O objetivo desse texto é de apresentar brevemente os principais acontecimentos que iniciaram a emergente área da Psicolgoia do Esporte, seus pioneiros tanto ao redor do mundo, quanto em nosso próprio país, de forma a subsidiar o leitor com o mínimo para compreender aspectos mais complexos dessa sub-área da Psicologia.
A psicologia experimental nasce com a publicação da obra ‘Principles of Physiological Psychology’ pelo alemão Wilhelm Wundt, o qual, adicionalmente, estabeleceu o primeiro laboratório experimental de psicologia. Muitos outros nomes importantes influenciaram a ciência psicológica com o passar dos anos, por exemplo Weber, Helmholtz, Ebbinghaus, Titchner, Galton, Cattel, Binet, entre muitos outros.
A Psicolgia do esporte e exercício, especificamente, se inicia no laboratório da Universidade de Yale, liderado por Edward Wheeler Scripture, o qual estava interessado em medir o tempo de reação humana para determinadas tarefas. Outro nome muito importante, considerado por alguns como o verdadeiro pioneiro em pesquisas envolvendo esporte e psicologia, é Norman Triplett, o qual desenvolveu um projeto de mestrado referente à performance de ciclistas pedalando sozinho ou com a presença de outros, e concluiu que outros ciclistas o faziam melhorar sua performance.
Por último, o grande nome da psicologia do esporte nos Estados Unidos, Coleman Griffith, revolucionou a área da Psicologia do Esporte e Exercício, principalmente ao aproximar pesquisa e prática. Este profissional foi contratado pelo time de baseball Chicago Cubs com o objetivo de aprimorar a performance de seus jogadores, porém devido a incapacidade de compreensão e falta de disciplina por parte de técnico e jogadores, os resultados obtidos não foram satisfatórios.
Enquanto isso, na União soviética, nomes como Avksenty Tcezarevich Puni e Piotr Antonovich Roudik avançavam conhecimentos referentes à Psicologia do Esporte e Exercício, porém essa trajetória é menos conhecida devido à dificuldade de difundir suas pesquisas em um clima de Guerra Fria.
No Brasil, a importância da psicologia para atletas já era aparente na década de 30, devido à publicação de artigos por médicos, educadores e militares, por exemplo “A Educação Física sob o ponto de vista psicológico”, de Airton Salgueiro de Freitas, militar que exerceu funções dentro da Escola de Educação Física do Exército, além de ter sido técnico do pentatlo brasileiro nos jogos Olímpicos de 1948, em Londres.
A Psicologia do Esporte seria influenciada por um número de outras áreas, como Medicina, Fisiologia (RÚBIO, 2000), Ciências do esporte, Filosofia, Antropologia, etc, porém ainda em seu estado embrionário foi convocada para auxiliar a Educação Física a produzir figures ideais para o Brasil (CARVALHO; JACÓ-VILELA, 2009), provavelmente relacionado ao exército.
Nos anos 50, o pioneiro, e principal nome da Psicologia do Esporte no Brasil, João Carvalhaes. Inicialmente atuando na área de Psicologia Organizacional e Psicotécnica, eventualmente Carvalhaes começaria a atuar diretamente no esporte, sendo que em 1954 foi responsável por uma unidade da Federação Paulista de Futebol de avaliar e selecionar árbitros (WAENY; AZEVEDO, 2006). Nessa mesma época, foi contratado pelo São Paulo Futebol Clube para oferecer serviços psicológicos aos atletas, porém, igual ao pioneiro americano Griffith, foi questionado pela mídia e dirigentes esportivos da época.
Em conclusão, podemos perceber que a emergente área da Psicologia do Esporte enfrentou diversas barreiras, muitas das quais continuam até hoje, como a desconfiança daqueles em posição de liderança em clubes esportivos. Essas dificuldades não são surpreendentes quando consideramos a cultura machista que prevalece dentro do esporte, principalmente no futebol, no qual um atleta que busca suporte psicológico pode ser visto como fraco.
A psicologia do Esporte e Exercício representa uma área multidisciplinar, se inspirando em diversas outras áreas de humanidades e biológicas, ainda está em seu início e ainda faltam muitos ajustes a serem feitos na forma de se fazer pesquisa, sua metodologia, paradigmas, etc. Sem compreender de onde surge a área, dificilmente teremos algo a contribuir para seu progresso.
Referências:
CARVALHO, C. A.; JACÓ-VILELA, A. M. Psicologia do Esporte no Brasil em dois tempos: uma história contada e uma história a ser contada. In: XV Encontro Nacional da ABRAPSO, 2009, Maceió-AL. Anais De Trabalhos Completos – XV Encontro Nacional da ABRAPSO, 2009.
HASSMÉN, P.; KEEGAN, R.; PIGGOTT, D. Rethinking Sport and Exercise Psychology Research. [s.l.: s.n., s.d.].
PODOLAN, K.; MENDES, O. P.; PEDROSO, S. M. D et al. Psicologia do Esporte. In: XV JORNADA CIENTÍFICA DOS CAMPOS GERAIS, 2017, Ponta Grossa-PA.
RÚBIO, K. Psicologia do esporte: interfaces, pesquisa e intervenção. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.
WAENY, M. F. C.; AZEVEDO, M. L. B. João Carvalhaes: pioneiro da Psicologia do Esporte, 2003. Disponível em: <http://www.crpsp.org.br/crp/memoria/pioneiros/carvalhaes/fr_carvalhaes_artigo.aspx>. Acesso em: 02 de jul. 2009.
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