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Meu 20 de setembro preferido

Até por volta dos meus 6 anos eu achava que 20 de setembro era feriado por ser o aniversário do meu pai. Fazia todo o sentido: ele era um super-herói; a pessoa mais engraçada, sábia, generosa e intensa que eu conhecia. Ele também tinha linha direta com Deus: o que ele rezava pra dar certo, acontecia! Nada mais justo que o Rio Grande do Sul inteiro parasse nesse dia para celebrar a vida e os feitos do meu pai.

Noé seria considerado hoje o filho perdido do Google com o ChatGPT: ele tinha TODAS as respostas. Não que ele fosse um gênio ou o ser mais culto da face da Terra. Mesmo assuntos que ele não dominava, ele falava com tanta convicção que acabava convencendo. Na nossa primeira infância todos nós, seus filhos e netos, acreditávamos piamente que ele havia lutado na Guerra. Qual? Era irrelevante. Até nos cantava, emocionado, hinos que ele e seus companheiros combatentes haviam inventado. 

Noé não era exatamente um mentiroso compulsivo; estava mais para um debochado inveterado. Mas não admitia que debochassem dele. Era hiperbólico, aliás, como o gaúcho-raiz. Controverso, era colorado mas vivia argumentando porque o Grêmio era melhor. Católico, apostólico, romano e praticante. Acreditava em energias cósmicas, mas não em protetor solar. Nunca aprendeu a dirigir, mas nos ensinou a andar pelo lado direito da rua. 

Noé faria 89 anos hoje. Não lutou na Revolução Farroupilha, mas teve uma vida de lutas e sacrifícios, mas também de fé, amor, conquistas, alegrias e encantamento. O Rio Grande do Sul ainda pára todo 20 de setembro para comemorar o Dia do Gaúcho. Para quem o conheceu, feliz Dia do Noé.

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