Mario Sergio Cortella e um de seus excelentes textos sobre “O artificial como referência”.
Nós temos um mundo tão recheado de coisas que inventamos, que produzimos e construímos nos últimos tempos, que essa passa a ser a referência. Isto é, um mundo por nós feito sem que a natureza tenha presença fora do trabalho humano.
O uso mais intensivo do plástico nos últimos 50 anos e depois outras formas de produção dessa artificialidade, especialmente com os polímeros, fizeram com que conseguíssemos esse modo de pletora. As coias à nossa volta que, por serem plásticas, sempre plastificáveis, fizeram com que se moldassem algumas formas da natureza que acabam nos enganando e mudando até o nosso critério de referência. Por exemplo, não é incomum que alguém entre num ambiente e encontre ali uma planta como uma bela samambaia, com as folhas esparramadas descendo, e diga: “Nossa, que bonita! Parece de plástico”. A referência passa a ser o artificial. Ou até deparar com uma criança com um rosto belo, o cabelo enroladinho, aquele modo de olhar que o bebê carrega: “Nossa, que bonita, parece uma boneca!”
Essa referência do artificial como sendo o nosso modo de encontra acaba produzindo certa distância em relação ao mundo natural. A beleza de um alimento vem da sua plasticidade, de sua aparência externa, e o mundo da propaganda e da publicidade usa isso de uma maneira extremamente inteligente, ao dar aquilo que parece perfeito um ar de natural, o que produz ilusão de ótica e de ética…
Mario Sergio Cortella
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Mario Sergio Cortella é um filósofo, escritor, educador, palestrante e professor universitário brasileiro mais conhecido por divulgar questões sociais ligadas à filosofia na sociedade contemporânea.
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