Idade de Ouro da poesia hebraica na Espanha

Idade de Ouro da poesia hebraica na Espanha

Numa primeira análise, conforme destaca Dan Páguis[1], a segunda fase da produção literária hebraica na medievalidade espanhola é caracterizada como “Idade de Ouro”, cujo traço primordial foi a ascensão de uma poesia hebraica secular, que englobava, em seu âmago, a influência árabe (gêneros, retórica e métricas) amalgamada com o renascimento do vocabulário bíblico. Em termos históricos, a chamada “Idade de Ouro”, que percorreu os séculos XI e XII, foi marcada pelo desmembramento do califado de Córdoba em diversos reinos, que receberam o nome de “taifas”. No tocante ao processo de produção poética, é premente ressaltar a síntese de caracteres árabes com a dicção e motivos de amor bíblicos nas poesias concernentes às temáticas de paixão e sentimentalismo. Em vista disso, atesta Saul Kirschbaum:

Em conjunto com a primeira fase, ou seja, no período de al-Andalus, a produção literária dessa escola, notável tanto por sua qualidade como também expressiva quantidade, refletiu a mistura tipicamente andaluza de cultura judaica e árabe- uma mistura que também pode ser encontrada em outros campos, tais como a filosofia e a filologia judaicas da época. A principal inovação, de fato seu ponto de partida como já foi dito antes, foi a emergência de uma poesia hebraica secular, na qual a influência árabe- gêneros, retórica, métricas- acompanhou pari passu um renascimento do vocabulário e dicção bíblicos. Esta dicção, também, foi uma inovação espantosa após vários séculos em que a poesia hebraica (até esse ponto estritamente litúrgica, e florescente mormente no Leste) era escrita em hebraico pós-bíblico, muitas vezes em um idioma esotérico peculiar ao antigo piut. (KIRSCHBAUM, 2008, pp. 58-59).

O marco inicial da Idade de Ouro é caracterizado pela produção de Samuel Ibn Nagrela, mais conhecido como Samuel HaNaguid, um judeu granadino que ocupou cargos importantes na corte, inclusive como comandante dos exércitos do reino. Além disso, foi um importante talmudista, polemista religioso e gramático. Inicialmente, ele começou como um mercador e lojista em Córdoba. No entanto, em 1013, teve que fugir de Córdoba para Málaga e, posteriormente, para Granada, onde ocupou cargos eminentes como político e militar. Foi um poeta hebraico extremamente importante. Em termos gerais, “seus poemas falam das batalhas de que participou, da morte, do sofrimento e da insignificância da vida. Mas também compôs poemas que cantam o amor e o vinho, e poemas de cunho filosófico-moralista (…)” (KIRSCHBAUM, 2008, p. 59). Diante disso, pode-se afirmar que a produção literária de HaNaguid reflete um importante traço da poesia hebraica da Idade de Ouro, a saber: a ambivalência. A divisão interior fragmentária expressava uma dualidade de sentimentos, qual seja: a lamentação pela destruição do Templo e pela perda da autonomia política dos hebreus ou a postura de celebração da vida, da alegria e do vinho. Ademais, a ambivalência[2] revelava uma mudança de atitudes dos poetas, que, durante a juventude, escreviam sobre amores, vinhos, enaltecimento da força vital, mas, na velhice, se arrependiam do hedonismo e se voltavam para uma postura contemplativa, ou seja, de meditação das verdades eternas acerca da temporalidade da vida terrena. Um outro traço importante da literatura de Samuel Ibn Nagrela foi a escrita de poesias autoeróticas e homoeróticas[3].

Além disso, HaNaguid foi um importante autor de poemas sobre a amizade, poemas filosóficos e poemas “antirreligiosos”. Um poema intrigante “Por que repetir os pecados?”[4] aborda uma temática eminente para a moralidade religiosa, a saber: a culpa pelos pecados e a tristeza diante de sucessivas quedas e recaídas, acompanhadas por sucessivos arrependimentos. Um de seus poemas[5] apresenta um tom nitidamente antirreligioso, que dispensa uma concepção ética crucial para a moralidade religiosa, qual seja: não é o suficiente se afastar do mal, é preciso ser bom. A justiça não basta, é preciso o amor, ou melhor, a caridade.

Ademais, é premente ressaltar uma característica importante do período em questão, a ambivalência no aspecto estético literário. Trata-se do hibridismo literário, que caracteriza a dualidade entre a adoção dos padrões culturais árabes e o privilégio exclusivo ao modelo bíblico como o critério de perfeição maior.

