Outro dia assisti a um vídeo em uma famosa rede social, nele, uma jovem aparecia cortando um caderno lindíssimo para que ele coubesse dentro de uma mochila que ela gostava muito. Imediatamente refleti sobre nossas vidas e fui levada a pensar em quantas vezes nós temos que nos diminuir para caber no mundo de alguém. Lembrei das vezes que cortei pedaços de mim para conseguir me encaixar em lugares que eram relativamente pequenos para quem sou.
Andando pela linha tênue entre a arrogância e a objetividade, arrisco dizer que alguns lugares não são para mim. Vou um pouco mais longe e estendo essa reflexão para a vida de algumas pessoas que conheço e vejo que cortam um dobrado para conseguirem permanecer nas vidas de pessoas que não deveriam sequer passar perto.
Parece que, perde-se muito nesses pequenos recortes que fazemos de nós mesmos para nos moldarmos ao outro, e nessas perdas, incluo também parte de nossa essência. Cortamos um pedacinho aqui e lá se foi a preferência de ficar em casa por sair. Mais um corte e descobrimos que tudo bem aceitar um desaforo aqui outro ali, outro acolá.
Um corte mais e descobrimos que não dormimos mais no mesmo lugar da cama e uma dobradinha nesse canto e nos damos conta de que ainda estamos grandes demais para servir no mundo do outro.
Até que um dia nos olhamos no espelho e nem reconhecemos mais a pessoa que reflete ali. Perdemos a maior parte de quem costumávamos ser para conseguirmos nos encaixar. Em um planeta com quase 8 bilhões de pessoas, nos sentenciamos a viver justamente com aquela cuja forma é muito diferente do nosso formato e se alguém tem que ceder, que sejamos nós!
No final do vídeo que citei ao iniciar essa reflexão, a menina que cortou o caderno percebeu que tinha uma bolsa maior e que ela não precisava mais cortar nenhuma folha. Pena que ao descobrir isso, o caderno já não tinha mais espiral, capa e algumas páginas ficaram irreconhecíveis.
Quanto de nossa essência precisará ser podada até entendermos que existem muitas pessoas no mundo e que o destino irá se encarregar de enviar aquela que tem exatamente o nosso formato, sem que seja necessário nos diminuir um centímetro que seja?
Para uma mulher caseira, sempre existe aquele par que adora assistir um filmezinho na televisão ou maratonar aquela série antiga. No caso de um rapaz festeiro, há de surgir um grande amor que ama fazer folia em casa ou na rua. E, no caso dos amantes de livros e do silêncio, não faltarão pessoas que vivem entre dois mundos: o que lê nas histórias e o mundo real.
Fazer as vontades de quem amamos é ótimo. Emprestar um ombro, uma mão e as vezes, a alma. Ruim é quando para isso, é preciso encolher em troca do outro crescer, diminuir em troca do outro aumentar, sumir para o outro aparecer.