Introdução
Fílon de Alexandria, judeu que viveu na cidade de Alexandria (Egito) foi um pensador eminente na conjuntura da filosofia helenística e ficou conhecido pelo seu esforço teórico na promoção de uma conciliação entre o conteúdo bíblico e a tradição filosófica ocidental. Numa primeira análise, é premente ressaltar que, além da conjugação entre as Sagradas Escrituras e a filosofia grega, o pensador helênico foi um grande exegeta da Bíblia, valendo-se, em sua interpretação da Revelação divina, de categorias de pensamento aristotélicas, platônicas e estoicas. Conforme destaca Julius Guttmann, tal empreendimento intelectual pode ser compreendido dentro do quadro do anseio “apologético” por parte dos judeus que viviam no mundo cultural grego, ou seja, expressava uma forma de justificação racional do conteúdo do judaísmo. Em vista disso, escreve Guttmann (2003, p. 44):
Os judeus que viviam na órbita da cultura grega concebiam a relação de sua religião com a filosofia helênica em linhas semelhantes. Denominavam sua religião de filosofia, e na sua literatura apologética procuravam demonstrar o caráter filosófico da ideia judaica de Deus e a natureza humana da Ética judaica. Eles assestaram os fundamentos para a tentativa de proporcionar uma forma filosófica ao conteúdo intelectual do judaísmo, trajando-o com modos gregos de expressão e usando argumentos filosóficos em apoio às doutrinas éticas da Bíblia. Não só a forma mas o conteúdo da filosofia grega também invadiu o judaísmo. A maneira e a extensão dessa penetração variaram, indo do mero embelezamento filosófico de ideias judaicas, até a sua substituição por doutrinas gregas, e culminando na radical sublimação filosófica empreendida por Filo.
Diante do exposto, percebe-se que, no pensamento de Fílon, há uma “reconstrução filosófica radical do judaísmo” (GUTTMANN, 2003, p. 47). O escritor em análise compreende o judaísmo como uma doutrina filosófica, visto que abarca, em seu âmago, um sistema completo de filosofia. No campo de suas reflexões, dois temas ocupam um lugar de destaque, quais sejam: sua hermenêutica fundamentada no método alegórico e a sua doutrina do Logos. Sob essa perspectiva, o presente trabalho se propõe, por meio da pesquisa descritiva e bibliográfica, a discorrer sobre as nuances da hermenêutica bíblica realizada por Fílon, objetivando, primordialmente, ressaltar que, na órbita de seus escritos, uma temática filosófica não era abordada em si mesma, isto é, em primeira ordem, mas sim como assunto a partir do qual se pudesse esclarecer as nuances de um conteúdo eminente para as Sagradas Escrituras. Na concepção de Hary Austryn Wolfson, tal empreendimento foi importante, sobretudo, no processo de desenvolvimento dos elementos basilares da Filosofia Medieval[1] e da própria teologia cristã[2].
- A hermenêutica alegórica e o “ecletismo” em Fílon de Alexandria
Num primeiro momento, conforme destaca Giovanni Reale[3], os escritos de Fílon, de fato, representaram uma “ruptura”. Sua vida está situada entre dois períodos importantes da história geral, bem como entre duas épocas situadas no âmago da cultura helênica. Por certo, o pensador judeu, conforme destacado anteriormente, se valeu da terminologia científica e dos próprios conceitos da filosofia helenística. Não obstante, em seu tempo, predominava o materialismo, mais especificamente os elementos naturalistas das teses aristotélicas. Nesse sentido, as escolas filosóficas do período valorizavam uma perspectiva associada ao imanentismo. “Ora, Fílon vem resgatar exatamente o incorpóreo e o transcendente, assentando-os, por certos ângulos (…) de maneira ainda mais firme que Platão” (NOUGUÉ, 2015, p. 32). Apesar da presença de contradições e lacunas, o pensamento de Fílon tipificou um avanço, principalmente, no tocante aos estudos éticos, mais especificamente em sua associação da reflexão moral ao Criador, utilizando, em sua empreitada teóricas, um campo conceitual plural e diverso, sobretudo do platonismo e da escola pitagórica. Diante disso, atesta Reale (1994, p. 219):
Entre as várias correntes da filosofia grega, duas eram particularmente idôneas para garantir a mediação entre o racionalismo helênico e a religiosidade e o misticismo orientais: o pitagorismo e, sobretudo, o platonismo. E justamente essas duas filosofias, exatamente em Alexandria, começaram a ressurgir, tentando sair do magma eclético estoicizante (…) que se tinha formado a partir do século II a.C.
