Texto via Luiza Fletcher
Ter filhos não é para qualquer um.
Há momentos em que eu me pergunto se essa tarefa é pra mim, geralmente quando meu filho está gritando, e a cerveja acabou. Mas esses momentos são passageiros.
Sempre soube que queria ter filhos, apesar de ser difícil separar o desejo real do mero marco da “maturidade” e conformidade que tanto enlouqueciam Tyler Durden. Por sorte, soube que a escolha tinha sido certa quando meu filho nasceu e não me deu a menor vontade de desaparecer – e todos os dias tenho a certeza de que fiz a escolha correta.
Mas é uma escolha. E não há nada de errado optar pela outra alternativa.
Sendo honesto: tenho um filho há dois anos e meio, e boa parte do meu tempo eu passo simulando os dias em que ele ainda não tinha nascido, por um final de semana, uma tarde ou que seja por tempo suficiente para eu conseguir assistir a um maldito de um filme até o fim. Porque não ter filhos é legal.
Adoraria ter mais dinheiro e mais tempo livre e ser capaz de dormir até tarde e sair de férias e deixar veneno pela casa e assistir programas violentos na TV a hora que bem entendesse e sair pra beber no meio do dia ou no meio da noite ou no meio do mês sem ter de me preocupar com uma babá ou se o bar tem cadeirão. Mas decidi ter um filho, então, mesmo que eu possa fazer muitas dessas coisas, não tem uma única delas que eu possa fazer espontaneamente, sem antes me preocupar com um monte de questões logísticas.
A palavra “despreocupado” não faz mais parte do meu vocabulário.
Mas isso não quer dizer que ter filhos não seja divertido; criar meu filho é a experiência mais legal da minha vida. E definitivamente não significa que alguém que decida não ter filhos esteja vivendo uma vida livre de preocupações, na qual nada importa além do próprio prazer.
Você não precisa de um filho para ter responsabilidades, assim como o fato de tornar-se pai não vai acabar com toda a graça e a curtição da sua vida. Ser um pai não te faz uma pessoa melhor que as outras do dia para a noite. Como tudo na vida, é uma troca.
Quando vejo um casal feliz e sem filhos, não presumo que minha vida seja melhor que a deles porque tenho uma criança. E não presumo que a deles é melhor ou mais completa que a minha só porque eles não têm filhos. Posso sentir inveja de vez em quando (e eles, de mim), mas não os considero egoístas, assim como não me considero uma pessoa mais altruísta por ter uma criança em casa. Eu tenho abatimento no imposto de renda por causa do meu filho. Quem é o egoísta da história?
Também não acredito em nenhum imperativo religioso para procriar e, apesar de existir um impulso biológico para ter filhos, acho que tudo bem se você fugir dessa obrigação. Então, se você não quiser ter filhos, não os tenha. E não se sinta pressionado pela cara de reprovação dos outros. Porque, se você não quiser uma criança, a última coisa que deve fazer é colocar uma no mundo.
Depois de ler algumas das buscas que levaram leitores ao blog (“Odeio meus filhos e quero morrer”, “odeio meu filho”, “ter filhos acaba com a sua vida”, “fraldas não papai enema não papai desculpe”), preferiria que algumas pessoas não tivessem procriado, pelo bem delas mesmas e também do das crianças. (Também gostaria que o Google pudesse identificar sarcasmo.) Não costumo julgar outros pais; não sou eu que vou decidir se alguém está fazendo tudo direito, especialmente porque nem sei se eu estou.
Alguns dos meus melhores amigos não têm crianças, e adoro ter acesso às vidas deles, às suas perspectivas de vida, às suas casas limpas. Assim como amo brincar como meu filho e às vezes sair sem ele. Cada um tem sua ideia de satisfação. Nem todo mundo quer ter filhos e nem todo mundo precisa de filhos para completar suas vidas ou para ser feliz.
Escolher não tê-los não faz de você uma má pessoa. Mas julgar as pessoas por fazer escolhas diferentes da sua, sim.
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