Refletindo sobre os meus dias, após meu retorno ao trabalho, verifico que o processo de readaptação está sendo penoso ao extremo. Não imaginava que alguns anos longe da rotina de décadas de trabalho, me causaria tamanha estranheza. O mito da caverna de Platão cai muito bem neste contexto.
O tal mito que eu mencionei, trata-se de uma história que está presente no Livro VII da obra A República. É um dos textos filosóficos mais debatidos e conhecidos pela humanidade. Nele, estão as bases do pensamento platônico, o conceito de senso comum em oposição ao senso crítico e à busca pelo conhecimento verdadeiro.
Platão cria um diálogo entre Sócrates e o jovem Glauco. Sócrates pede para que Glauco imagine um grupo de pessoas que viviam numa grande caverna, com seus braços, pernas e pescoços presos por correntes e voltados para a parede que ficava no fundo da caverna. Atrás dessas pessoas, existia uma fogueira e outros indivíduos transportavam objetos, que tinham as suas sombras projetadas na parede da caverna, onde os prisioneiros ficavam observando.
Como estavam presos, os prisioneiros podiam enxergar apenas as sombras das imagens, julgando serem aquelas projeções a própria realidade. Certa vez, uma das pessoas presa na caverna consegue se libertar e sai para o mundo exterior.
A princípio, a luz do sol e a diversidade de cores e formas assustam o ex-prisioneiro, fazendo-o querer voltar para a caverna. No entanto, com o tempo, ele acabou por se admirar com as inúmeras novidades e descobertas que fez.
Assim, tomado por compaixão, decide voltar para a caverna e compartilhar com os outros prisioneiros todas as informações sobre o mundo exterior. As pessoas que estavam na caverna, porém, não acreditaram naquilo que o ex-prisioneiro contava e para evitar que suas ideias atraíssem outras pessoas para os “perigos da insanidade”, os prisioneiros mataram o fugitivo.
Para Platão, a caverna simboliza o mundo onde todos os seres humanos vivem. As sombras projetadas em seu interior representam a falsidade dos sentidos, enquanto as correntes significam os preconceitos e a opinião que aprisionam os seres humanos à ignorância e ao senso comum.
Por que eu fiz essa comparação com o meu retorno ao trabalho após anos afastada? Creio que ficou fácil concluir.