“Nós criamos ordem na sociedade começando por criar ordem na nossa consciência”, dizia Eric Voegelin. Por certo, o pensador reitera, na frase supramencionada, o papel nevrálgico do indivíduo na realização do bem na sociedade a partir de seu agir moral individual e, sobretudo, da consciência de sua responsabilidade com o próximo. Contudo, é comum notar, em muitas falas do cotidiano, os cidadãos atribuírem tão somente ao Poder público o encargo de solução dos problemas que assolam a comunidade, como se o Estado fosse uma espécie de divindade capaz de assegurar a ausência de empecilhos para a vida civil, entretanto, trata-se de uma visão, a longo prazo, perniciosa, pois contribui para a abolição da própria concepção sociológica e axiológica de “cidadania”. Daí a eminência do voluntariado para a moral social em sua dimensão holística.
Além disso, para muitos pensadores, ser cidadão é zelar pelo bem na esfera comunitária, ou seja, na zona das relações sociais mais próximas, tal como na esfera municipal. Destarte, é imperioso frisar, que o agir moral individual de caridade para com o próximo é imprescindível para o bem comum, já que demonstra a força da cidadania. Sendo assim, o voluntariado é uma expressão dos princípios e valores elementares do exercício da cidadania. Inquestionavelmente, pequenos atos de caridade importam, em última instância, mais do que ações estruturais do Estado. Pequenos gestos de bondade e amor contagiam, influenciam e estimulam inúmeras pessoas, contribuindo para uma espécie de “imaginação moral social”. Já dizia o personagem Gandalf, em O Hobbit, “Saruman acredita que apenas um grande poder pode conter o mal , mas não é o que descobri. Descobri que são as pequenas coisas, as tarefas diárias de pessoas comuns que mantém o mal afastado, simples ações de bondade e amor”.
Ademais, o voluntariado ajuda na preservação da democracia. Conforme apontado pelo pensador francês Alexis de Tocqueville, o individualismo exacerbado é o inimigo central da democracia. O pensador, em questão, buscava frisar a eminência da participação dos cidadãos na concretização do bem comum. O perigo, dizia ele, surge quando os indivíduos atribuem unicamente ao Estado as funções de promoção de toda a ordem moral e a solução de todos os problemas oriundos da vida social. Destarte, o resultado seria a intromissão gradativa do poder público em todas as esferas da sociedade, favorecendo, por conseguinte, a ascensão de despotismos funestos. Sendo assim, percebe-se que, na visão de Tocqueville, o voluntariado é um instrumento de preservação dos valores democráticos.
Enfim, é imperioso frisar a responsabilidade individual na preservação do bem comum, já que somente o agir moral consciente e cotidiano pode contribuir para a consolidação das virtudes na sociedade, pois o Estado não é o guardião da moralidade e, certamente, não é o Poder Público a salvação da vida civil. Certamente, o voluntariado está na base axiológica da cidadania e tipifica a eminência do agir moral individual na propagação dos valores de justiça e retidão. Em última instância, pode não parecer de forma tão clara e explícita, mas são as pequenas ações de caridade as guardiãs do bem comum. Por fim, o trabalho voluntário importa e os pequenos gestos de bondade são fundamentais.