No aspecto geral, em termos filosóficos, Fílon pode ser qualificado como um platônico e, secundariamente, um pitagórico. Todavia, tais caracterizações não podem ser tidas como “absolutas”, ou melhor, não são capazes de uma explicação contundente e coerente do pensamento do escritor em análise, pois ele se valeu, de forma eclética, de um amplo campo de terminologias teóricas das diversas escolas e matrizes de pensamento. Todavia, a utilização heterogênea de conceitos não altera, por assim dizer, o núcleo de sua filosofia. Desse modo, continua Reale (1994, pp. 221-222):
Predomina em Fílon (…) o espírito do Platonismo. Os numerosos conceitos estoicos (de que) se valeu (e diga-se o mesmo dos conceitos das demais escolas) são sistematicamente separados dos seus fundamentos materialistas e imanentistas e reinseridos no contexto de uma metafísica espiritualista. O próprio pitagorismo só é utilizado em certa medida, explorando sobretudo a interpretação simbólica dos números a serviço da exegese alegórica de certas passagens das Sagradas Escrituras.
Apesar das considerações acima destacadas, alguns estudiosos, como Émile Brehier, qualificam o pensamento de Fílon como primordialmente eclético, ressaltando que sua originalidade reside justamente numa “perspectiva sincretista”, que foi amplamente utilizada pelo pensador da antiguidade na defesa da universalização da fé judaica e da afirmação categórica do caráter geral de sua Lei fundante[4]. Diante disso, escreve Bréhier (1955, pp. 2-3):
A obra de Fílon vibra com todos os ecos; ligado à lei judaica, vendo nos estoicos os melhores dos filósofos, íntimo dos cultos dos mistérios, conhecedor de Platão e dos pitagóricos, usando, para comentar a Bíblia, um método tal que pudesse inserir nela elementos diversos (…) nele se refletia toda história da filosofia grega até nossa era bem como a situação religiosa de seu tempo; nele se anunciava a mística pagã e cristã que se seguiram (…) Todo o pensamento filosófico de Fílon se banha no estoicismo que era, àquela época, a filosofia universalmente ensinada; é isto que me deu a ideia de investigar, através dos fragmentos, como se constituíra, em Crisipo, uma doutrina que teve tão prodigioso destino.
A despeito das divergências quanto às qualificações e caracterizações do pensamento filoniano, é certo que o pensador em questão se valeu de conceitos de diversas escolas de pensamento da filosofia grega, especialmente, em suas análises exegéticas e hermenêuticas[5] da Bíblia. Antes de adentrar especificamente no alegorismo de Fílon, é premente destacar que sua obra, repleta de nuances e múltiplos esclarecimentos, possui um aspecto de unidade no tocante ao texto de referência. A produção filoniana não apresenta um eixo particular, um núcleo próprio perceptível[6], mas encontra uma dimensão de uniformidade ao se referir constantemente à Lei de Moisés. Entretanto, Bréhier (1955, p. 212) afirma que os tratados da Exposição da Lei não são eminentemente apologéticos e que “o método alegórico, em Fílon, não prova nem quer provar nada (…) ele expõe suas teorias diretamente sem outras garantias senão elas mesmas”. Por sua vez, Pouilloux (1963a, p. 22) atesta:
O comentário alegórico não é uma “divagação”. Ele se funda, ao contrário, sobre um método escrito que toma de empréstimo suas formas das ciências exatas (aqui, as ciências naturais) ou filosóficas, mas que tem sua marcha particular em razão das correspondências.
