Nós temos muitos ditados populares que soam como obviedades. Um dos mais antigos é: “Pau que nasce torto morre torto”. Essa máxima serve inclusive para advertir pessoas e para dizer que não há saída para algumas situações; se é daquele jeito é daquele jeito.
Poucas vezes se faz um elogio a essa característica que o pedaço de madeira pode ter.
O poeta paranaense Eno Teodoro Wanke (1929-2001) consegue nos tirar do senso comum. Ele diz: ‘Vejamos o pau que nasce direito. Vira o esteio de casa. Passa a vida toda sustentando um telhado qualquer sem descansar um minuto. Só deixa de trabalhar quando roído pelo tempo, pelo cupim, pela podridão ou incêndio. Se abate e não serve mais para nada, a não ser para uma chaminha na lareira. Pau que nasce torto, não. Pau que nasce torto é, no mínimo, um lindo enfeite”.
Olha como alguém é capaz de pegar algo que pareceria absolutamente óbvio como a frase: “Pau que nasce torto morre torto”, sendo uma advertência de uma coisa negativa, e transformar a ideia, mostrando que o pau que nasce direito tem apenas serventia e não embeleza, e um dia se tornará inútil, mas como disse Eno Wanke, pau que nasce torto pode até virar enfeite.
Claro que a beleza desta construção não está, evidentemente, no campo da ética, do costume, mas está na possibilidade de inventar em cima da estética.
Coisa boa.
Texto escrito pelo…
Mario Sergio Cortella
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Mario Sergio Cortella é um filósofo, escritor, educador, palestrante e professor universitário brasileiro mais conhecido por divulgar questões sociais ligadas à filosofia na sociedade contemporânea.
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