de usar de seu poder de fala e escreverem aquilo que pensam sobre o assunto, por vezes, sem terem o menor conhecimento técnico. Ai que mora o perigo, penso eu.

Uma coisa é uma luta, por exemplo, relacionada a uma pauta racista, homofóbica, outra seria falarmos sobre medicina, direito, engenharia.  Devemos ter todo o cuidado ao falarmos, postarmos ou pedirmos o cancelamento de alguém.

Neste ponto, apenas para elucidar, vejo pessoas com conhecimento técnico que defendem a ciência, a aplicação na vacina na população e serem apedrejadas em praça pública por não concordarem com um político, assim como acontece quando os colegas advogados defendem seus pontos de vista, embasados no direito e também são acatados.

É fato que o cancelamento é a nova forma de apedrejarmos alguém em praça pública e, via de regra, ficarmos felizes com isso.

E ai, eu pergunto: Se cancelado deixou de existir como você achou que deveria ter acontecido, a suposta justiça foi feita? Será mesmo? E o que você ganhou com isso? O que a sociedade ganhou com isso?

E mais, nos tornamos caçadores impiedosos sedentos por pessoas que cometam erros para que possamos apedrejá-las?

Para refletirmos mais um pouco sobre estas questões, trago trechos extraídos em matéria publicada no Canaltech:

“Para Diogo, é preciso também diferenciar sobre o que são lutas a favor de causas importantes, que valem a pena e fazem as pessoas mudarem seus comportamentos, do que é um abuso de censura e perseguição. “Isso precisa ser rapidamente debatido na sociedade, quais são os limites de cada intervenção. Os efeitos podem ser uma melhoria no sistema social aberto, fortalecimento de boas condutas, educação, formas de comportamento mais inclusivos, mas também pode acontecer movimentos de desentendimentos, segregação, censura, entre outras coisas”, diz.”

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“Diogo diz que o ambiente em que acontece esse linchamento virtual — como Twitter, Facebook e Instagram—, que leva ao cancelamento, não possui ainda regras claras sobre o que é possível fazer por lá ou não. No entanto, isso pode ser uma oportunidade de constituir novas mobilizações, entendendo limites, formas de até melhorar as redes sociais e de criar fóruns públicos, além de permitir a atuação de educadores, políticos, pessoas do sistema judiciário, sendo mais possível criar um debate geral sobre condutas puníveis e educativas e como lidar com punições recorrentes, por exemplo.”

Para ler a matéria na íntegra, click aqui

Vale lembrar que quanto mais importância o cancelado der às opiniões dos canceladores, mais afetada ela será, certamente. Mas como ter sangue frio e não ligar para o cancelamento, principalmente quando ele afeta não só o psicológico, como também o financeiro da pessoa cancelada? Exemplo foi a Karol Conká que ao ser cancelada não perdeu apenas seguidores, mas patrocinadores, trabalhos.

A sociedade deve tomar cuidado quando levanta uma bandeira de cancelamento, pois o ponto de vista diferente merece respeito e não cancelamento, afinal vivemos em uma democracia.

Outro fato que tem me chamado a atenção e a postura de cobrança por parte de famosos (artistas, digitais influencers) em relação aos seus pares, pois alguns deles pedem que os “omissos” tomem partido sobre todos os temas e criticam aqueles não que o fazem.

Não estariam eles esbarrando no livre arbítrio dos colegas? O que ocorre é que não permitem que estes fiquem em cima do muro e os atacam, afinal aqueles que se posicionam esperam que o denominado “isentões” também o façam.

 Porém, pergunto:

_ Precisamos mesmo nos manifestar a cerca de todo e qualquer assunto?

Para finalizar, o nosso bate papo, deixo aqui alguns questionamentos para você refletir:

_ Existe redenção para uma pessoa cancelada? O que ela teria que fazer para novamente cair nas graças da população? Todo o “pecado” merece ser perdoado?

Lembrando, caro leitor, que não sou o dono da verdade e certamente respeito todos os posicionamentos contrários.

Um forte abraço

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