O CONSUMO ALIENADO
O ser humano necessita de objetos exteriores para sua sobrevivência e realização. Por isso, os indivíduos produzem, em sociedade, os objetos para seu consumo.
E o que seria então o consumo alienado ? Antes de refletirmos sobre esse conceito, consideremos o brutal abismo socioeconômico que separa ricos e pobres no mundo inteiro:
“Os, 2,5 bilhões de indivíduos mais pobres – ou seja 40% da população mundial – detêm 5% da renda global, ao passo que os 10% mais ricos controlam 54%. Um a cada dois indivíduos vive com menos de 2 dólares por dia (patamar de pobreza) e um a cada cinco, com menos de 1 dólar por dia (patamar de pobreza absoluta)”.
Isso nos mostra que, enquanto boa parte da humanidade enfrenta o drama agudo da fome, da falta de moradia, do desamparo à saúde e à educação, sem o mínimo necessário para sobreviver, uma minoria pode se dar o luxo de consumir quase tudo e esbanjar o supérfluo. É ai que entra, o conceito de consumo alienado, fenômeno que ocorre principalmente entre a parcela da população de bom poder aquisitivo, já que não tem muito sentido falarmos em consumo alienado entre a multidão de famintos, esmagados pela miséria.
PRODUÇÃO-CONSUMO
Karl Marx observou que produção é ao mesmo tempo consumo, pois quando o trabalhador produz algo, além de consumir matéria-prima e os próprios instrumentos de produção, que se desgastam ao serem utilizados, ele também consome suas forças vitais nesse trabalho.
Por outro lado, completa Marx, consumo é também produção, pois os homens se produzem através do consumo. Isso se verifica de forma mais imediata na nutrição, processo vital pelo qual consumimos alimentos para “produzir” nosso corpo. Porém, o consumo nos produz não apenas no plano físico, mas também nos aspectos intelectual e emocional, como ser total. Há uma relação dialética entre consumo e produção. Isso fica ainda mais evidente quando se considera que a produção cria não só bens materiais e não materiais, mas também o consumidor para esses bens. Ou seja, quando se produz algo, é preciso que alguém consuma essa produção. Temos, então, a tríade produção-consumo-consumidor.
Por isso, a publicidade (divulgação de produtos nas diversas mídias, como jornal, TV, internet etc) é elemento fundamental das sociedades capitalistas, uma vez que é por meio dela que se impulsiona nos indivíduos a necessidade de consumir mercadorias. E aí começa uma “roda-viva”: a produção abre a possibilidade do consumo, o consumo cria a necessidade de mais produção, e assim por diante. Essa dupla criação de necessidades (a produção criando o consumo e o consumo criando a produção) gera a “reprodução” do sistema capitalista.
STATUS
Mas aonde está o consumo alienado ? Nas sociedades contemporâneas, observamos a exclusão da maior parte das pessoas do consumo efetivo do patrimônio produzido, em vistas das desigualdades econômicas e sociais. Isso quer dizer que o circuito produção-consumo não visa atender prioritariamente às necessidades das pessoas, mas sim às necessidades internas do sistema capitalista, em busca permanente de lucratividade, o que leva à mercantilização de todas as coisas.
Nesse sistema, como aponta o sociólogo Immanuel Wallerstein em “O Capitalismo Histórico”, há algo de absurdo na “lógica capitalista” :
“acumula-se capital a fim de se acumular mais capital. Os capitalistas são como camundongos numa roda, correndo sempre mais depressa a fim de correrem ainda mais depressa. Nesse processo. algumas pessoas sem dúvida vivem bem, mas outras vivem miseravelmente, e mesmo as que vivem bem pagam um preço por isso”.
De forma aparentemente contraditória, esses dois aspectos – a exclusão da maior parte das pessoas da possibilidade de consumir e a permanente busca por mais lucro – estão entrelaçados a tal ponto que o filósofo francês Jean Baudrillard, considera que a lógica do consumo no mundo capitalista se baseia exatamente na impossibilidade de que todos consumam.
De acordo com sua análise, o consumo funciona como uma forma de afirmar a diferença de status entre os indivíduos. Veja um exemplo simples: o fato de que alguém possua um automóvel de luxo só tem sentido se poucos indivíduos puderem tê-lo. Assim, o objeto adquirido funciona como um signo de status. Nas palavras do filósofo, “o prazer de mudar de vestuário, de objetos, de carro, vem sancionar psicologicamente constrangimentos de diferenciação social e de prestígio.
Leia nossa indicação e post “O que é Alienação para a Filosofia – Parte I”
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