A imortalidade pode ser considerada o conceito fundamental do conhecimento. E isso resumiria uma das primeiras elaborações filosóficas que eu conheço a respeito da ideia de tempo, feita por Heráclito: “Não se pode entrar no mesmo rio duas vezes”. O que se inicia, se acaba; o que nasce, morre. Assim, podemos supor que o nascimento e a morte são limites intransponíveis.
Outro pressuposto interessante trazido por Heráclito, fala sobre a característica momentâneo das coisas: “O relâmpago tudo governa”, ou seja, ele pode ser inesperado, como servir para clarear a escuridão quando se precipita sobre a terra, mesmo que apenas por aquele instante.
Do mesmo modo, as ideias têm vida própria assim como todas as demais vidas. Nossas ideias se submetem a processos para poder amadurecer, transformar e evoluir. O que eu quero dizer, é que nossas ideias, mesmo quando aparentemente desaparecem, não significa que tenham de fato terminado. Pois, não sendo a memória algo físico, embora faça parte da totalidade de um corpo, sua ultrapassagem da própria morte é um aspecto inerente de sua vida.
“Se eu quisesse agitar aquela árvore com as mãos, não seria capaz. Mas o vento, que não vemos, pode atormentá-la e dobrá-la como bem quer” (Nietzsche,1954 p. 307).
A ideia é isso que não vemos, mas que nos incomoda e nos guia a sua maneira. Intrinsecamente sabemos que somos produto de nossas vivências, experiências, observações e lembranças. Podemos perceber, aos poucos, que estamos de frente para muitas vidas que se encontram.
O meu Eu de agora questiona a menina que já fui e convida a pensar sua vida. Esse processo proporciona encontros comigo mesma, com os meus desejos, necessidades, anseios, lembranças, novos despertares e, aos poucos, crio ruído de liberdade que nada mais é, senão fazer questionamentos e buscar conhecer o mundo, romper-se e recriar-se.
Diante de tudo isso o que resta? Um pouco de tudo, eu responderia.