Vida Erin Zurich: Milhões de pessoas vivem o autismo e não possuem as ferramentas necessárias para poder entender a si mesmo, por esta razão, outros diagnósticos paralelos podem se somar ao TEA, como depressão, vícios, ansiedades e etc.
Sou uma pessoa totalmente avessa aos modismos da atualidade e contrária a tudo o que alguém já conheceu um dia. De todas as frases que mais escuto em minha vida, a campeã – sem dúvida – é: “nunca conheci ninguém como você”.
Bom, até conhecer há poucos dias atrás um rapaz chamado Alejandro, que de longe é o mal entendido em pessoa, e de perto mais ainda. Isto é, quem o conhece apenas de vista vê a ele como uma pessoa mal educada, desatenta, frio e irresponsável.
Quem o conhece mais profundamente interpreta suas atitudes como se fossem atitudes de uma pessoa que “não queima bem”, ou como dizem quem convive com ele: louquinho.
Alejandro não passa de mais um de milhares de autistas que cresceram sem nenhuma estrutura familiar com relação ao autismo, sem diagnóstico e sem conhecimento de suas próprias limitações. Nasceu, cresceu e viveu até agora sem poder entender a si mesmo, e aos demais, em muitos aspectos.
Isto ocorre porque a Argentina é um país muito atrasado no que se refere a saúde mental, e é um dos piores países dos quais já pisei justamente nesse âmbito, já que conheci aqui pelo menos 3 mães buscando fechar o diagnóstico de seus filhos autistas com idade entre 3 e 10 anos, negligenciados por médicos com argumentos que denunciam sua falta de conhecimento, como:
“Eu ia fechar o diagnóstico de seu filho de 3 anos, mas não posso porque como um autista ia pedir colo?”, ou “como posso aceitar que seu filho é autista se ele olha em meus olhos?”, e ainda o argumento que mais detesto: “não existem autistas capazes de responder perguntas.”.
Quando conheci Alejandro, não o queria nem perto de mim, já que, por seu olhar profundo e seu jeito mais antissocial, não podia entende-lo. E, ao observar mais suas atitudes, pude entender que na verdade, estava me olhando no espelho. Alejandro era meu próprio reflexo e por isto que me sentia tão incomodada com sua presença.
Via em suas atitudes justamente o que sou: reservada, intolerante a ambientes com muitas pessoas, a falsidade e muita conversa. Também me retiro, assim como ele, dos lugares sem que as pessoas se deem conta. Se não consigo ficar, não forço meu corpo a passar por algo que depois me gera sobrecarga.
Depois de se reconhecer em mim, Alejandro fez o auto teste de autismo para poder buscar ajuda profissional e, para sua própria surpresa (e de seus amigos), o teste acusou a possibilidade de autismo e orientou a busca por ajuda.
O mais surpreendente, no entanto, não foi que Alejandro se descobriu autista, se não a felicidade ao entender-se e compreender que não estava só, que não é um maluco, que suas atitudes tem mais que ver com suas limitações e características do autismo do que com sua própria personalidade.
Se converteu em um menino, livre para ser o que a vida lhe obrigou a mascarar. E, por falar em mascarar, o termo é mundialmente conhecido dentro do espectro autista como “masking”, que justamente consiste em ocultar características do autismo para que a sociedade aceite ao TEA.