Mario Sergio Cortella e um de seus excelentes textos sobre “Folia”.
Na minha infância, era muito comum a professora ou a diretora entrar na sala de aula e falar: “Vamos parar com essa folia, vamos parar com essa bagunça!” Essa ideia de folia como folguedo, brincadeira, entrou depois no nosso dia a dia. E mais recentemente como sinônimo, por exemplo, de carnaval. Falamos em folias de carnaval, folias momescas. Interessante é conectar folia com a ideia de doidice, de loucura, o que pode ser notado inclusive em alguns idiomas. Em francês, a noção de fou e folie está ligada a ser doida, estar com a cabeça variando.
Há alguns povos que acham doidice o brasileiro interromper durante algum tempo o trabalho, dia a dia, para poder dançar. Por exemplo, no período de carnaval muita gente não sai para dançar, sai pra descansar, para meditar. Mas é frequente alguém dizer: “É uma loucura, onde já se viu parar alguns dias para dançar?” Eu costumo sempre lembrar que doido não é quem para para dançar, é quem não para de vez em quando, isto é, quem é obcecado, quem tem a ideia da laborlatria.
Afinal de contas, precisamos ser capazes de interromper o nosso cotidiano, de criarmos um intervalo para que consigamos mais capacidade de vida, mesmo que seja com a folia, com a brincadeira, com a alegria. Com responsabilidade, isso nos ajuda, e muito.
Volto ao ponto: doido não é o povo que para de vez em quando, mas sim o povo que não para, que acha que a vida é só trabalho insano.
Mario Sergio Cortella
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Mario Sergio Cortella é um filósofo, escritor, educador, palestrante e professor universitário brasileiro mais conhecido por divulgar questões sociais ligadas à filosofia na sociedade contemporânea.
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