Nesse sentido, a poesia hebraica andaluza é marcada pelo hibridismo literário. Destarte, os poetas da Idade de Ouro são “poetas contraditórios”, tanto no aspecto da estética literária, quanto no quesito temático. Acerca do “dualismo” supramencionado, Kirschbaum escreve:

Aspecto digno de nota é a ambivalência dos poetas dessa época em relação à religião, pois compunham igualmente poesia litúrgica e poesia secular. Mas a poesia secular era mais do que não litúrgica, chegando mesmo, algumas vezes, a ser anti-religiosa. (KIRSCHBAUM, 2008, p. 61)

Diante dos fatos supracitados, atesta Scheindlin:

Muitos poemas sobre vinho são usados para introduzir uma espécie de sermão cômico, no qual o poeta incita seus ouvintes a se juntarem à festa, no estilo de um sábio intimando sua congregação a uma vida piedosa e de boas ações. Vários poemas de vinho faze muso de linguagem bíblica e das técnicas retóricas da homilia rabínica de forma a dar-lhes um tom de paródia. Empregando a linguagem da sinagoga, particularmente aquela do pregador, exortando a uma vida normalmente denunciada por esse tipo de orador, esses poemas parecem conscientemente desafiar os valores religiosos tradicionais. (SCHEINDLIN, 1984, p. 271)

Além de Samuel HaNaguid, outro poeta importante foi Iehudá Halevi, que, por volta dos 70 anos, decidiu promover uma ruptura com o estilo de vida al-Andaluz e se dedicar aos exercícios de piedade prática e devoção religiosa. Para reforçar tal comprometimento, o autor se mudou para a Palestina. O autor supramencionado é conhecido por sua defesa “não-filosófica” do judaísmo tradicional.

Um aspecto importante da vida de Halevi foi sua amizade com Moises Ibn Ezra. A principal característica da produção literária de Halevi foi sua amplitude, isto é, seu caráeter heterogêneo, visto que escreveu em todos os gêneros de poesia secular hebraica. Desse modo, poemas de amor, poemas de amizade[6] e poemas religiosos constituem algumas das temáticas abordadas pelo escritor em questão.

Halevi, que vivia da prática da medicina (o que não lhe trazia nenhuma satisfação), produziu em todos os gêneros da poesia secular hebraica com grande destreza e sensibilidade. Além de poeta, foi também um grande apologista da religião e da nação judaica, participando ativamente dos assuntos da comunidade. Em O Cuzari, uma das mais importantes obras em prosa do período, escrita em árabe, relata uma polêmica religiosa, que tem lugar Diante do rei dos Cazares, o qual, por fim, adota a religião judaica. (KIRSCHBAUM, 2008, p. 61)

Importante ressaltar que, durante um período de sua vida, começou a desenvolver uma certa desconfiança em relação ao processo de adoção da poética árabe e de suas consequências na produção literária hebraica. Nos últimos quinze anos de sua vida, Halevi experimentou uma poética nitidamente alternativa, caracterizada, em última instância, por uma “rejeição gradual” da poética árabe, ou seja, por um esforço em “desarabizar” o verso hebraico acompanhado por um retorno às fontes eminentemente judaicas. No verão de 1140, ele emigrou para a Terra Santa, passando pelo Egito. Veio a falecer em Jerusalém no ano de 1141.

Além de Samuel HaNaguid e Iehudá Halevi, outro poeta de proeminência no período clássico da poesia hebraico-espanhola foi Moisés Ibn Ezra. Além de escritor, foi teórico e historiador do movimento poético. Escreveu sobre filosofia e linguística. Sua escrita apresentava alguns elementos nítidos, dentre os quais: o equilíbrio, a moderação no emprego de ornamentos, a clareza de apresentação e emoção e, por fim, uma integração entre os elementos literários arábicos e hebraicos.

Aliás, além de poemas seculars e religiosos, escreveu em árabe os meandros dos ensaios neoplatônicos, abordando uma série de temas, como a relação de intersecção entre a teologia e a linguagem figurativa. Ademais, o autor em questão analisou criticamente a poesia hebraica andaluza. Em 1090, com a invasão dos almorávidas, sua familía foi financeiramente prejudicada, tendo seus bens confiscados. Seus três irmãos fugiram, mas Moisés permaneceu no mesmo território com sua esposa e filhos. Não obstante, posteriormente, foi obrigado a deixar Granada. Além disso, teve que abandonar sua família. Desse modo, o resto de sua vida foi caracterizado pela solidão, pelo desamparo e pela tristeza dos bens perdidos. Toda a angústia que sentia em decorrência da distância de seu antigo lar foi refletida em sua produção poética[7].

