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Vazio Cheio

“Quem somos nós, em essência? Emergimos no seio de uma família, imersos na sua cultura e nos costumes sociais por ela transmitidos. No entanto, mesmo assim, quem verdadeiramente somos? Desnude-se de sua família, despoje-se de seus costumes, liberte-se de crenças limitadoras. Esvazie a mente e contemple-se numa sala de brancura imaculada, diante de um espelho que reflete a totalidade de seu corpo. Faça a pergunta intrínseca: ‘Quem sou eu?'”

Este constitui tão somente um fragmento reduzido extraído do meu mais recente labor literário em desenvolvimento.

Contudo, nobre leitor(a), enquanto dedicas tua atenção à leitura meticulosa desta prosa, questiono-te: quem és tu, de fato? Indubitavelmente, tal indagação assume contornos de complexidade inextricável, demandando uma introspecção profunda para desvelar a essência de meu ser, o meu eu autêntico? Contemple todas as figuras que permeiam tua esfera de convivência, desde os laços familiares até os círculos de amizade, os colegas laborais, os vizinhos e até mesmo aquelas personalidades públicas que ecoam em tua percepção. Interroga-te, então, quantos desses indivíduos se mostram autênticos consigo mesmos? Quantos deles ousaram explorar as profundezas do oceano da consciência, um domínio sombrio, misterioso e gélido, onde, em meio a tamanha escuridão, vislumbraram um espelho capaz de refletir o ‘eu verdadeiro’? Esta empreitada revela-se uma jornada que demanda dedicada persistência diária, uma busca constante pela verdadeira essência que compõe cada indivíduo.

Que diriam os eminentes intelectuais do Brasil sobre este tema? Mário Ferreira dos Santos, em suas ponderações acerca da consciência humana, ressalta a primazia do conhecimento e da compreensão profunda do ser. Ele sustenta que a consciência não figura meramente como um fenômeno individual, mas está intrinsecamente vinculada à compreensão do todo, abrangendo a realidade cósmica e espiritual.

Para Ferreira dos Santos, a consciência transcende a estreiteza de uma dimensão puramente subjetiva, posicionando-se como parte integrante de uma realidade mais abrangente. Ele aboga pela necessidade de uma “Filosofia Concreta”, superando as limitações de uma perspectiva exclusivamente empírica ou idealista, almejando uma compreensão que abrace tanto o concreto quanto o transcendental.

O filósofo também sublinha a relevância da educação na formação da consciência. Em sua visão, o desenvolvimento humano demanda um processo educacional que não se restrinja apenas ao conhecimento técnico, mas que considere também a formação ética e espiritual.

Em síntese, Mário Ferreira dos Santos concebe a consciência humana como um elemento inalienável e essencial de uma compreensão mais ampla da realidade, realçando a necessidade premente de uma filosofia que harmonize as diversas dimensões da existência.

A partir desse resumo do Mário, vamos mergulhar nas profundezas do oceano da consciência humana, confrontamo-nos com um abismo escuro e gélido, um reino de misteriosas complexidades que residem nas profundezas do nosso ser. É nesse silencioso abismo que somos desafiados a encarar o espelho de nossos espíritos, a refletir sobre nossa verdadeira essência, a nos deparar com o nosso verdadeiro eu.

Nesse mergulho intrínseco, a busca pela verdade torna-se uma jornada transcendental, onde a aceitação da própria essência é crucial. Exige-se coragem para despir-se das camadas artificiais, para desvendar a autenticidade enterrada sob os escombros das crenças limitantes, dogmas que servem como grilhões invisíveis e os costumes sociais que nos acorrentam ao rebanho coletivo.

Esquecer as amarras impostas pela sociedade é como quebrar as correntes que aprisionam o espírito, permitindo que a luz penetre nas sombras mais profundas e sejam purificadas por águas límpidas. É um ato de rebelião contra as convenções que moldam a identidade de forma superficial, convidando-nos a desbravar as regiões mais obscuras da psique, onde reside a verdadeira substância de quem somos.

Ao abandonar as máscaras impostas pelo mundo exterior, descobrimos a autenticidade intrínseca que pulsa em nosso âmago. A jornada rumo à verdade exige a renúncia das capas ilusórias que obscurecem a visão interior. Somente ao nos depararmos com nosso verdadeiro eu, ao aceitar cada faceta que compõe a complexidade da existência, podemos verdadeiramente emergir das profundezas e desfrutar da clareza luminosa de uma consciência liberta.

Sim, uma consciência libertada, desvencilhada das preocupações com as palavras alheias, do peso de contabilizar amizades em números, transcende-se para uma compreensão fundamental: “Eu reconheço minha própria identidade, aceitando-me integralmente, com plena autenticidade”. Em tal esfera, a validação pessoal supera a necessidade de aprovação externa, e a qualidade das relações transcende a quantidade, visto que a verdadeira riqueza repousa na certeza inabalável de quem somos, na aceitação sincera do nosso ser único e intrínseco.

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