Sementes que Germinam

Sementes que Germinam

Minha avó, uma portuguesa severa e de poucas palavras fazia o melhor bolo de laranja com calda que já comi, um bolinho de bacalhau perfeito e seu feijão aromatizava a casa toda. Mamãe era especialista em bolinhos de aipim e bolo de milho, minha tia tinha uma receita secreta de um doce de queijo dos deuses e minha sogra sempre servia croquetes sequinhos e macios. Reunir essas personagens mesmo que na memória é construir um banquete de: sabores, aromas e cores inigualáveis, é perceber o cuidado e a presteza de almas generosas, e é sentir a delicadeza na arte de cozinhar.

Assim acontecia também na fé, onde minha avó era direta com Deus, conversava como a filha mais velha, em um papo reto e direto. Minha mãe já apreciava uma boa novena, a conversa calma e uma vela acesa para dar clareza aos pedidos, enquanto que a tia vibrava junto as energias da natureza. Cada uma dessas observações nos autorizava a livres e diferentes escolhas nas muitas áreas de nossa própria vida.

Se uma contava histórias inventadas, a outra lia contos e poesias, cantarolavam cantigas e criavam momentos de lazer com as palavras e todos que compartilharam esses momentos, compartilharam de sonhos e brincadeiras que perpetuaram em nossas histórias de vida.

Em todos os momentos de nossa vida temos pessoas especiais criando momentos especiais e isso forja nossa personalidade, nossa espiritualidade, nosso caráter, nossas ações e decisões. É no dia a dia essa construção, esses são os laços que nos unem eternamente, mesmo que esses personagens se retirem de nossa história.

Aprendemos quase tudo com o outro, nossos olhares são repletos de interferências, nascemos prontos a aprender na escola da vida. Desde a ética, a tolerância e intolerância, os preconceitos, os julgamentos, a compaixão que sentimos e a alteridade; o outro sempre mexe com nosso eu, pois somos sementes que germinam. As experiências negativas também nos põem a crescer, e como! Lições severas também tem seu lugar no contexto, mas são com dor, de forma mais penosa, nem todas as lições são dignas de serem revisitadas e embora validas, são mais marcas do que memórias.

A comunicação necessita de estímulos e eles acontecem o tempo todo, filtra-los pode organizar melhor os ventos dessa nossa embarcação que chamamos vida. Já dizia Sêneca: “nenhum vento sopra em favor de quem não sabe para onde ir”! Assim precisamos valorizar o passado e nossos antepassados, revisitar nossas raízes vez por outra, mantendo em alta as virtudes que herdamos, observando sempre que a vida é aqui e agora e que está sempre em nossas mãos as possibilidades de crescimento e mudanças. Que a passagem do tempo nos deixa mais sábios, que envelhecer seja privilégio e a vida um presente em 3b: boa, bela e bonita.

Hoje fazemos a comida preferida dos filhos, lemos para nossos pequenos, abençoamos a caminhada do próximo e seguimos deixando memórias a serem lembradas, somos mesmo herdeiros de nós mesmos.

Mariângela Carvalheiro

Psicopedagoga e graduanda em Gerontologia
mariangelamsc@gmail.com

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