O apreço pela verdade numa era de relativismos

O apreço pela verdade numa era de relativismos

O anseio pela verdade é um traço distintivo da própria condição ontológica do ser humano. Nesse sentido, o filósofo grego Aristóteles afirmava que o homem, em seu âmago, almejava, de forma constante e categórica, o conhecimento, ou seja, a elucidação da realidade e a compreensão das causas dos fenômenos e movimentos da natureza. Por certo, a despeito das pretensões contemporâneas relativistas de negação do conceito de verdade, o homem ainda possui um desejo ardente por um sentido derradeiro e por uma verdade fundante de toda realidade. Ademais, o filósofo desconstrutivista Jacques Derrida afirmava ser o chamado logocentrismo (busca por um axioma absoluto para o sentido das coisas) uma característica que acompanhou os indivíduos ao longo da história.         

 Numa primeira análise, vale ressaltar o significado do conceito de verdade na tradição filosófica. Certamente, foi o teólogo escolástico São Tomás de Aquino que  apresentou uma concepção mais eficaz da ideia em questão, conceituando  a verdade enquanto uma espécie de adequação do intelecto com a realidade, sendo que o intuito de toda filosofia seria compreender e alcançar essas adequações. Além disso, na concepção do pensador da escolástica existe uma Verdade fundamental, cuja essência representa a base das outras relações de correspondência do intelecto com a realidade. Desse modo, esse axioma absoluto representaria a própria finalidade da vida humana e de toda atividade intelectual. 

Destarte, percebe-se a eminência atribuída ao conceito de verdade na tradição filosófica. Antes mesmo de São Tomás de Aquino, Santo Agostinho associou a felicidade ao exercício de contemplação do fundamento derradeiro de toda existência. Nesse sentido, disse Agostinho: “Mas justamente esta é a felicidade do homem: buscar perfeitamente a verdade. Isso é chegar ao fim, além do que não se pode passar”. Todavia, a despeito do apreço filosófico pela contemplação dos fundamentos genuínos que asseguram a veracidade de valores e elementos epistemológicos seguros, a contemporaneidade encontra-se dominada por sofismas, mentiras e pós-verdades, ou seja, afirmações enganosas, as quais funcionam como neologismos que apelam às emoções humanas, ao compartilhamento constante e à opinião pública como critérios de legitimidade, desconsiderando, assim, os princípios da lógica e do exercício correto do pensamento. 

Em virtude do que foi apresentado, é preciso reiterar a imprescindibilidade da busca pela Verdade através da contemplação, da meditação autêntica e do exercício ordenado da racionalidade, considerando os diversos saberes e as virtudes necessárias para o desenvolvimento de uma intelectualidade sólida, que não despreza os primeiros princípios, isto é, proposições objetivas e evidentes imprescindíveis para a estruturação de um sistema epistemológico seguro. Por fim, é imperioso frisar que a verdade última independe das paixões humanas e dos limites temporais. Nesse sentido, retomando o pensamento de São Tomás de Aquino, São Pio X afirma: “A verdade é uma e indivisível, eternamente a mesma e não se submete aos caprichos do tempo”. 

Deixe seu comentário