Estamos vivendo no tempo das paixões. Assim como ela, sabemos que tudo anda tendo um curto tempo de duração. Terá, um começo, um meio e um fim. Só que neste mundo de hoje, esse fim chega bem mais rápido. Estamos na era da tecnologia! Da reciclagem! Do descartável! Não está bom? Joga fora e compra outro.
Às vezes nem precisa estar quebrado ou dando algum problema para não querermos mais. Basta termos curiosidade por outra coisa e num piscar de olhos ou apenas num click, mudamos para “algo melhor “.
As opções são tantas, que antes para ver um filme esperávamos ansiosamente para lançar no cinema. Depois ficou mais fácil, ele saía do cinema e podíamos ir até a locadora para escolher o filme do final de semana. Tinha uma coisa, assistindo ou não àquele filme, pagaríamos por ele do mesmo jeito. Por isso, encontrávamos sempre um tempo especial para ver aquele filme e não ter que devolvê-lo sem assistir e deixar nossa curiosidade para a próxima vez que conseguir alugá-lo novamente. Depois ficou ainda mais fácil, escolhemos o filme do nosso próprio sofá. Mas será que está mesmo mais fácil? Vejo tanta gente reclamando da mesma coisa: diante de tantas opções, perdemos mais tempo escolhendo do que assistindo o filme. Curioso né? Já aconteceu comigo, por diversas vezes, ficar passando, passando e escolhendo e quando me dei conta as horas também passaram e não dava mais para ver o filme que eu não sei se queria. Curiosamente também já ouvi pessoas relatando, como também já me aconteceu, de depois de ter visto o filme escolhido ainda bater uma frustração pensando se o outro seria melhor. Seria?
Escolhendo um celular para comprar, é o mesmo problema. Perde-se um grande tempo fazendo pesquisa de preços, pesquisa de desempenho do aparelho, o que faz mais coisa, o que melhor irá te atender. Em três meses no máximo você percebe que sua escolha foi frustrada pelo lançamento que chegou, bem melhor que o seu e quase o mesmo valor. Pronto, você já não quer mais o seu celular “ultrapassado”.
O mesmo acontece com aplicativos de namoro, são tantas opções que como iremos saber quem dali será nosso par ideal? E quando encontrar alguém legal mas pensar: poxa essa pessoa é legal, será que tem outras tão legais e com mais qualidades? Será que eu poderia ter escolhido melhor? E o primeiro problema desse novo relacionamento passa a ser a desculpa número um para acabar com ele em definitivo e procurar por “outro melhor”.
Antigamente era motivo de orgulho herdar o conjunto de baixelas que foi da sua avó, juntamente com o livro de receitas. Na casa de nossos pais ainda podíamos sentar no mesmo sofá de quando éramos crianças, ainda possuíam a mesma geladeira, era como voltar no tempo e se sentir em casa novamente!
Hoje não, tudo vai pro lixo!
O sofá, a geladeira, os pais, os filhos!
O cachorro e também o marido.
Tudo sendo descartado para um fundo de reciclagem emocional.
Arquivo deletado.
Não está a seu contento? Simples, joga fora e arruma outro.
E pessoas também estão sendo descartadas para esse arquivo morto.
E esta é a grande ironia da história, pois é justamente por ter tantas opções que o ser humano se torna tão sozinho.
São estas opções que estaríam nos transportando para este vazio?
Acho que a palavra-chave desse texto seria o inconformismo.
Apesar dessa modernidade toda, ainda me surpreende ver o ser humano e os animais sendo tão facilmente descartados e substituídos.
Joga fora aqui, pega outro ali. Acontece com marido, esposa, filhos do casamento anterior, cães de grande porte que foram lindos filhotes, cães vira-latas, pessoas em idade avançada, profissionais da geração anterior… todos sendo perfeitamente substituídos e ninguém faz mais falta para ninguém!
Já estamos programando um jeito de substituir nosso planeta, vejam só! Se tudo der errado, aparecer um vírus mortal, as camadas de gelo polar derreterem, a temperatura subir, o ar ficar mais poluído, teríamos um planeta novinho todo planejado à nossa espera!
E com isso pergunto:
Será que o ser humano sabe mesmo fazer boas escolhas?