PSICANÁLISE PARA ESQUECER?
Esquecer-se do passado? O presente é apenas um emolduramento imaginário do decorrer temporal constante. Não há paradas no tempo e, por isso, a ideia de presente é uma limitação imaginária. O futuro é apenas um vislumbre com base nas memórias, que são passado, junto a desejos de absoluta perfeição, que são o vislumbre do futuro. Não estamos no futuro e nunca estivemos lá, de fato, a não ser pelo vislumbre, baseado nas experiências passadas.
O que somos? Passado! O decorrer temporal, que limitamos em emolduramentos imaginários e chamamos de presente, é mera construção do passado, que é o que somos. O que sabemos, o que sentimos, o que limitamos como presente e o que vislumbramos como futuro, é apenas passado.
Esquecer-se do passado seria fazer “endotomias dos imagos memoriais”, formadores da própria pessoa. Seria deixar de ser um Ser já existente e em processo avançado de (re)construção.
A Psicanálise não tem e nem pode ter a função de provocar amnésia e nem apatia sobre os sentimentos provenientes das experiências, que são passadas. A Psicanálise se fundamenta no propósito de provocar o autoconhecimento, pelas vias do conhecimento, para que a própria pessoa aprenda a lidar consigo, fazendo com que as emoções sejam potência das ações, mas não comandantes das mesmas. A razão, então, assume o agir e controla as emoções pela percepção que a pessoa passa a possuir sobre os reais perigos e vantagens que seriam mal interpretados pela mera passionalidade; pelas pulsões.
A Psicanálise promove a compreensão de que a existência é constituída de constantes conflitos e, concomitante a isso, pelas vias do conhecimento e do autoconhecimento, faz com que a pessoa se sobressaia nas situações que as pessoas medianas entrariam em desespero ou até mesmo em pânico.
A Psicanálise demonstra que não há mal e nem bem absolutos; nem verdades e nem mentiras… que os opostos, mesmo podendo de alguma forma serem absolutos em potência, podem e devem ser relativizados subjetivamente; que devem ser utilizados estrategicamente em cada situação, sem que para tal, deixe de existir a compreensão e os sentimentos de bondade (empatia) e de maldade (apatia).
A Psicanálise não é uma máquina de amnésia. Pelo contrário! É uma máquina de provocar lembranças e de ensinar a lidar com elas e com as próximas e inevitáveis situações desagradáveis que são inevitáveis a todos os Seres humanos.
Entregar-se à Psicanálise é rasgar-se e aceitar que o que está feito é imutável e que, mesmo com as potências negativas, podem, tais experiências, se tornarem potências de construção. Sobre as memórias? Sim, elas sempre estarão presentes, mas a cada momento evolutivo, menos dominadoras, porém, significativas para a própria identidade da pessoa. Em algum tempo, as experiências ruins se tornam meras lembranças, sem dominações emocionais. Somente lembranças… algumas, saudosistas, mas todas, ferramentas existenciais para uma melhor evolução pessoal e de aumento de potência para proporcionar boas coisas à pessoa e ao Todo.
Autor: Carlos Alexandre Costa Leite
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