Em 1913, Freud foi convidado pelo Redator-Chefe da revista científica italiana SCIENTIA a escrever um artigo apresentando as contribuições da Psicanálise para outras ciências.
O resultado foi um texto magnífico em que Freud praticamente resume o conjunto das descobertas que ele e seus alunos haviam feito até aquele momento.
A última seção desse artigo se chama “O interesse educacional da Psicanálise”.
Nela, Freud não fala de relação professor-aluno, aprendizagem, cognição… nada disso.
O foco dele não é a educação escolar, mas a educação familiar, aquilo que a gente costuma chamar aqui no Brasil de CRIAÇÃO.
Freud destaca que o grande problema com a forma como os pais tradicionalmente criam seus filhos é que ela não leva em conta as particularidades do psiquismo infantil.
Por força da inevitável amnésia infantil, os pais esquecem como se comportavam quando crianças e, assim, tratam as tendências e manifestações naturais dos filhos como se fossem impulsos anormais que precisam ser severamente reprimidos.
O resultado de uma criação desse tipo será fatalmente a NEUROSE, essa forma de adoecimento emocional em que o sujeito desperdiça a maior parte da sua preciosa energia psíquica se defendendo dos próprios desejos.
— Beleza, Lucas, entendi. Mas qual alternativa Freud apresenta para os pais? Deixar a criança fazer tudo o que quiser? Não dar limites?
Não, caríssimo leitor. Freud não está advogando uma educação do tipo “libera geral”, em que os pais se eximem do seu papel de grande Outro e deixam a criança entregue aos próprios impulsos.
— Uai, Lucas, mas você não acabou de falar que ele era contra uma educação repressiva?
Sim, perfeitamente. Mas é que não existem apenas esses dois pólos, caro leitor. Para-além da criação libertina e da criação repressiva, existe outra forma — saudável — de educar.