Ademais, vale ressaltar que o texto do Antigo Testamento utilizado por Fílon não é o original hebraico, mas sim a Septuaginta[7], já encarada como uma espécie de mediação entra a cultura hebraica e o helenismo[8]. Por certo, o pensador em questão possuía um conhecimento notável e extensivo sobre o Antigo Testamento. Todavia, sua abordagem teórica se concentrou no Pentateuco. De fato, os escritos filonianos caracterizam Moisés não só como o maior dos profetas, mas também como o “maior dos filósofos”[9]. Tal entendimento já expressa, de certa forma, o alegorismo de Fílon, visto que Moisés não era filósofo e nem mesmo instituiu uma escola de pensamento.
Diante disso, no que consiste especificamente o chamado “alegorismo”[10] ou método de interpretação alegórica? Em termos gerais, consiste na compreensão segundo a qual a verdade “se esconde” sob símbolos e, para um entendimento dessa verdade, é preciso desvendar os “mistérios”.
O método alegórico é aquele que tem na criatividade mística o fundamento geral que define as diretrizes de aproximação, instrumentalização e aplicação do texto bíblico. É o método que privilegia a chamada busca pelo conhecimento espiritualizante ou mais profundo do texto. O objetivo desse método é buscar o(s) sentido(s) que se crê estar(em) oculto(s) em qualquer parte do texto. (TEIXEIRA, 2012, pp. 102-103)
Em vista disso, pode-se afirmar que o método alegórico consiste em extrair do texto das Sagradas Escrituras um sentido espiritualizante, mais focado na moral religiosa, no aspecto devocional e na dimensão ética[11]. É a partir desse método que Fílon procurou difundir as mensagens do Antigo Testamente mediante a utilização de uma “semântica filosófica” acessível aos gentios cultos e aos judeus helenizados. Ainda que o autor não tenha esclarecido, de forma categórica, o quesito teleológico (finalístico) de seus comentários, é nítida a presença de um enfoque apologético[12]. Não obstante, na época, a adoção do alegorismo refletia, para alguns, a vinculação a um sincretismo, sobretudo ao ecletismo estoico-alexandrino[13]. Para os dogmatistas, tal hermenêutica possuía um caráter temerário e, até mesmo, dotado de certa arbitrariedade.
Ademais, Fílon foi acusado de ter utilizado o alegorismo para encontrar nas passagens das Sagradas Escrituras o que ele mesmo havida colocado na análise bíblica: a filosofia grega. É bem visível a presença do discurso filosófico grego nas interpretações filonianas, com destaque para o papel das virtudes, da superioridade da contemplação intelectual e da compreensão da felicidade como atividade virtuosa da alma. Para exemplificar a ponderação acima destacada, segue uma passagem de Fílon sobre o Gênesis, mais especificamente sobre o Jardim do Éden.
