Não sou pró-Lula, não sou pró-Bolsonaro, não sou pró-políticos, mas sim, pró-política.
Estamos em um nível de intelectualismo político bem condizente com aquela conhecida frase: “pessoas de intelecto mais desenvolvido falam sobre ideias; pessoas com intelecto mediano falam sobre coisas e, pessoas com intelecto sub-desenvolvido (por opção), falam sobre pessoas”. Claro que é uma metáfora e não uma diminuição da condição humana “in natura”, mas sim, diminuição do potencial, por opção.
Falar sobre política é falar sobre gestão. Perceber e reconhecer problemas, descobrir causas e efeitos, criar estratégias de combate e estratégias de manutenção. Partidos políticos devem, necessariamente, divergir sobre prioridades e formas de gestão. O sistema, como o próprio nome diz, é um conjunto de elementos encadeados que se ligam, quando um elemento sempre irá interferir no outro. Saúde, educação, segurança, lazer, sociedade, administração, direito… tudo isso não pode ser tratado de forma isolada. É um conjunto, necessariamente. Partidos políticos atualmente usam de separatismo elementar, isto é, buscam defender um elemento necessariamente essencial ao conjunto, como se fosse ser resolvido apenas em si e que, os demais, sem serem tratados como elementos harmônicos, fossem se resolver por milagre.
Política não se resume em decisões de um ser humano ou de um partido. Temos tripartição de poderes e divergências políticas resolvidas em votação. Os debates, se assim podemos chamá-los, são referentes a dizeres, a condutas e sobre a simpatia por uma pessoa e/ou partido. Nada sobre gestão, de fato.
Não há a compreensão de que não existe perfeição constante; de que não existem decisões que não implicam em consequências positivas e negativas; que cada ser humano é único e, por este motivo, as cosmovisões levam a afirmações de melhor e de pior método, mas que para muitos dos demais, são absolutamente questionáveis.
Debater política é debater gestão e não falar, ‘prioritariamente’, sobre pessoas, demonstrando seus defeitos e suas qualidades como sujeito e indivíduo, pois as suas qualidades não decidirão projetos e ações políticas e legais em si. Sempre dependerão de outros sujeitos-indivíduos.
Separamos-nos em uma nação, como grandes felinos em uma única jaula. Ficam rosnando um para os outros e quando se aproximam, se agridem.
Retornamos ao período pré-socrático, quando o sofismo era a única forma de argumentação. Estamos em uma nação-ágora, onde a democracia travestida de diferente à sua forma original, se encontra travestida de positiva em uma falsa sociedade livre. O sofismo e a ágora se refinaram. Os cidadãos de outrora, deram na legalidade atual uma falsa sensação de liberdade e, o sofismo, se espalha nas mentes dos que se julgam livres em uma sociedade livre-opressora, pseudo equilibrada pelas leis. E aí está a dialética, mas não uma dialética platônica, mas sim, uma instrumentalização da mesma para beneficiar o estado-ágora com o seu neo-sofismo.
Girondinos e Jacobinos, direitistas e esquerdistas que tomam como Assembleia Nacional Francesa a Nação Brasileira, mas sem nem mesmo saberem de suas reais posições e o que defendem de fato. Mais um manto de pseudo ações honrosas cobrindo o sofismo dos cidadãos atenienses, hoje chamados de políticos. Os não-cidadãos, hodiernamente, são aqueles que se julgam cidadãos; povo, dotado de direitos e de deveres, atribuindo-se relativo senso crítico, mas dominados pelos cidadãos atenienses, chamados hoje de políticos e que, aprenderam a usar o sofismo com uma pitada de gramscismo, em ambos os chamados lados, pois não há diferença entre os sinhosinhos, mas entre os escravos, que foram divididos em etnias inimigas, mas que têm de coexistir na mesma senzala e dividindo o mesmo tronco. “Apanha nêgo véi que acha que é sinhô, seja favelado ou dotô”!
Qual futuro podemos esperar de um povo que é incapaz de reconhecer benefícios reais daqueles que, mesmo não sendo admirados como pessoas comuns, tiveram boas e más ações políticas? O que podemos esperar de um povo que afirma a incompetência de pessoas apenas pela antipatia pessoal? Que esperança podemos ter em pessoas que se pautam no engodo, principalmente em redes sociais, para denegrir imagens de pessoas ao invés de trabalharem em projetos de gestão, demonstrando maior eficácia que os dos rivais e, ainda escoram suas ações mesquinhas em verdade e justiça, mesmo nunca tendo parado para uma reflexão sobre o significado destes termos? Desde sempre tivemos ações políticas positivas e negativas, quando em alguns casos uma se sobressaia mais que a outra, mas não deixando de existir bons e maus resultados, independente de seguimento político.
Estamos criando novas gerações que não conseguem diferenciar boas e más ações políticas de pessoas comuns, dotadas de bons e de maus pensamentos, levando a boas e mas ações, gerando bons e maus resultados. Necessitamos demonstrar às novas gerações como funciona a política realmente, com aspectos sociais, de gestão, jurídicos e a totalidade que representa. Necessariamente, devemos demonstrar que não temos um sistema totalitarista unitário, onde uma pessoa com características de imperador, tem condições e atribuições para decidir por si. Vivemos um pensamento político com “complexo de messias” (sem trocadilho), quando achamos que uma pessoa irá salvar a nação prometida como se tivesse vários braços em si (sem trocadilho).
Não me sinto à vontade para falar sobre política com muitas pessoas. São poucas as que reconheço com capacidade e tolerância para tal, mesmo que sejam partidárias. Ser partidário não implica em ser desconectado da totalidade de ações e do que é um governo, mas sim, saber sobre as formas de gestão propostas pelos partidos, compreendendo totalidade social. Partidos não devem ser ideológicos, pois ideologia é um elemento para áreas específicas, colocadas dentro da totalidade dos elementos componentes de um todo que será gerido por estratégias específicas. Todo e qualquer partido, na atualidade, se tornou celeiro de ideologias. Como crer que a dominação comportamental, baseada na formação de ideias específicas pode ser benéfica a uma totalidade heterogênia?
Creio não ser algo que me seja possível usar de meus sentidos, mas que apenas posso vislumbrar. Este algo é a condição de uma nação, de fato. Com conflitos comuns, mas com solidez na convivência e na resolução dos inevitáveis conflitos, que são característicos dos seres humanos.
Uma melhoria depende das pessoas e não de sistemas ilusórios e milagrosos. A melhoria cabe ao processo interno de cada um que se dê o presente de perceber a fatualidade e de se separar de mesquinharias e debates vazios e violentos, defendendo pessoas ao invés de planos de gestão. Defender ou acusar alguém não é defender uma gestão, pois esta não depende somente de uma pessoa. É inevitável falar sobre pessoas do meio político quando falamos sobre política, mas estas não devem ser o centro dos debates. Devem se diminuir a sua insignificância na aplicação da gestão.