O “EU ACHO”

O “EU ACHO”

O “EU ACHO”

Traduzindo a opinativa frase: “eu acho…”

O “eu acho” implica em uma opinião baseada na mera observação dos fatos do outro e do próprio outro, com base nas experiências pessoais. Experiências que, normalmente, implicaram em fracasso ou irresolução, exatamente pela incapacidade de ação ou ação erroneamente aplicada.

O “eu acho” é, comumente, uma transferência da incapacidade resolutiva, a projetando no outro, buscando fazer com que o outro obtenha o sucesso que o opinante não teve por algum tipo de incapacidade. Se o outro acatar a opinião e acertar, o opinante se alivia da sensação de incompetência e incapacidade que carrega pelos próprios fracassos e, se o outro errar, o opinante irá repreendê-lo como se a si, em um processo de transferência projetiva. Comumente, tem a frase irmã como jargão: “eu avisei”, normalmente precedida da frase: “eu sabia”.

Se o opinante se basear em seus sucessos, na tentativa de auxiliar o outro, por pura e simples empatia, não tenderá a ser insistente e, tampouco, criticar o não acatamento ou fracasso do outro, por ter construído, por si, uma forma de superação. Quem se fortalece pelo próprio esforço, compreende a necessidade do outro ser e agir de maneira similar. De igual forma, havendo sucesso, neste caso, o opinante não costuma, sequer, querer fazer parte do sucesso do outro, pois compreende que apenas emitiu uma opinião sem certeza de resultados, pois a opinião pertencia apenas a compreensão de seu mundo mental e, quando compartilhada, se transforma em outra coisa pela compreensão do outro. É quando o solipsismo se enquadra na relação.

O “eu acho” insistente é um grande sinalizador de tentativa de transferência, projetando os conflitos internos no outro, seja para punir ou para se aliviar. Não é um processo que, comumente, se paute em sentimentos destrutivos, mesmo que pareça. Pelo contrário. É um processo pautado em intenções positivas.

O ponto divergente é que no caso dos fracassos do opinante, este racionaliza as suas pulsões, absolutamente inconscientes, buscando o melhor para si, através do melhor para o outro, em um processo projetivo. No caso de sucesso do opinante, a ação é consciente, pois por empatia, este tenta transmitir instrumentos que otimizam o sucesso do outro, fazendo o atávico e primevo princípio da preservação da própria espécie, existente em todas as espécies, se manter ativo e com potência de bons resultados, causando a sensação de força interior, pela paz que costuma habitar em quem se conhece de maneira mais profunda.

Ambos os processos, como todas as ações, têm um algo inconsciente. A ordem de potência é que se altera em um e em outro.

As opiniões pautadas nas meras experiências, sem analisá-las dentro do contexto específico do outro, independente de as pautarem em sucessos ou fracassos, tendem a ser ações com resultados baseados em sorte, caso o ouvinte não tome as opiniões como meras informações e, por si, decida usá-las ou não, adaptando-as a situação concreta e personalíssima que se encontra inserido.

Aqui podemos perceber a complexidade do “eu acho”, sendo mera opinião pessoal, em relação à situação de outrem. Para que a opinião seja útil, independente da origem ser sucesso ou fracasso, o outro deve se blindar em sua pessoalidade, permitindo que a opinião seja mera informação e, não guia de conduta em si.

O “eu acho” não vem dotado de potências positivas ou negativas se o outro o tiver como mera informação a ser usada ou não, com base nos critérios personalíssimos.

O “eu acho” não costuma ser bem aceito por quem possui potência de auto resolução e, por isso, acaba sendo impedido de se consumar, fazendo o opinante se sentir ofendido, mesmo que ele possa estar sendo invasivo, como comumente acontece.

O “eu acho” proveitoso deve partir da solicitação do outro; de uma abertura, sem argumentações impositivas como: “se eu fosse você; faça de tal forma que vai dar certo; não faça isso ou irá se arrepender…” e congêneres. O “eu acho” é potencialmente uma troca. Uma troca de experiências semelhantes, onde quem já viveu ou conheceu alguém ou, um caso sobre, transmite o que tem de informações, sem potencializar estas como eficientes ou ineficientes em si. É a transmissão solidária de uma informação, deixando que o outro resolva o que fazer com ela. É como dar três opções de cardápio a quem está com fome e nada tinha, deixando que escolha qual, quais ou todos como opção ou opções, dando livre ação de como consumir em ordem, quantidade e forma. Inclusive, em não consumir coisa alguma, por não poder consumir nenhuma das opções, por fatores pessoais, como não gostar, reações alérgicas e até promessas, dentre outras tantas justificativas.

O “eu acho” impositivo, que é aquele não solicitado, mas imposto de pronto quando o outro apenas quer desabafar, colocando os seus sentimentos e dúvidas no mundo para tentar compreendê-los melhor pelos sentidos próprios e de outrem, mas sem que outrem invada a abertura de quem se abre, é extremamente utilizado no cotidiano, com as mais puras intenções, mas causando grandes transtornos nos processos internos e até mesmo nas relações.

O “eu acho” tem utilidade prática se for solicitado. Se assim for e, for transmitido como mera informação, passa a ser parâmetro de análise do outro e, desta forma, o “eu acho” se torna verdadeiramente solidário. Do contrário, é apenas invasivo.

Autor: Carlos Alexandre Costa Leite

 

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