A meu ver, tais considerações (sobre o Jardim do Éden) parecem supor um filosofar em sentido mais simbólico que próprio, pois sobre a terra ainda não apareceu no passado nenhuma árvore da vida nem nenhuma árvore do conhecimento, nem é verossímil que apareçam no futuro. Parece, antes, que com o nome de “jardim” Moisés faz alusão ao princípio hegemônico da alma, repleta de algum modo dessa miríade de plantas que se chamam opiniões; com o nome de árvore da vida, à piedade para com Deus, a maior das virtudes, que torna a alma imortal; e com o nome de “árvore do conhecimento do bem e do mal”, à prudência, virtude com que se julgam as coisas contrárias por natureza. (Questões sobre o Gênesis, 2015, p. 99)
Diante disso, é nítida a presença de uma concepção “gnosiológica” na interpretação filoniana sobre o Jardim Éden; compreensão esta que exalta a virtude da prudência, a piedade para com Deus e a primazia das potências intelectuais, mais especificamente do princípio hegemônico da alma. Os entendimentos morais de Fílon repousam, em última instância, nos conceitos desenvolvidos pela filosofia grega[14]. Sob essa perspectiva, Wolfson (1982, pp. 103-104) atesta que foi o trabalho filoniano o responsável pela inauguração da interpretação filosófica das Sagradas Escrituras. Em vista disso, confirma Jaeger (1991, pp. 47-48):
Para nós, Fílon de Alexandria é, evidentemente, o protótipo do filósofo judeu que absorveu toda a tradição grega e se serve do seu rico vocabulário conceptual e dos seus meios literários para provar o seu ponto de vista, não aos gregos, mas aos seus próprios compatriotas judeus. Isso é importante, visto que demonstra que toda a compreensão, mesmo entre gente não-grega, precisava do meio intelectual ao pensamento grego e das suas categorias. Ele era indispensável em particular para a discussão de questões religiosas, pois a filosofia adquirira por essa época, para os próprios gregos, a função da teologia natural.
Diante dos fatos supracitados, é premente frisar a eminência de Fílon na conjuntura da filosofia helênica, bem como a importância de seu método alegórico nos textos dos filósofos posteriores, sobretudo, dos escritores do medievo.
Além disso, para finalizar as considerações acima apontadas, cabe uma última exemplificação do alegorismo do pensador em questão. Em seus comentários acerca do Gênesis, Fílon compreende o relato do dilúvio como um anúncio claro dos perigos da insensatez para o intelecto. O domínio da loucura sobre a integridade racional da potência intelectiva, de fato, representa um “dilúvio”. Desse modo, o filósofo helênico entende tal acontecimento bíblico a partir de uma perspectiva que privilegia a interioridade pessoa.
Quando as torrentes do intelecto são abertas pela insensatez, pela loucura, pelo desejo insaciável (…) então se trata verdadeiramente de um grande dilúvio. (Por outro lado) o intelecto íntegro (de quem vive segundo a Lei de Moisés, segue) vivendo no corpo como numa arca. (Questões sobre o Gênesis, II, 18, p. 124 e II, p. 127)
No geral, acerca da compreensão filoniana do Gênesis, Bréhier (1950, p. 43) discorre:
O Gênesis (em) seu conjunto, até o aparecimento de Moisés, representa a transformação da alma antes moralmente indiferente, que, depois, se abandona ao vício, e que, enfim, quando o vício não é incurável, retorna gradualmente à virtude. Nesta história, cada etapa é representada por um personagem. Adão (a alma neutra) é atraído pela sensação (Eva), por sua vez seduzida pelo prazer (serpente); por consequência, a alma gera em si o orgulho (Caim) com todo o seu séquito de males; o bem (Abel) é excluído, e assim a alma morre para a vida moral. Mas, quando o mal é incurável, os germes do bem que estão nela podem desenvolver-se mediante a esperança (Enós) e o arrependimento (Henoc), até alcançar a justiça (Noé) e, depois, malgrado as recaídas (o dilúvio, Sodoma), até alcançar a santidade definitiva.
Por fim, é importante destacar como a utilização dos elementos metodológicos e conceituais da filosofia grega, em última instância, são utilizados por Fílon para o esclarecimento do sentido das Sagradas Escrituras, visto que a Bíblia possui uma autoridade maior na vida do homem, primordialmente, em razão de sua centralidade[15], advinda de sua caracterização básica como “escritura da realidade”.