O fim da Idade de Ouro da poesia hebraica andaluza é marcado pela emigração de Iehudá Halevi, discípulo de Moises Ibn Ezra, para o leste e dos ibn Ezra para o norte. No entanto, antes de finalizer as considerações acerca do período em questão, é importante comentar acerca de uma outra figura eminente para o contexto da época, a saber: Salomão Ibn Gabirol, figura determinante para a produção poética e para a filosofia judaica.

Salomão Ibn Gabirol: Poesia, neoplatonismo e metafísica

Conforme destaca Walter Rehfeld, Ibn Gabirol foi um dos maiores pensadores hebraicos da Idade Média[8]. Nasceu em Málaga, provavelmente em 1021. Durante a maior parte de sua vida, viveu em Saragoça. Faleceu na cidade de Valência, por volta de 1058 (a data de sua morte não é certa. Os indicíos atestam algumas possibilidades, como 1052 ou 1053).

Ademais, outras incertezas e dúvidas pairam sobre aspectos de sua vida: foi um poeta pobre que dependia dos favores da comunidade, dos pagamentos de patronos e dos financiamentos dos mecenas ou viveu de forma a desfrutar de um conforto material, mas com problemas em termos de saúde, amor e relacionamentos sociais? Sua produção poética é heterogênea, composta por poemas que “descrevem festas com vinho servido por belas moças ou efebos, em jardins à luz de tochas”[9] (KIRSCHBAUM, 2008, p. 60), poemas com alto teor religioso e poemas filosóficos.

Outro grande poeta da Idade de Ouro é Salomão Ibn Gabirol, que nasceu em Málaga por volta de 1021, passou a maior parte de sua vida em Saragoça e veio a falecer em Valência em 1052 (ou em 1053? ou em 1058?). Poeta pobre, Ibn Gabirol dependia de patronos e mecenas, bem como do favor das comunidades, para ganhar o sustento. Devido à sua extrema sensibilidade, indispôs-se com seus benfeitores até ser obrigado a fugir de Saragoça. Como os outro poetas da época, escreveu também poemas que descrevem festas (…). Porém, Ibn Gabirol destacou-se por sua poesia filosófica. Suas principais obras, Fons Vitae e Kêter Malkhut (Coroa da Realeza), refletem a concepção neoplatônica da divindade e da criação do mundo, que o poeta absorvera da mística islâmica. Kêter Malkut é um extenso poema filosófico-religioso que descreve as dez esferas celestes que unem o conhecimento astronômico à expressão lírica e imaginativa. (KIRSCHBAUM, 2008, pp. 59-60)

Diante dos fatos supracitados, percebe-se a eminência de Ibn Gabirol não somente para a poesia, como também para a filosofia. Seus trabalhos filosóficos receberam uma nítida influência do neoplatonismo e da mística islâmica. Sua obra A Fonte da vida não chegou completa para nós, visto que temos acesso tão somente a uma tradução latina e a alguns excertos hebraicos. Conforme ressalta Guttmann (2003, p. 113) “trata-se de uma obra puramente metafísica, que apresentou um sistema em essência neoplatônico, sem uma única palavra acerca de sua relação com o judaísmo”. Adeamis, o escrito supramencionado exerceu uma influência notável na escolástica cristã, que atribuía o nome de Avicebron[10]– tido como pensador muçulmano ou cristão-para o autor de Fons Vitae.

