O uso do trabalho como recompensa

O uso do trabalho como recompensa

Com o início da revolução industrial e a chegada do capitalismo, o homem conheceu a
busca desenfreada pelo lucro, pelo dinheiro e pelo poder. A sociedade tornou-se uma sociedade cada vez mais consumista e a ideia de luxo e poder ficou diretamente relacionada aos bens materiais em que o indivíduo possui. Desta vez, a pessoa não necessitaria mais de um título de nobreza para se destacar perante aos outros, bastava ter dinheiro para comprar o que quisesse, inclusive pessoas. O poder de compra se limitava à poucas pessoas, a grande maioria era assalariada, com remuneração extremamente baixas , deixando um lucro cada vez maior para a nata da sociedade. Novamente a sociedade era dividida entre os detentores de poder e os discriminados. Esse modelo capitalista que perdura até hoje é o que nos faz comprar um aparelho celular que vale o preço de uma moto, uma bolsa que vale o preço de um carro, um carro que vale o preço de uma casa; enquanto a grande maioria não tem casa, nem carro, nem celular, nem o que comer! Pessoas trabalhariam uma vida inteira e não conseguiriam comprar nem o pneu do carro que uma celebridade usa. Plano de saúde de um indivíduo vale a renda salarial de uma família inteira! E como viver sem plano de saúde neste País? A maioria das pessoas vivem. E morrem também pelo mesmo motivo.


Análogo a isto, fomos educados desde crianças a competirmos entre nós mesmos, uns
com os outros, pois sabemos que pertencer à nata social é algo para poucos. Ou vem de berço ou precisamos nos esforçar muito para alcançar. Essa ânsia por poder, para estar acima dos outros, para se tornar mais e melhor, tem uma conseqüência. Nos afasta do ser essencial que realmente somos. Aquela criança matriculada desde pequena em diversos cursos, não terá tempo para saber quem ela realmente é. Porque ela não conhecerá seu mundo interior, somente o mundo externo à ela, aquele mundo competitivo que tenta te engolir a qualquer vacilo. É um sistema de todos contra todos. Uma pessoa que se mantém focada em grandes realizações jamais conseguirá ser uma pessoa pacífica; o próprio sistema não permite isto. Nos tornamos pessoas ativas, competitivas e reativas, um tanto quanto robóticas, sem tempo para sentimentalismos e auto conhecimento. Não é à toa que somos a geração da ansiedade.

Queremos tudo, queremos mais! O que conquistamos não tem graça, queremos o melhor, o que é do outro, o que não podemos alcançar! É aí que o sistema publicitário e bancário brinca com o nosso psicológico, um mostra que você precisa, mesmo não precisando. O outro diz que você pode, mesmo não podendo e enriquece às suas custas, c ada vez mais te escravizando com juros impagáveis.


O consumismo desenfreado, o trabalho incessante, nunca é o bastante! Você trabalha mais para consumir mais. Para quê? Para não ficar para trás! Você se afasta da família, dos amigos, dos seus filhos. Tudo para poder usufruir de uma condição de vida melhor, ligada diretamente ao consumo ou apenas pela sobrevivência de pagar suas contas no final do mês.


Se o trabalho dignifica o homem? Sim, claro que sim! Mas hoje escraviza mais do que dignifica. E não somente hoje, como nos conta a história. Não podemos trabalhar mais para consumir cada vez mais. O consumo não deve nos servir de recompensa. O consumo consciente pode ser o início de uma reviravolta nesse capitalismo usurpador. Porque se continuar assim, seremos a alienação de nós mesmo e perderemos definitivamente nossa conexão com quem realmente somos.

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