“Essa é uma característica dos santos: cultivam a amizade, porque é uma das manifestações mais nobres do coração humano e tem em si algo de divino, como Tomás mesmo explicou em algumas quaestiones da Summa Theologiae, na qual ele escreve: ‘A caridade é a amizade do homem com Deus em primeiro lugar, e com os seres que a Ele pertencem’.” (BENTO XVI)
“Sozinho não sou grande o suficiente para externar em atividade o homem que sou por inteiro”. Eis uma das mais belas afirmações de C.S Lewis acerca da amizade em sua famigerada obra “Os Quatro amores”. Lewis era categórico no pensamento segundo o qual a amizade representa um dos laços íntimos humanos mais necessários para a vida em seu sentido complexo e holístico, desde a esfera social até a dimensão espiritual. Sendo assim, dizia de forma inequívoca: “A amizade não possui valor de sobrevivência; antes, ela é uma daquelas coisas que dá valor à sobrevivência.”
Os pensadores da Antiguidade valorizavam de forma incisiva as relações de companheirismo e de auxílio mútuo entre dois amigos. Platão, Aristóteles e Plutarco discorriam acerca da amizade em suas reflexões e ponderações. Diante do que foi exposto, alguns questionamentos se fazem necessários, tais como: “Será que entendemos o real significado da amizade? (…) será que sabemos quem são nossos verdadeiros amigos?” Primordialmente, cabe frisar que o Amor fraterno representa a dimensão axiológica e valorativa dessa grandiosa relação. Amizade, em essência, representa a união espiritual de duas almas que demonstram um amor recíproco. Desejar o bem do amigo, sobretudo os bens de ordem espiritual, é o fundamento de um companheirismo verdadeiro e autêntico. Por conseguinte, pode-se dizer que a amizade pautada na virtude jamais se esgota. A vida virtuosa deve ser a origem e o objetivo derradeiro da relação que se verifica entre dois amigos.
Ademais, já dizia São Tomás que a autêntica amizade pressupõe o compartilhamento dos mesmos valores e, em última instância, da mesma cosmovisão. Desejar as mesmas coisas e rejeitar as mesmas coisas são traços do verdadeiro amor por trás da amizade. O crescimento na caridade deve ser o fator determinante na união entre os amigos. Destarte, conforme supramencionado, a amizade cujo centro é a virtude jamais se encerra. “A amizade, cuja fonte é Deus, não se esgota nunca”, frisou Santa Catarina de Sena.
A intimidade também é um dos pressupostos para o companheirismo autêntico. A espontaneidade, a ausência de medo em compartilhar as angústias, a total facilidade em reconhecer suas falhas e pedir perdão refletem a intimidade necessária para constituição da magnanimidade presente no companheirismo. Conforme frisava o teólogo e pensador Francisco de Sales, “No mundo é necessário que aqueles que se entregam à prática da virtude se unam por uma santa amizade, para mutuamente se animarem e conservarem nesses santos exercícios”. Portanto, amizade pressupõe serviço, disposição em ajudar e a determinação de sempre carregar as cruzes do companheiro que sofre.
“Qualquer amigo verdadeiro quer para seu amigo: 1) que exista e viva; 2) todos os bens; 3) fazer-lhe o bem; 4) deleitar-se com sua convivência; e 5) finalmente compartilhar com ele suas alegrias e tristezas, vivendo com ele um só coração”. (São Tomás de Aquino)
Por fim, a amizade deve ser útil. Não nos confundamos aqui com a utilidade em termos materiais e efêmeros. A amizade deve ser útil para que cresçamos na justiça, no Sumo Bem, na coragem e na fortaleza. Nada melhor para encerrarmos as reflexões aqui estabelecidas do que uma breve reflexão de Plutarco, a saber: “ Visto que a verdadeira amizade busca, sobretudo, três coisas: a virtude como algo belo; a intimidade como algo doce e a utilidade como algo necessário (pois devemos aceitar um amigo depois de avaliá-lo, ter alegria em sua companhia, ser-lhe útil quando necessita)”.
Material Complementar http://www.arquisp.org.br/vicariatoeducacao/noticias/a-amizade-em-santo-tomas-de-aquino
https://digitalis-dsp.uc.pt/jspui/bitstream/10316.2/2396/9/sobre_a_amizade.pdf?ln=es
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