- Filosofia como propedêutica da ciência divina
Conforme destacado no tópico anterior, o ponto de partida de Fílon reside justamente na Bíblia, mais especificamente na narrativa do Gênesis e na noção de Criação. Não obstante, sua cosmologia engloba diversos elementos das correntes de pensamento da filosofia grega. Nesse sentido, sua cosmologia é, nas palavras de Bréhier (1950, p. 161), “um sincretismo no qual são admitidos todos os elementos, em particular peripatéticos e platônicos, que se conciliam com a ideia estoica da simpatia das partes do mundo”. Todavia, para Reale, Fílon pode ser qualificado como platônico ou, até mesmo, como pitagórico, mas não um adepto do “ecletismo”, ainda que seu pensamento, por certo, tivesse traços e conceitos heterogêneos, isto é, oriundos de diversas fontes. O importante é aqui é compreender um ponto crucial: as influências do pensamento grego nas teses e estudos filonianos não substituem o ponto de partida do autor, que consiste nas Sagradas Escrituras. Fílon deseja lançar um convite aos gentios para que eles pudessem se vincular aos elementos da Aliança Mosaica e, desse modo, não almejava a substituição do Judaísmo pelos conceitos e métodos gregos, “abrindo espaço para que o gentio se converta em judeu, e não que o judeu se assimile ao gentio” (NASCIMENTO; MARCONDES, 2003, p. 66).
É nesse sentido que as empreitadas teóricas de Fílon influenciaram os medievais[16], “pelo esforço em conciliar as tradições filosófica e religiosa na audaciosa tentativa de se provar que não há uma real contradição entre elas” (NASCIMENTO; MARCONDES, 2003, p. 67). No entendimento filoniano, os filósofos apenas enriqueceram e desenvolveram elementos já afirmados pelas Sagradas Escrituras. De certo modo, antecipando Tomás de Aquino[17], Fílon já rejeitava o que posteriormente seria denominado de “Teoria da Dupla Verdade”[18]. Daqui podemos extrair que, diante dos fatos supramencionados, a teologia ocupa uma posição de destaque, como se a Ciência de Deus tipificasse a plenificação, o aperfeiçoamento máximo do saber filosófico. Em vista disso, atesta Julius Guttmann (1964, p. 29):
Fílon foi o primeiro a esforçar-se sistematicamente para unir (as duas formas de verdade: o conhecimento humano e a revelação divina), e neste sentido ele certamente merece o título de “o primeiro teólogo”, conferido a ele por historiadores da filosofia. Ele foi o primeiro a colocar o problema básico que subsequentemente foi de interesse contínuo para a filosofia e a teologia das religiões monoteístas: este fato por si mesmo, ainda mais do que o efetivo conteúdo de seus ensinamentos, dá a ele sua importância na história do pensamento religioso.
Portanto, na compreensão filoniana, o estudo da filosofia é qualificado como indispensável como propedêutica à Ciência de Deus, visto que, sem o saber filosófico, a teologia ficaria restrita ao sentido literal e incapaz de extrair dos textos bíblicos os significados mais profundos para a vida humana. Com isso, pode-se afirmar categoricamente: Nos escritos de Fílon, um assunto filosófico não era abordado em si mesmo, isto é, em primeira ordem, mas sim como tema a partir do qual se pudesse esclarecer as nuances de um conteúdo eminente para as Sagradas Escrituras.
Referências
ANTISERI, Dario; REALE, Giovanni. História da Filosofia: Patrística e Escolástica (vol. II). Tradução de Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2003.
BREHIER, Emile. Les idées philosophiques et religieuses de Philon d’Alexandrie. Paris: J. Vrin, 1950.
BREHIER, Emile. Etudes de philosophie antique. Paris: Presses Universitaires de France, 1955.
CALABI, Francesca. Fílon de Alexandria. Tradução por José Bortolini. São Paulo: Paulus, 2014.
FÍLON DE ALEXANDRIA. Da Criação do mundo e outros escritos. Tradução por Luíza Monteiro Dutra. São Paulo: Filocalia, 2015.
FÍLON DE ALEXANDRIA. Questões sobre o Gênesis. Tradução por Guilherme Ferreira Araújo. São Paulo: Filocalia, 2015.
