Um Olhar para a Quarentena do Idoso

Um Olhar para a Quarentena do Idoso

Recentemente o ator Flávio Migliaccio faleceu deixando uma carta onde registrou sua grande tristeza pela condição da velhice que perde a voz num país que ainda se percebe jovem. Ele que deu vida a tantas dores fictícias, acabou por silenciar a própria dor. Em apoio ao amigo, o também ator Lima Duarte, endossa a dificuldade de se envelhecer no Brasil. Seu alerta denuncia a dor de tantos que nesse momento de pandemia e incertezas, vê uma nova dinâmica de sociedade onde se enclausura os idosos.


É a dor da anônima Maria que desde o início da pandemia passou a chorar diariamente, Antônia uma quase centenária vovó evidencia grande tristeza, há relatos de idosos mais agressivos e impacientes em instituições totalmente fechadas para visitação.


Certamente a causa é nobre, salvar vidas é um grande objetivo. Isolados do vírus, mas por tabela guardados das famílias, dos contatos, dos acessos ao mundo, do sol e do lazer, idosos e super idosos estão todos presos até segunda ordem, e para a maioria deles é difícil aceitar e entender. Estão mais estressados, com mais falhas mentais, sentem-se abandonados, subjugados, e sem abraços e afagos sentem mais frio, os domingos não chegam, as tardes são longas e o calendário não serve de nada.
Há comentários pesados quanto a teimosia desses personagens em entender, aceitar e se cuidar da possível transmissão do vírus que sufoca. Há decretos que determinam qual o melhor posicionamento desses agentes, visto serem o chamado grupo de risco, os vulneráveis!


Há brincadeiras, piadas e maneiras não positivas de se estabelecer essa nova condição de vida, que mesmo temporária pode se tornar permanente para os idosos que frágeis nos deixam todos os dias.


Protege-los é preciso, afinal são nossa história, foram os braços fortes que construíram esse mundo, mundo esse que hoje não mais conta com sua produtividade ou gerenciamento. Mas entende-los também é preciso e aceitar sua dor e suas dificuldades de entendimento! Proferir palavras de bondade e generosidade, acalmar e oferecer luz aos medos e as tristezas daquele que não conhecia rotinas com máscaras e álcool gel, o mundo deles era mais seguro.


Envelhecer é uma tarefa árdua, e apesar de não haver protocolos para o envelhecimento, há limitações impostas pelo tempo que por vezes desagrega, traz doenças e estigmas dolorosos. Basta um único espinho no pé para desarmonizar o corpo inteiro, envelhecer é uma desarmonia apesar de ser um espinho natural.


O homem que tem começo, meio e fim acredita que não se muda a hora da morte e quer que se confine apenas o vírus.


Enquanto essa noite não acaba é preciso ser mais luz e mais iluminação, é preciso barrar a discriminação contra aquele que não tem mais compromisso com a lucidez, é preciso proteger a vida sem matar os sonhos e sobretudo tratar bem o tempo de quem muito viveu.


Um velho sempre nos acompanha, pois somos sempre duas vozes, a nossa e do nosso amanhã, mas o tempo de auxiliar é hoje!


Mariangela Carvalheiro
Psicopedagoga e Graduanda em Gerontologia
mariangelamsc@gmail.com
Fone: 51. 981314414

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