Não há justificativas

Não há justificativas



Não dá para sempre justificar as atitudes de uma pessoa usando o argumento de que ela “sofreu muito”, experimentou grandes traumas ou é uma incompreendida. Imaginemos como seria o mundo se todos usassem os seus problemas pessoais como motivação para ferir os outros. Não é difícil concluir que o mundo seria um inferno. E pensemos então em uma pessoa que descarrega suas raivas em outra que simplesmente não tem nada a ver com o que ela passou. Poderíamos chamar esta atitude de razoável, de racional ou justa? Claro que não. Ferir alguém que não tem culpa do que passamos é uma atitude injusta e, dependendo das circunstâncias, cruel.


Um bom exemplo de como descontar nossas frustrações em quem não tem nada a ver com nossa vida pode ser uma atitude doentia e irracional está no filme A vítima perfeita. Neste filme que tem Guy Pierce e Sam Neill no elenco – Caroline, uma jovem gorda, desgraciosa, que sofre bullying dos colegas e tem problemas de relacionamento com os pais sente inveja de Rachel, uma menina bonita, que dança muito bem e aparentemente tem uma vida familiar perfeita e sem problemas. Caroline, que se acha feia e pensa que Rachel tem todas as qualidades que ela queria ter, acaba por planejar algo monstruoso que afeta as vidas de muitas pessoas. Assim, podemos nos perguntar: que culpa tinha Rachel dos problemas de Caroline? O fato de Caroline ter tantos problemas justifica suas atitudes?


Do mesmo jeito, perguntemo-nos: podemos usar o nosso sofrimento como justificativa para ferir outras pessoas? Isto não parece justo. E eu pensei nisso principalmente ao ler uma história ficcional na qual um homem faz verdadeiras barbaridades para com uma outra pessoa. A história me deixou revoltada, mas o que me surpreendeu mais foi ver leitoras da mesma justificar tamanha crueldade dizendo que o tal personagem não era mau, apenas havia sofrido muito. E desde quando eu posso usar o fato de que sofri bullying como justificativa para sair por aí intimidando, perseguindo e humilhando outras pessoas? Que tipo de pessoa eu seria se fizesse isso? Como seria se todas as pessoas que sofreram estupro ou qualquer outro tipo de violência saíssem por aí machucando gente inocente? Ver que leitoras da tal história tentavam justificar e suavizar a crueldade do personagem colocando-o como um solitário incompreendido me fez perguntar onde está a cabeça dos leitores de tal história, afinal, o fato do sequestrador ter sofrido muito não justifica seus atos nem diminui a anormalidade do seu comportamento.


Embora seja comum que pessoas descarreguem suas frustrações em quem não é responsável por seus problemas lembremos que isso não quer dizer que tal atitude seja correta. Uma pessoa que age dessa forma com certeza tem problemas psicológicos e necessita, no mínimo, de uma boa terapia. Agredir, humilhar e até mesmo perseguir quem não possui nenhuma parcela de culpa nos nossos problemas não é um comportamento sadio, mas doentio.
Um velho truque

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