Dormir é essencial para a vida, mas muitas pessoas têm dificuldade durante o sono.
Algumas estimativas garantem que pelo menos 60% da população já teriam acordado no meio da noite sem conseguir se mexer normalmente. Esse fenômeno é um mal do sono e tem nome: a ‘Paralisia do Sono’. Ela sempre acaba acontecendo da mesma forma, a pessoa está acordada, sabe o que está acontecendo, mas ela não consegue agir. O indivíduo que tem esse transtorno, simplesmente, não consegue mexer um músculo sequer.
O que é a paralisia do sono?
Todos os meses eu tenho uma experiência aterrorizante no meio da noite.
Eu acordo, mas não consigo me mover, exceto meus olhos. Sinto uma presença pesada sobre o meu peito, apertando o ar dos meus pulmões e garganta. Em seguida, uma figura encapuzada sombria começa a aparecer no canto da visão.
Eu não estou sonhando. E não importa quantas vezes isso acontece, o pânico se instala. Quando criança, eu pensava que o diabo vinha visitar meu quarto.
Agora eu sei que estes sintomas decorrem de um fenômeno do sono chamado paralisia do sono. Embora vários fatores sociais e psicológicos possam influenciar a prevalência da paralisia do sono, uma pesquisa de 2011 combinou 35 estudos com mais de 36.000 participantes. Os autores descobriram que 7,6% da população em geral tem experiências de paralisia do sono, aumentando para 28,3% em grupos de alto risco, como os estudantes que têm um padrão de sono interrompido. E em pessoas com transtornos mentais, como ansiedade e depressão, 31,9% experienciam esses episódios.
“Quando você está experimentando uma paralisia do sono, você se torna consciente”, afirma Daniel Denis, doutorando em neurociência cognitiva e pesquisador do Projeto Paralisia do sono. “A ideia central é que a sua mente acorda, mas o seu corpo não.”
Por que você não consegue se mover?
O sono tem três ou quatro estágios de não-REM (movimento rápido dos olhos) e um estado de sono REM. Enquanto as pessoas podem sonhar em qualquer fase, a fase REM é mais intimamente associada aos sonhos vívidos, que se parecem reais.
O cérebro também permanece ativo durante o sono REM – “quase comparável à atividade do decorrer do dia”, explica Denis. As pessoas ficam naturalmente paralisadas durante o sono REM, provavelmente para impedir a reprodução dos movimentos do sonho, um processo conhecido como atonia REM.
Muitos que acordam durante este estado simplesmente abrem os olhos e rapidamente voltam a se movimentar. Mas aqueles que sofrem uma experiência de paralisia do sono têm “uma espécie de falha no relógio molecular”, como coloca Denis. Por alguma razão, a atonia REM continua depois que você desperta. A maioria dos episódios duram alguns segundos a um minuto, mas em casos mais raros, a pessoa pode precisar de 10 a 15 minutos para recuperar totalmente os movimentos.
Sobre aquele meu amigo sombrio – os pesquisadores não têm as melhores explicações. Para começar, eu poderia estar experienciando a interpretação do meu cérebro de mim mesmo. Os lobos parietais podem estar monitorando os neurônios do meu cérebro, dizendo para meus membros se moverem, de acordo com um estudo da UC San Diego, publicado na revista Medical Hypotheses. Uma vez que não conseguem, o cérebro alucina o movimento pretendido.
Denis explica que o “invasor” também pode ser devido a uma amígdala super-ativa, a parte do cérebro responsável pelo medo (entre outras coisas). “Você acorda com a sua amígdala gritando: ‘Há uma ameaça!’”, Explica. “Portanto, o seu cérebro tem que inventar alguma coisa para resolver o paradoxo criado pela amígdala ativada sem motivo”.
