Fora de si

Fora de si

Quem nunca ouviu a expressão: “só pode estar fora de si”!

Fora de si, há um outro espaço que ao sair provoca um movimento de espanto, quem vive fora de si, encontra um outro dentro de si que não conhecia em si mesmo.

Mas ao sair de si, quem fica onde o si habitava? Esse si que aí há, deixa a lacuna de outra coisa que chamamos a causa de algo.

Sair fora de si, pressupõe deixar algo brotar, já estando aí mas que não havia espaço para aparecer, a raiva, o ciúmes, o ódio, o outro são alguns exemplos desse algo em si que aparece quando se está fora de si.

Isto lembra o rato que faz a festa, quando o gato sai da casa. Fora da casa ( o gato) não vê o que acontece e ao retornar, os rastros de sua saída são notados e impossíveis de não serem imaginados.

Essa metáfora permite imaginar que há algo, que surge no corpo e que fala, mostrando que quando sai de si, outra coisa fala e habita o lugar daquilo que supomos controlar. Não é desta maneira que busca-se justificativas para esse “algo” que se diz não entender o porquê?.

Há aqueles que saem de si e não conseguem retornar, tem suas casas invadidas por esse outro que lhes toma o espaço e se apossa do corpo que antes abrigava um “si” que deixou de ser.

Tal questão ocupa o imaginário das pessoas somente quando diante de si, “algo vacila” e parece pressupor que alguém a livre desse algo que contempla no outro, mas que causa extremo espanto em si, como se convidasse também o sair de si a quem contempla o (des)abitado.

Esse movimento “fora” revela algo que já está aí, mas que somente se mostra pela via do escape e do vacilo. Muitas pessoas somente existem dessa maneira e são levadas a diversos lugares que se pressupõe, ter condições de reconduzir o que está “fora de si” ao lugar de sua habitação.

O que marca esse instante, é uma linguagem distante daquilo que se entende, mas que fala tão claro que ao ser falada por aquele que escuta, precisa não ser codificada ou interpretada, mas produzir escuta ao que fala para que essa produção possa ser ouvida pelo falante e assim permitir que, esse dialeto se faça entendido pelo que pronuncia.

A dor, o sintoma, os sentimentos, os atos, surgem como efeito de um outro lugar que só pode ser falado, quando o gato sai de casa, mostrando que não se tem o controle total das situações.

A Psicanálise está a serviço desses modos de existir, como um lugar onde o si, ao sair de sua casa pode perceber seu trajeto e buscar conhecer seus outros que lhe habitam. Nem sempre com o propósito de mudar, mas com a devolução de sua autonomia de se (re)inventar.

Ao perceber-se fora de si, deixe o que está fora falar para que se encontre no que saiu fora do que pensava estar dentro, nunca tendo antes saído de si.

Cleber Pereira da Silva
CRP: 06/140561

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