Segundo o grande filósofo contemporâneo Giovanni Reale, a cosmovisão mais perigosa e nefasta da contemporaneidade é o niilismo, isto é, a descrença nos princípios universais, ou melhor, a negação de valores absolutos e a afirmação da impossibilidade da contemplação da Verdade. Nas palavras do filósofo supracitado, “Em minha opinião, a raiz de todos os males que atingem o homem hoje encontra-se exatamente no niilismo”. De certa forma, interpretações niilistas tendem a visões fatalistas da realidade, baseadas, fundamentalmente, na ausência de uma esperança sólida na busca pelo sumo bem e na renúncia de si mesmo em prol das virtudes.
Numa primeira análise, é importante frisar que concepções fatalistas reivindicam para si mesmas uma perspectiva de sabedoria pautada numa postura de descrença na humanidade, todavia, tal descrença acaba por abarcar uma rejeição aos princípios e valores morais elementares. Nesse sentido, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, grande expoente do niilismo, dedicou um grande esforço em derrubar os pressupostos éticos da filosofia grega e da cosmovisão cristã, marcadas, sobretudo, por um ideal teleológico, segundo o qual a realização da natureza humana se dá na felicidade, advinda da busca pelo bem mediante a observância das virtudes. Infelizmente, a predominância do fatalismo nas mentalidades contemporâneas enfraqueceu os pilares de uma visão ética centrada na teleologia.
Diante dos fatos supracitados, é eminente reiterar que a sabedoria, na tradição filosófica, está atrelada aos ideais de contemplação, de busca pela verdade e pelo bem. Desse modo, dizia o pensador Santo Agostinho: “Sabedoria é o conhecimento intelectivo das realidades eternas”. Por certo, a consciência da tragédia da condição humana, marcada pela finitude e pela presença do sofrimento, representa um dos elementos da sabedoria e da maturidade, que não se encerram no pessimismo e no fatalismo. Destarte, o homem sábio compreende, de forma humilde, as contingências da existência humana e a maldade presente no mundo, mas enfrenta tais limitações e obstáculos com coragem e esperança, tendo em vista o bem maior, ou seja, o Sumo Bem, que se encontra na caridade, no amor fraterno e na abdicação da vontade particular em prol de valores atemporais.
Portanto, a genuína sabedoria está vinculada a uma esperança firme nas virtudes, cuja prática deve ser valorizada e estimulada a despeito das tragédias e do sofrimento. Por esse motivo, o niilismo representa uma cosmovisão potencialmente destrutiva, pois retira do homem sua coragem verdadeira e o restringe a uma felicidade individualista, sem valores atemporais e sem finalidades derradeiras e altruístas. Certamente, a constância em fazer o bem e a firmeza em lutar sempre pelo melhor tipificam a maturidade verdadeira. Enfim, não se trata somente de possuir uma descrença na humanidade, mas lutar para que a caridade prevaleça, ainda que a derrota seja certa.