O dia em que o homem enxergar o que está fazendo

O dia em que o homem enxergar o que está fazendo

Há somente dois caminhos básicos para o aprendizado: através do amor ou pela dor. Nosso mundo tecnológico deste século tal como o conhecemos não se sustenta em si mesmo! Qual o maior exemplo disso do que o da agricultura convencional? Solos sucessivamente cultivados de lavouras, em poucos anos, apresentam um decréscimo surpreendente dos seus teores de matéria orgânica. Solos nos quais se iniciou a revolução verde em larga escala pelo mundo todo, desde a década de 50 e 60, e que possuíam 2 a 4% de matéria orgânica, possuem hoje 0,05%. Uma catástrofe ambiental e biológica.

Semelhantemente, por um lado, prospera o ramo puro da tecnologia em si mas, nos grandes centros urbanos, aumenta o desemprego assustadoramente! O que as pessoas irão fazer para sobreviver se não tiverem acesso a mais renda alguma? Do que nos alimentaremos daqui uns poucos anos se todos nós apenas quisermos viver em grandes metrópoles, esquecendo-nos completamente de como se produz a nossa comida? Quem saberá ainda, fazer um queijo (dos mais simples que seja), chucrute, salame, pão, iogurte; uma bebida destilada, fermentada, uma geleia, entre inúmeras outras.

Toda a forma própria milenar de viver de cada povo, desde a utilização de materiais locais para as construções, até o modo de preparo para consumo dos alimentos existentes em cada região do globo, está sendo suplantada de forma insana, insensível, insensata e pervertida, por novos produtos disponíveis mundialmente, modismos e comodismos, todos eles impostos pela globalização e a sua padronização de costumes, hábitos e saberes. A migração para as cidades, de quase todos os descendentes de gerações inteiras envolvidas com agricultura de verdade, ancestral, está desencadeando o maior retrocesso cultural da história humana conhecida. Vivenciamos, sem sombra de dúvida, também, uma drástica, irreversível e sem precedentes, erosão genética das espécies, e dos recursos naturais em geral.

Muitos outros conhecimentos também estão sendo perdidos como sobre: identificação de espécies vegetais e animais, plantas comestíveis não convencionais, medicinais, madeiráveis, apícolas, indicadoras ambientais; formas de trabalhar sob condições inóspitas de clima, solo e relevo. Não é à toa que a maior parte da alimentação da humanidade inteira, está baseada em apenas cinco alimentos: arroz, feijão, trigo, milho e soja. Semelhantemente, a globalização é como a “ajuda humanitária”, fornecida à países pobres pelos países ricos. Inicialmente, parece uma ajuda, ou somente coisa boa, mas depois a realidade é outra.

 Quando um país fornece alimentos e outros mantimentos praticamente de graça a outro país, os agricultores desta nação beneficiada param de produzir alimentos, pois não ganham mais receita alguma. O prejuízo maior ainda porém, somente ocorrerá quando o país caridoso deixar de ser bonzinho. Sem a continuidade do fornecimento, o agravamento da crise é geral: agricultura local já não existe mais, e muito menos alimentos disponíveis de qualquer procedência. Caso houver alimentos importados, esses terão seus preços super elevados e assim, apenas pessoas com maior poder de compra poderão se alimentar. É a exclusão social friamente calculada. E a segurança e soberania alimentar totalmente afetadas.

A dependência, de comprar o que não se necessita, foi implantada pela indústria química e tecnológica, nas cabeças de todos nós, mas talvez e até mais fortemente ainda, na dos agricultores do mundo todo, através do tripé, extensão rural, pesquisa e crédito rural de bancos e governos. Os insumos externos às propriedades rurais: sementes híbridas, transgênicas; agrotóxicos; adubos químicos de alta solubilidade; máquinas e implementos diversos (todos movidos a combustíveis fósseis) estão, ao longo de pouco mais de algumas décadas de utilização, mais intensamente nos últimos 70 anos, exterminando, literalmente, com o que havia não só de agricultura original, iniciada a pelo menos 10 mil anos atrás, mas também, com todo o conhecimento agrícola acumulado da humanidade. Este, baseado na observação profunda da natureza ao longo do tempo; todos os ciclos naturais da Terra (variações nas correntes de ar e de água), interações de astros, planetas e constelações sobre nós humanos e nosso globo.

Ademais, se não mudarmos, todos nós, nosso jeito de vivermos, nem toda a espiritualidade, fé, esperança e otimismo desse mundo, num futuro melhor, será capaz de dar suporte para a vida humana. Precisamos voltar às origens, resgatando formas mais econômicas de viver e de produzir alimentos, com menos gastos econômicos e ambientais. Quando implantamos adubação verde e melhoramos a matéria orgânica de um solo, o agricultor ganha com isso, economizando na compra de adubos e permanecendo na terra.

O interesse do agricultor de continuar na mesma terra, sempre produzindo e obtendo o mínimo para viver, é o mesmo da sociedade, que de forma análoga, espera obter o alimento “descentralizado”, “desmonopolizado”, em abundância e acessível economicamente. No entanto, o interesse de muitas indústrias químicas, é meramente o lucro, sem se importarem se a água (com agrotóxicos) fará mal à população, ou se a terra ficará degradada e improdutiva aos agricultores.

Os agricultores nesse sistema deixam de ser os guardiões da Terra e da Cultura, para serem meros produtores de matéria prima para alimentos (que são meros produtos comestíveis). Assim, quanto menos agricultores cultivam, melhor se torna para as empresas negociarem e cobrarem royalties das sementes transgênicas utilizadas. A concentração da produção para posterior distribuição via enormes conglomerados de alimentos nas metrópoles é o mais desejado. A produção em larga escala de monoculturas que são commodities, assim como a produção de aves, suínos e bovinos confinados, possibilita um certo lucro ao produtor, mesmo sob altos custos envolvidos e baixos preços de comercialização. O que não é possível a um agricultor produzindo as mesmas culturas ou animais em pequena quantidade. Assim, vai ocorrendo a exclusão gradativa dos agricultores, aqueles de verdade, do sistema agrícola. Dessa forma, a terra vai se concentrando e encarecendo cada vez mais, e também ficando um bem cada vez mais escasso e inacessível.

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