O escritor é alguém que presta atenção ao mundo, disse Susan Sontag. O poeta talvez seja alguém que, ao prestar atenção, se espanta com o mundo e, sobretudo, consegue fazer a linguagem se espantar com ele – e dar saltos.
Pois este Jóquei dá muitos saltos, a todo instante.
São poemas em prosa, conversas por telefone, cartas para crianças, explosões de ternura. Passeando pelas ruas do Rio de Janeiro, perseguindo carros de bombeiro pelo Brooklyn ou contemplando ondas gigantes de um balcão, sopra deste livro – como disse o crítico Gustavo Rubim, saudando sua primeira edição (Lisboa, Tinta-da-China, 2014) – um “vento de pura selvageria”.
“Jóquei” (2015) é o primeiro livro de Matilde Campilho. A poeta portuguesa mistura elementos de seu país, do tempo que passou no Brasil e de outros lugares que visitou construindo uma obra que está em trânsito, o que lhe rendeu o apelido de “poeta-nômade.”
A poesia é solta, com versos livres, quase prosa, quase como quem manda cartas ou deixa bilhetes. Matilde está sempre chamando interlocutores, amores que ficaram para trás, referências a antigos rituais de convivência.