Violência Privada, velada e fundamentada

Violência Privada, velada e fundamentada

Eu cresci ouvindo o velho ditado: em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher, ou então que roupa suja se lava em casa. Já ouvi relatos de mulheres que apanhavam tanto que não podiam sair na rua pois envergonhariam seus maridos; infelizmente eu conheço mulheres que para comprar uma roupa precisa da aprovação do marido, inclusive, para que se gaste o seu salário. E tudo isso de acordo com a estrutura de família, religiosa, baseada nos “bons costumes” com filhos “bem criados” e “mulheres de família”. Eu não me recordo o rosto dessas mulheres exuberante e felizes.

É uma imposição da sociedade família ser responsabilidade da mulher, custe o que custar. Cabe a mulher zelar pela “reputação” de seu marido e filhos. Isso me causou certo desconforto e maior atenção quando fui surpreendida com uma frase: “nossa, você tem muita sorte, pois tem um marido que te ajuda a lavar a louça e até brinca com seus filhos”. Foi a partir daí que comecei a prestar mais atenção no quanto somos cobradas, omitidas e injustiçadas. E é por isso a real necessidade de estarmos o tempo todo escrevendo, incentivando , ouvindo relatos, apoiando.

Não distinguir público do privado é fundamental para a que seja mantida a supremacia masculina. É através da esfera privada  homens abusam, violentam, utilizam de sua opressão para manter os serviços domésticos, sexuais e reprodutivos das mulheres que estão sob seu controle.

A privacidade cria um muro em que coloca mulheres em situação de risco. Polemizar ou problematizar fatos até então restritos ao âmbito privado e validar que nossas escolhas e nossas oportunidades são fundamentadas em uma sociedade com estrutura hétero patriarcal e é urgente tentarmos entende-la, não para culpabilizar ou julgar as mulheres, mas fazer com que elas saibam a raiz de cada opressão e se estão sendo oprimidas, mesmo que com o aval da família ou veladamente.

As mulheres atrás dos muros que a sociedade constrói através do pensamento que a vida privada não é passível de problematização, estamos sendo coniventes e o pior, dando o aval para o estupro marital, violência doméstica e todos os tipos de violência e práticas que tangem o machismo e a misoginia. Estamos concordando com atitude de homens que se valem da privacidade para exercer seu papel dominante.

Fazer com que mais e mais mulheres entendem que seu papel na sociedade e na família não é a submissão, e que as mesmas são dotadas de liberdade para serem o que quiserem e onde quiserem através de debates e questionamentos aos comportamentos recorrentes entre quatro paredes é extremamente fundamental inclusive para que elas entendam que

não é preciso inventar desculpas para o sexo, que ela não é a única responsável pelos filhos,etc. É ela saber que nem sempre suas escolhas são baseadas somente no seu desejo e vontades.

Levar à tona o privado é mostrar que nós mulheres somos seres capazes de conquistas e principalmente pessoas que tem o pleno direito de viver em liberdade.

Leia nossa indicação e post “A falsa felicidade nas redes sociais”

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