Um dos traços importantes da filosofia de Ibn Gabirol é o seu caráter sistemático, explícito no modo com que construiu sua visão de mundo a partir dos pressupostos últimos da concepção neoplatônica. O autor em questão demonstrava uma grande preocupação em fundamentar, de modo sólido, suas convicções, reforçando e fortalecendo as teses do neoplatonismo por meio do exercício dialético. Em vista disso, comenta Julius Guttmann:

A maioria dos elementos com os quais Gabirol construiu seu sistema deriva da tradição neoplatônica, e mesmo lá onde isso não parece ser o caso, cumpre suspeitar de uma lacuna em nosso conhecimento das fontes neoplatônicas (…) Entretanto, a questão da originalidade de Gabirol independe destas ou de possibilidades análogas. Sua originalidade não reside nos pormenores isolados de sua filosofia, porém na energia sistemática com que constrói e deriva sua concepção neoplatônica de mundo a partir de seus pressupostos últimos (…) ele não se contenta em receber a estrutura básica de seu sistema, completa e já pronta, mas busca fortalecer seus fundamentos e justificar suas premissas por meios de uma dialética sempre renovada. (GUTTMANN, 2003, p. 114)

Conforme supramencionado, Ibn Gabirol retoma aspectos centrais do neoplatonismo. Segundo Giovanni Reale (2014, pp. 27-28), a filosofia neoplatônica apresenta seis eixos cruciais, a saber: a distinção entre o mundo sensível e o mundo inteligível, entre o ser corpóreo e o ser incorpóreo; a determinação do incorpóreo em função da teoria das três hipóstases; a determinação exata da relação que estabelece a união entre as três hipóstases (processos de derivação); a não qualificação da matéria sensível como princípio subsistente, mas procedente de hipóstases,  a fundação da unidade de toda a realidade e, por fim, a identificação da felicidade com a união exática com o divino. Ibn Gabirol retoma os eixos argumentativos centrais de Plotino, mas engloba certos elementos da tradição aristotélica, sobretudo a distinção entre matéria e forma. Em vista disso, ressalta Walter Rehfeld:

Salomão Ibn Gabirol, com Iehudá Halevi o maior poeta hebraico da Idade Média, foi também um profundo e arguto filósofo. O seu sistema baseia-se firmemente no neoplatonismo no qual, entretanto, introduziu de modo muito original e fecundo a dicotomia aristotélica entre forma e matéria. Tudo emana, em última instância, do Divino que é simultaneamente infinita sabedoria e vontade. Contudo, a filosofia de Gabirol me parece deveras distante do conceito rabínico de criação divina e nenhuma referência é feita, na sua obra Fons Vitae, a fontes bíblicas ou talmúdicas, de modo que esta obra, atribuída a um “Avicebron”, jamais foi considerada de autoria de um judeu até que Salomon Munk, em 1846, descobriu que Avicebron é o próprio Ibn Gabirol (…). (REHFELD, 1968, p. 19)

Enfim, os escritos de Ibn Gabirol marcaram a produção literária no período clássico da poesia hebraico-espanhola. Seus textos foram extremamente importantes para a filosofia judaica medieval, abarcando, em suas teses, os pressupostos últimos do neoplatonismo e alguns traços do aristotelismo, bem como da mística muçulmana. Já no período posterior a Idade de Ouro, o pensamento judaico será influenciado, em grande parte, pelas teses aristotélicas.

Referências

BRANN, Ross. Judah Halevi: The compunctious Poet (pp. 123-143). In: Proof Texts- A journal of Jewish Literary History. Vol. 7. Nº 2, New York: The Johns Hopkins University Press, may 1987.

GUINSBURG, Jacob (Org.). Do estudo e da oração: Súmula do pensamento Judeu. São Paulo: Editora Perspectiva, 1968.

GUINSBURG, Jacob (Org.). Quatro Mil anos de poesia. São Paulo: Perspectiva, 1969.

GUTTMANN, Julius. A filosofia do judaísmo. Tradução por J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 2003.

KIRSCHBAUM, Saul. Presença judaica na Idade Média Ibérica: a poesia laica e o idioma hebraico. São Paulo: Targumim, 2008.

PÁGUIS, Dan. Hebrew poetry of the Middle Ages and the Renaissance. With a foreword by Robert Alter. Berkeley and Los Angeles: University of California Press, 1991.

REALE, Giovanni. Plotino e o neoplatonismo. Tradução por Henrique Cláudio de Lima Vaz e Marcelo Perine. 3. Ed. São Paulo: Edições Loyola, 2014. (História da filosofia grega e romana; v.8)

REHFELD, Walter. Introdução. In: GUINSBURG, Jacob (Org.). Do estudo e da oração: Súmula do pensamento Judeu. São Paulo: Editora Perspectiva, 1968.

SCHEINDLIN, Raymond P. “A miniature Anthology of Medieval Hebrew Wine Songs” (pp. 269-300) in ProofTexts- A journal of Jewish Literary History. Vol. 4. Nº 3, New York: The Johns Hopkins University Press, September 1984.


