O que é Alienação para a Filosofia – Parte I

O que é Alienação para a Filosofia – Parte I

A palavra alienação vem do latim alienare “tornar algo alheio a alguém”, isto é, “tornar algo pertencente a outro”.

Hoje, esse termo é usado em diferente contextos com significações distintas. Em psicologia, refere-se ao estado patológico do indivíduo que se tornou alheio a si próprio, sentindo-se como um estranho, sem contato consigo mesmo ou com o meio social em que vive.

 

Em filosofia, corresponde ao processo pelo qual os atos de uma pessoa são dirigidos ou influenciados por outros e se transformam em uma força estranha colocada em posição superior e contrária a quem a produziu.

Nessa acepção, a palavra deve muito de seu uso a Karl Marx.

O que é Alienação para a Filosofia - Parte I

O termo alienação foi utilizado inicialmente por Hegel para designar o processo pelo qual os indivíduos colocam suas potencialidades nos objetos por eles criados. Significaria, assim, uma exteriorização da criatividade humana, de sua capacidade de construir obras no mundo. Nesse sentido, o mundo da cultura seria uma alienação do espírito humano, uma criação do indivíduo, que nela se reconheceria.

Diferentemente de Hegel, para Marx alienação, é aquele momento em que o indivíduo, principalmente no capitalismo, após transferir suas potencialidades para seus produtos, deixa de identificá-los como obra sua. Os produtos “não pertencem” mais a quem os produziu. Com isso, são “estranhos” a eles, seja no plano psicológico, econômico ou social.

Na sociedade contemporânea, o processo de alienação atinge múltiplos campos da vida humana, impregnando as relações das pessoas com o trabalho, o consumo, o lazer, seus semelhantes e consigo mesmas.

O que é Alienação para a Filosofia - Parte I

Velho homem com a cabeça em suas mãos – Vicente Van Gohg (1890) – Na alienação, a pessoa perde contato consigo mesma, com sua identidade e seu valor. Só lhe resta a sensação de vazio existencial.

O MUNDO DO TRABALHO

Nas sociedades atuais observa-se que a produção econômica transformou-se no objetivo imposto às pessoas, isto é, não são as pessoas o objetivo da produção, mas a produção em si.

Essa mentalidade desenvolveu-se desde o século XVIII, quando teve início a industrialização da economia. Esse processo significou não apenas a introdução de máquinas na produção econômica, mas também estabeleceu novas formas de organizar o trabalho seguindo a lógica de lucro, de tal maneira que as relações sociais passaram a ser regidas pela economia, e não o contrário.

Essa tendência acentuou-se a partir do século XIX, quando o trabalho na maioria das indústrias tornou-se cada vez mais rotineiro, mecânico, automatizado e especializado. Os empresários industriais visavam, com isso, economizar tempo e aumentar a produtividade.

O que é Alienação para a Filosofia - Parte I

Como exemplificou o economista escocês Adam Smith, na fabricação de alfinetes, um operário puxava o arame, outro o endireitava, um terceiro o cortava, um quarto o afiava, um quinto o esmerilhava na outra extremidade para colocação da cabeça, um sexto colocava a cabeça e um sétimo dava o polimento final.

Essa forma de organização de trabalho em linhas de operação e montagem foi, posteriormente, aperfeiçoada pelo engenheiro e economista estadunidense Frederick Taylor, cujo método ficou conhecido como Taylorismo. A principal consequência do taylorismo é que a fragmentação do trabalho conduz a uma fragmentação do saber, pois o trabalhador perde a noção de conjunto do processo produtivo. Essa forma de organização do trabalho – que conduz ao trabalho alienado – ainda pode ser observado em muitas empresas, onde o funcionário se restringe ao cumprimento de ordens relativas à qualidade e à quantidade da produção. Sempre repetindo as mesmas operações mecânicas, ele produz bens estranhos à sua pessoa, a seus desejos e suas necessidades.

Além disso, ao executar a rotina do trabalho alienado, o trabalhador submete-se a um sistema que, em grande parte, não lhe permite desfrutar financeiramente dos benefícios de sua própria atividade, pois a meta é produzir para satisfazer as necessidades do mercado e não propriamente do trabalhador. Fabricam-se por exemplo, coisas maravilhosas para uma elite econômica, enquanto aqueles que as produzem mantêm-se modesta ou miseravelmente. Produz-se “inteligência”, mas também a estupidez e o bitolamento nos trabalhadores.

O que é Alienação para a Filosofia - Parte I

Filme Tempos Modernos (1936)

Em Manuscritos Econômicos-Filosóficos de Karl Marx, o filósofo descreveu esse processo :

“Primeiramente, o trabalho alienado se apresenta como algo externo ao trabalhador, algo que não faz parte de sua personalidade. Assim, o trabalhador não se realiza em seu trabalho, mas nega-se a si mesmo. Permanece no local de trabalho com uma sensação de sofrimento em vez de bem-estar, com um sentimento de bloqueio de suas energias físicas e mentais que provoca cansaço físico e depressão. Nessa situação, o trabalhador só se sente feliz em seus dias de folga enquanto no trabalho permanece aborrecido. Seu trabalho não é voluntário, mas imposto e forçado. Afinal o trabalho alienado é um trabalho de sacrifício, de mortificação. É um trabalho que não pertence ao trabalhador mas sim à outra pessoa que dirige a produção”. 

Atingido pela alienação, o ser humano perde contato com seu eu genuíno, com sua individualidade. Transformado em mercadoria, o trabalhador sente-se como uma “coisa” que precisa alcançar sucesso no “mercado de personalidades” – sucesso financeiro, profissional, intelectual, social, sexual, político, esportivo. O tipo de sucesso perseguido depende do mercado no qual a pessoa quer “vender” sua personalidade.

As relações sociais também ficam seriamente comprometidas. Cada pessoa vê a outra segundo critérios e valores definidos pelo “mercado de personalidades”. O outro passa a valer também como um objeto, uma mercadoria.

 

Leia nossa indicação e post “Quem foram e o que faziam os Sofistas ?”

Siga nosso insta @PensarBemViverBem




Deixe seu comentário