Terapia – Uma experiência de encontro genuíno

Terapia – Uma experiência de encontro genuíno

À primeira vista, eu tremia na sala de espera pensando na causa de estar iniciando uma terapia, o que deveria falar, como falar e se conseguiria falar. Ou seja, na medida em que o tempo passava a ansiedade me consumia e um emaranhado de pensamentos pairavam sob minha mente. Nesse ínterim, já dava para concluir um ponto sobre mim: definitivamente, eu tinha ansiedade e era consumida por incontavéis medos, consciência essa que só depois de algum tempo pude ter. Em suma, a psicanálise ja fazia efeito sobre meu eu em uma antessala.

Em seguida, quando entrei na sala de atendimento da terapeuta, me deparei com uma mulher elegante e uma sala cheia de quadros minimalistas, porta-retratos e cores opacas. Pouco depois me sentei em uma poltrona, e ali minha história com psicólogas havia começado. Analogamente, iria perceber algo muitos anos depois: É um privilégio ter essa experiência de acessar seu inconsciente para assim obter novas visões de si e do mundo. Em síntese, a chamada psicanálise.

Olhe para dentro, para as suas profundezas, aprenda primeiro a se conhecer.”
(Sigmund Freud -neurologista e psiquiatra austríaco, conhecido como o “pai da psicanálise”).

A princípio, naqueles primeiros minutos apenas a respondi. Ao passo em que a sessão sucedia, sentia uma vontade imensa de rir quando ela me observava em silêncio após eu responder algum questionamento seu. Durava muito tempo o silêncio entre uma resposta para outra pergunta e seu olhar analítico observava minuciosamente cada detalhe em mim, cada expressão.

E eu sabia que ela me observava. Assim como também não sabia de nada acolá.

Todavia conforme fui amadurecendo o meu processo nas sessões de terapia, posso dizer que eu mesma fui criando desafios comigo mesma. Me desafiava a perceber quanto tempo eu conseguia ficar calada com ela me analisando, quanto tempo ela costumava me analisar em silêncio e com quantas sessões a vergonha e os pensamentos mirabolantes criados por minha mente desapareceria.

Sentia-me totalmente analisada pelo seu olhar de coruja. Mas percebi que era o desconforto com o silêncio que me incomodava, isso tempos depois. Similarmente aquela auto-análise me fez de forma despretensiosa começar a observar como as minhas pernas estavam posicionadas. Como resultado, havia aprendido a ler melhor o meu próprio corpo.

Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos.
Sigmund Freud

Após algumas visitas, falava igual a um papagaio. Acima de tudo o mais interessante da terapia era poder após algum tempo rir de mim mesma com as coisas que eu falava e principalmente com as quais pensava:

  • Que baboseira é essa que estou falando?
  • Ela também faz terapia?
  • Será que estou sendo infantil ou sempre fui imatura?
  • Por qual motivo isso está me deprimindo?
  • Quando fico nervosa, costumo mexer muito as pernas ou fico com o corpo tenso e paralisado?
  • Ela está observando e analisando minha linguagem corporal ou está refletindo sobre o que acabei de falar?
  • Como eu não prestei atenção que isso era tão simples assim?
  • Então tudo que me aconteceu é por conta do que acabei de falar e só percebi agora?
  • Que descoberta surreal!

Sobretudo percebi que por meio da fala, é nos dada a oportunidade de conectar com nosso mecanismo de autodefesa, que vem da repressão que é responsavel por produzir os sintomas negativos que vivemos no nosso dia a dia. Desse modo, com a abertura e a fala/escuta podemos passar a ter uma nova compreensão desta recordação. Quando a reação é reprimida, permanecemos ligado à lembrança e produzindo o sintoma.

Não somos apenas o que pensamos ser. Somos mais: somos também o que lembramos e aquilo de que nos esquecemos; somos as palavras que trocamos, os enganos que cometemos, os impulsos a que cedemos ‘sem querer’.
 Sigmund Freud

Terapia. Psicanálise. Viagem extraordinária no meu próprio eu a partir da fala.

Deixe seu comentário