Qual é o seu maior defeito?

Qual é o seu maior defeito?

Há pessoas desagradáveis apesar das suas qualidades e outras encantadoras apesar dos seus defeitos.”

François de La Rochefoucauld

Qual é o seu maior defeito?

Por favor, não diga “perfeccionismo”. 

Mesmo porque o perfeccionista é apenas uma maneira de ser socialmente mais aceitável de lidar com a sua baixa valorização.

Responda sem pensar: Qual é o seu maior defeito? Aquele mais vergonhoso que você tem no seu íntimo. Demorou para pensar em uma resposta?  E se essa pergunta fosse feita a você na frente de seus amigos? A resposta passaria por um silêncio constrangedor, pois responder a isso em público, provavelmente o levaria a esconder a verdade para evitar um embaraço.

Sabe por que é tão difícil pensar em nosso grande defeito, em nosso grande desvio de personalidade?

A soberba e a vaidade nos impedem muitas vezes de realizarmos essa autoanálise. Como dizia Sócrates: “Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância.” Por pior que isso seja, somos experts em apontar erros dos nossos amigos, nossos familiares ou pessoas próximas. Honoré de Balzac, escritor francês já dizia: “Estamos habituados a julgar os outros por nós próprios, e se os absolvemos complacentemente dos nossos defeitos, condenamo-los com severidade por não terem as nossas qualidades.”

Não levamos mais do que dois segundos para dar a nossa opinião sobre alguma coisa que nos incomoda ou algum defeito de outra pessoa. Não importa sobre qual amigo ou familiar que eu solicite a você essa informação, você se lembrará do defeito de todos. É muito fácil julgarmos as outras pessoas e não olharmos para o nosso próprio mundo. 

Odiamos nos outros o que não conseguimos suportar em nós mesmos. Quando nós descobrimos odiar alguma coisa nos outros devemos parar e verificar se tem algo parecido em nós. Às vezes, a cura do nosso ódio pelas outras pessoas começa com um exame sincero do que guardamos no nosso inconsciente. O ódio aos outros frequentemente é sintoma de uma ferida interna em nós mesmos.

“Não fales bem de ti aos outros, pois não os convencerás. Não fales mal, pois te julgarão muito pior do que és”, disse sabiamente Confúcio. Hoje estou rodeado por semideuses. Pessoas que nunca erram e que têm enorme orgulho de dizer que não mentem. Amados, todo mundo mente. Essa é uma verdade irrefutável. Como disse Martinho Lutero: “Todo o pecado é um tipo de mentira.”

O medo e a falta de personalidade te levam a viver para se encaixar naquilo que esperam de você, buscando aceitação de amigos e familiares. Esse desejo de ser aceito por todos te faz covarde por que não mostra o que voce quer e nem que voce é.  Dessa forma existe uma anulação do seu “eu”.

A sua vida inteira acaba sendo uma mentira. Sua existência vira uma fralde e assim o seu defeito mais crítico acaba se tornando o seu modo de vida. 

“Nós somos, em nosso mundo real e cotidiano, muitas vezes semelhantes às máscaras da Comédia e da Tragédia, rindo por fora, e uma careta de dor por dentro”. afirmou Stephen King, escritor americano.

Ter uma máscara é a maneira que dispomos para disfarçar as nossas vulnerabilidades ou exponencial as nossas forças para sermos mais admirados ou amados. Colocar máscaras é a estratégia que utilizamos quando interagimos com o nosso grupo social, sejam amigos ou colegas. O que quero dizer é que muitos dos nossos comportamentos no trabalho podem não ser o mesmo que temos com os nossos grupos de amigos ou com os nossos familiares. No fundo a insegurança é a antítese a compensação. Quanto mais compensamos uma coisa mais precisamos dela. 

E como voce utiliza as redes sociais? Colocando fotos felizes, lugares lindos, todo mundo sorrindo. Nada de tristeza, nada de problemas. Nenhuma crise no casamento. Nenhuma crise  no trabalho ou sem ele. Nenhum problema familiar. Vício em drogas ilegais nem pensar. Vício em drogas legais também não. Problemas financeiros na família, não. Fotos de quando voce apanha do seu marido, de jeito nenhum. Fotos suas vendo vídeos pornográficos no seu celular enquanto sua esposa está em casa preparando seu jantar, acho improvável. Voce mostrando uma foto sua com a sua amante,  não.  Seu filho cheirando cocaína dentro do quarto, pouco provável. Voce com o seu psiquiatra durante  um tratamento para depressão,  possível que também não. Mas o que normalmente expomos nas redes sociais nada é uma máscara do que somos. Mais uma máscaras das várias que usamos no nosso dia a dia.  Mostramos fotos felizes e alegues porque precisamos que as pessoas nos falem como nossa vida é linda, porque como já frisei, não acreditamos nisso. 

O grande problema em usar tantas máscaras diferentes é que chegará o tempo em que quando estivermos sozinhos vamos tentar tirar essas máscaras e infelizmente nunca chegaremos ao nosso verdadeiro eu. Perderemos nossa identidade.

Eu sou mentiroso, chato, ingrato, às vezes insuportável. Algumas vezes egoísta e prepotente. Às vezes pego emprestado e não pago e por não gostar de despedidas, muitas vezes saio de cenas sem ao menos dar um adeus. Mesmo assim não sou nenhum sociopata.

Estou cansado de lidar com semideuses a minha volta, parafraseando Fernando Pessoa.

Não somos super-heróis nem semideuses que, quando passam por situações que provam o caráter, dão valor a isso. Então valorize a pessoa que você é. Não tente se esconder atrás de títulos ou rótulos, seja verdadeiro em tudo. Transpareça isso para seus amigos e familiares, sem medo de admitir seus defeitos, seus problemas, suas dificuldades. 

Não estou dizendo para você emitir opiniões sobre assuntos que não lhe dizem respeito, mas para se revestir de uma armadura de humildade e ser sincero no que diz respeito a voce mesmo. 

Por mais difícil que possa ser, seja verdadeiro e mostre quem realmente você é. Mas mostre isso para as pessoas que acredita que merecem a sua verdade. “Para conseguir a amizade de uma pessoa digna é preciso desenvolvermos em nós mesmos as qualidades que naquela admiramos”, disse Sócrates.

Dessa maneira você terá a certeza de ser amado pelo que é e não pelo que tem. Deixará de ser um deus para se tornar um servo. E quando um deus se alinha a seus súditos ele se torna muito mais admirado e amado. Consequentemente terá nas suas amizades um reflexo da sua imagem, o que o tornará muito mais humano, louvável e crível.

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