[1] Cf. PÁGUIS, Dan. Hebrew poetry of the Middle Ages and the Renaissance. With a foreword by Robert Alter. Berkeley and Los Angeles: University of California Press, 1991.

[2] “Os poetas hebreus se prostravam ante uma consciência literária problemática. Eles estavam cientes de seu afastamento abrupto das normas hebraicas em um movimento arabizante, mas, ao mesmo  tempo, queriam, ansiosamente, ser identificados como herdeiros da tradição literária do antigo Israel. Colocando isso de outra forma: a poesia hebraica andaluza é um híbrido literário. Seu verso de vanguarda reflete as normas adaptativas sub-culturais dos intelectuais judeus, mas essa poesia se enraíza, através da linguagem, imaginário e associações, no texto mais tradicional, a Bíblia hebraica” (BRANN, 1987, p. 128).

[3] “Eu daria minha vida pelo gamo

que, levantando-se à noite ao som melodioso de harpa e flauta,

viu um copo na minha mão e disse:

“Beba o sangue de sua uva de entre meus lábios!”

E a lua era como um C

inscrito em tinta dourada sobre as vestes da noite.” (Convite; Carmi, p. 298 – exemplo de poema autoerótico. In: GUINSBURG, Jacó (Org.). Quatro Mil anos de poesia. São Paulo: Perspectiva, 1969).

[4] “Por que repetir os pecados

   que você sabe que vão te deixar triste

e não abster-se de pecar

      por aflição –

como uma pomba cuja ninhada foi abatida

   no ninho, e ainda retorna

      uma e outra vez

         até que ela seja levada?” (Cole, p. 67- In: GUINSBURG, Jacó (Org.). Quatro Mil anos de poesia. São Paulo: Perspectiva, 1969).

[5] “Sua dívida para com Deu é viver com justiça,

      e a Dele para você, sua recompensa dar.

Não gaste seus dias servindo a Deus;

      algum tempo dedique a Ele, outro a si mesmo.

A Ele dê metade do seu dia, ao trabalho o resto;

      mas não dê descanso ao jarro durante a noite.

Apague suas lâmpadas! Use copos de cristal para luz.

      Fora com os cantores! Garrafas são melhores do que alaudes.

Nenhuma canção, nem vinho, nem amigo sob a erva –

      Estes três, ó tolos, são todos a recompensa da vida.” (Scheindlin, p. 47).

[6] “Noite, seja longa e demore

   antes da partida dos meus amigos:

Gentilmente espalhe sua preta

   asa através do brilho

da aurora – e transforme, lágrimas,

   em chuva para impedi-los de ir.

Dor do coração, nuble

   o céu com escuridão para que eles

não vejam a luz da manhã.

   Que meus suspiros então mexam

as chamas do sol para atingi-los –

   até que finalmente eles entendam

que podem deixar minhas tendas

   apenas depois que eu os tenha abençoado.” (Partida; Cole, p. 151, poema de amizade).

[7] “Aquele dia precipitado e amargo da partida

     me deixou bêbado com o vinho do desejo.

Desolado agora, eu moro entre mulas,

onde ninguém vê as necessidades da minha alma.

Eu chamo para a esquerda – não há resposta;

então viro para a direita e encontro – apenas estranhos.” (Naquele dia amargo)

[8] Cf. REHFELD, Walter. Introdução. In: GUINSBURG, Jacob (Org.). Do estudo e da oração: Súmula do pensamento Judeu. São Paulo: Editora Perspectiva, 1968, p. 19.

[9] “Quando o vinho acaba,

se entristece o meu olhar…

É como um fio d’água,

é como um fio d’água.

     Ó garganta, como engolir o teu pão?

     Ó paladar, como saborear o teu festim,

     se a tua pobre taça está vazia de vinho?

     Quando o vinho acaba,

     se entristece o meu olhar…

     É como um fio d’água,

     É como um fio d’água” (Canção da água).

[10] “Até a metade do século XIX, ninguém sabia que o seu nome escondia a identidade do afamado poeta judeu Salomão Ibn Gabirol. Só quando Salomão Munk descobriu os excertos hebraicos do Mekor Haim, e provou sua coincidência com passagens da Fons Vitae dos escolásticos, foi que Gabirol encontou o seu devido lugar na história da filosofia” (GUTTMANN, 2003, p. 114).

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