Fase antes de dormir profundamente
Os músculos, durante o distúrbio do sono, acabam paralisados, pois nesse momento acontece a liberação hormonal do corpo. Hormônios de nomes como glicina e gaba são jogados no sistema nervoso e fazem com que acorde não consiga se mexer. Isso apenas acontece na chamada fase REM do sono, que é quando os olhos estão se movimentando bastante rápido. Mesmo fechados, eles continuam a trabalhar. Essa fase é a que antecede o dormir profundo. Os especialistas explicam que, apesar das pessoas se sentirem acordadas, tecnicamente, elas ainda estão dormindo.
As experiências
Um dos primeiros estudos aprofundados sobre a paralisia do sono, em 1999, define as três categorias principais de alucinações na paralisia do sono como “pesadelo”, “intruso” e “experiências corporais incomuns”.
No primeiro caso, as pessoas sentem uma pressão intensa no peito, induzindo a sensação de que não conseguem respirar.
Como observam os autores, a paralisia do sono afeta apenas a “percepção da respiração”. Respirar é um reflexo-base, por isso, na realidade nada separa a pessoa do oxigênio. Ela só se sente assim porque está com medo.
“Quando você está em REM, sua respiração é muito rasa e suas vias respiratórias se tornam bastante restritas, por isso é difícil de respirar”, explica Denis. “Mas quando você se torna consciente disso, pode ser aterrorizante”.
As pessoas que experimentam a segunda categoria, o “intruso”, podem ter “um sentimento de presença, medo e alucinações auditivas e visuais”, observam os pesquisadores. Essencialmente, sua mente inventa uma visão para resolver algum paradoxo que ocorreu no cérebro durante a paralisia do sono. Os autores o descrevem como um “estado hiper-vigilante do mesencéfalo”, o que torna a pessoa consciente até mesmo dos menores estímulos e “tendem a interpretá-los como pistas de ameaça ou perigo”. É por isso que um pequeno som pode parecer horrível para alguém que experimenta uma paralisia do sono.
O ´´intruso´´ e o ´´pesadelo´´ caminham lado a lado. Ambos os sintomas normalmente envolvem os sistemas ativados na amígdala por ameaças, como mencionado anteriormente. Algumas pessoas se referem ao “intruso” e ao pesadelo, relatando que sentiram alguém estrangulando-as, diz Denis. Mas o terceiro tipo de alucinação na paralisia do sono, as “experiências corporais incomuns”, são as mais raras.
Quando a pessoa tem uma “experiência corporal incomum”, ela sente que está tendo uma experiência
fora-do-corpo, levitando ou voando ao redor do quarto, como indica um estudo de 1999. Este terceiro modelo parece estar associado com estágios REM onde o tronco cerebral, cerebelo, e os centros corticais vestibulares são ativados, de acordo com um estudo de 133 pacientes com transtorno do pânico em 2013.
A ponte que inibe o movimento durante o sono, cai nessa etapa, observa Denis. “Você sente como estivesse se movendo, quando na verdade não está, porque a área do cérebro que coordena é hiperativa”, diz ele.
Mitos e folclore
As crenças culturais também influenciam fortemente essas alucinações e experiências, levando à criação de folclores e mitos que podem borrar verdade com ficção. Existem histórias fantásticas. Dê uma olhada numa pintura de 1781, de Henry Fuseli: “The Nightmare”, uma das mais claras interpretações artísticas da paralisia do sono.
Pessoalmente, a minha amígdala superativa evoca imagens do diabo – não me surpreende, considerando que eu cresci numa família cristã. A partir de sua pesquisa, Denis diz que “a cultura ocidental moderna” tende a ver assaltantes, estupradores e aliens.
Quem pode passar por isso?
O corpo, além da ausência de movimentos, pode sofrer com outras sensações, como falta de ar, morte e flutuação. Segundo estudos, pessoas que dormem mal são estressadas ou estão muito cansadas, seja mentalmente ou fisicamente, são aquelas com mais chances de terem o distúrbio. Uso de remédios em excesso e dormir de barriga para cima aumentam as chances de sofrer com a ‘Paralisia do Sono’.
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