Psicologia Intercultural

Psicologia Intercultural

Atualmente, uma das áreas da psicologia que mais vem crescendo em importância é a Psicologia Intercultural (Cross-cultural Psychology), a qual se responsabiliza por estudar as variações comportamentais observadas em seres humanos, levando em consideração fatores culturais que podem exercer influência sobre estes.

Na década de 70, Eckensberger (1972) definiu essa área como “a comparação explícita e sistemática de variáveis psicológicas em condições culturais distintas, com o intuito de avaliar os processos e antecedentes que mediam o surgimento de diferenças comportamentais”. Uma definição mais atual, oferecida por Berry et al. (2002), segue:

“Psicologia intercultural é o estudo de: similaridades e diferenças entre o funcionamento psicológico em diversas culturas e grupos étnico-culturais; das relações entre variáveis psicológicas, sócio-culturais, ecológicas e biológicas; das constantes transformações dessas variáveis”

Objetivos

O principal objetivo da psicologia intercultural é de identificar e analisar a generalidade de teorias e modelos psicológicas já conhecidos (Dawson, 1971; Whiting, 1968), ou seja, pesquisadores tem o intuito de testar teorias confirmadas e validadas em um contexto cultural específico, normalmente ocidental, em outras culturas e determinar se é possível aplicar a mesma teoria para estudar as duas populações (Berry & Dasen, 1974).

Um segundo objetivo seria de explorar e estudar culturas pouco conhecidas, identificando variações psicológicas e culturais que não estão presentes em nossa própria.

Por fim, o último objetivo dos estudos psicológicos interculturais é de integrar o conhecimento oriundo dos primeiros dois objetivos, formulando teorias e modelos universais, os quais poderiam ser válidos em uma diversidade de culturas.

Perspectivas

Berry at al. (1992) destacam três orientações gerais que forma propostas ao longo do tempo para conduzir estudos interculturais:

  1. Absolutismo: Os fenômenos psicológicos são qualitativamente os mesmos em todas as culturas humanas, ou seja, o papel que a cultura desempenha no funcionamento psicológico de seres humanos é minimizado. Estudos que assumem essa perspectiva, normalmente, se utilizam de instrumentos padrões que não foram validades e adaptados para outra cultura.
  2. Relativismo: Ao contrário do absolutismo, essa perspectiva sugere que todo comportamento humano é moldado pela sua cultura, e evita interpretações etnocêntricas ao buscar compreender o indivíduo em seu ambiente particular.
  3. Universalismo: Essa perspectiva assume um meio termo, considerando tanto variáveis culturais, quanto a universalidade de certos comportamentos humanos

A psicologia intercultural apresenta uma grande interdisciplinaridade com outras disciplinas que se ocupam com a descrição, análise e compreensão de grupos e populações:

  1. Biologia: a qual oferece informações sobre a estrutura e funcionamento do organismo humano
  2. Psicologia geral: a qual estuda o ser humano no laboratório e em contextos naturais
  3. Antropologia: a qual enfatiza métodos naturalísticos e observacionais

A grande limitação: Etnocentrismo

A constatação de diferenças entre grupos étnico-culturais pode levar estas a serem consideradas como deficiências de uma população específica, algo que remete ao forte etnocentrismo no meio acadêmico. De acordo com Sumner (1906), etnocentrismo se refere à “tendência de considerar seu próprio grupo como mais positivo e o padrão com o qual todos os outros grupos devem ser comparados e hierarquizados”.

Por esse motivo, nas ciências humanas e sociais, é extremamente importante garantir sua imparcialidade e manter uma posição neutra em relação aos grupos estudados. Os três principais problemas causados pelo etnocentrismo são: (1) utilização de instrumentos, criados para uma cultura específica, em culturas consideravelmente distintas; (2) escolha de tópicos de pesquisa de forma enviesada; (3) desenvolvimento e formulação de novas teorias.

De acordo com Nisbet (1971), a própria noção de utilizar métodos comparativas é profundamente etnocêntrico, e “é apenas outra forma de hierarquizar outras culturas em relação à europeia”.

Para finalizar esse artigo, ressalto que o desenvolvimento de abordagens para o estudo de culturas não-ocidentais e não-européias vem recebendo crescente interesse, as quais são agrupadas sob a área da Psicologia Indígena (Indigenous psychology)

Referências

Berry, J. W., & Dasen, P. (Eds.) (1974). Culture and cognition. London: Methuen.

Berry, J., W. (1992). Acculturation and adaptation in a new society. International Migration, 30, 69–85

Eckensberger, L. H. (1972). The necessity of a theory for applied cross-cultural research. In L. J. Cronbach & P. J. D. Drenth (Eds.), Mental tests and cultural adaptation (pp. 99–107). The Hague: Mouton.

Nisbet, R. (1971). Ethnocentrism and the comparative method. In A. Desai (Ed.), Essays on modernization of underdeveloped societies (vol. I, pp. 95–114). Bombay: Thacker.

Sumner, W. G. (1906). Folkways. New York: Ginn & Co.

Whiting, J. W. M. (1968). Methods and problems in cross-cultural research. In G. Lindzey & E. Aronson (Eds.), Handbook of social psychology (vol. II, pp. 693–728). Read- ing, MA: Addison-Wesley.  

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