FOGAÇA, Renan Gomes; STIGAR, Robson. A hermenêutica da Bíblia em Fílon de Alexandria. Revista Eletrônica Espaço Teológico (REVELETO). Vol. 12, n. 22, 2018, pp. 89-103.
GUTTMANN, Julius. A filosofia do judaísmo. Tradução por J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 2003.
JAEGER, Werner. Cristianismo primitivo e paideia grega. Lisboa: Edições 70, 1991.
MARCONDES, Danilo; NASCIMENTO, Dax Fonseca Moraes Paes. Fílon de Alexandria e a tradição filosófica. Fílon de Alexandria e a tradição filosófica. Metavola (Online), São João del-Rei, v. 5, n.5, 2003, pp. 55-80.
MARTIN, José Pablo; TOVAR, Sofia Tarallas. Fílon de Alejandría. Obras Completas. Volumen V. Editorial Trotta. Madri: España, 2009.
NASCIMENTO, Carlos Arthur Ribeiro do. Metafísica negativa em Tomás de Aquino. In: Pacheco, M.C.; Meirinhos, J.F. (eds.) 2004. Intellect et imagination dans la Philosophie Médiévale / Intellect and Imagination in Medieval Philosophy / Intelecto e imaginação na Filosofia Medieval. Actes du XIe Congrès International de Philosophie Médiévale de la Société Internationale pour l’Étude de la Philosophie Médiévale (S.I.E.P.M.), Porto, du 26 au 31 août 2002, vol. IV. Mediaevalia. Textos e estudos 23. Porto: SIEPM, p. 263-272.
NOUGUÉ, Carlos. Apresentação. In: FÍLON DE ALEXANDRIA. Questões sobre o Gênesis. Tradução por Guilherme Ferreira Araújo. São Paulo: Filocalia, 2015.
POUILLOUX, Jean. Introdução. In: FÍLON DE ALEXANDRIA. De plantatione. Les Œ uvres de Philon d’Alexandrie, v. 10.Trad. para o francês por Jean Pouilloux. Edição bilíngue grego/francês. Paris: Editions du Cerf, 1963a.
REALE, Giovanni. Fílon de Alexandria e a filosofia mosaica. In: História da Filosofia Antiga (vol. IV: As escolas da Era Imperial- segunda parte: A redescoberta do incorpóreo e da transcendência- primeira seção). São Paulo: Edições Loyola, 1994.
STORCK, Alfredo. 2004. Autonomia e Subalternação. Notas acerca da estrutura e dos conflitos das teologias em Tomás de Aquino. In: ÉVORA, F. et alii (ed.) 2004. Lógica e Ontologia : Ensaios em homenagem a Balthazar Barbosa Filho. São Paulo: Discurso, pp. 387-418.
TEIXERIA, Carlos Flavio. O método alegórico e seu impacto na interpretação da Bíblia. REFLEXUS: REVISTA SEMESTRAL DE TEOLOGIA E CIÊNCIAS DAS RELIGIÕES, v. XV, 2021, pp. 95-131.
TOMAS DE AQUINO s/d. Proêmio da Exposição sobre os doze livros da Metafísica de Aristóteles. Tradução coletiva do CEPAME/GELM. São Paulo: Cepame. Inédito.
WOLFSON, Hary Austryn. Philo: Foundations of Religious Philosophy in Judaism, Christianity and Islan. (v. I). Cambridge, Massachusetts. Harvard University Press, 1982.
[1] Cf. WOLFSON, Hary Austryn. Philo: Foundations of Religious Philosophy in Judaism, Christianity and Islan. (v. I). Cambridge, Massachusetts. Harvard University Press, 1982, p. 459.
[2] “Constitui um acontecimento de alcance excepcional não só no âmbito da história espiritual da grecidade e na do hebraísmo mas também me geral, enquanto inaugura a aliança entre fé bíblica e razão filosófica helênica, destinada a ter amplo sucesso com a difusão do discurso cristão (…) Com Fílon começa em certo sentido, a história da filosofia cristã (…).” (REALE, 1994, p. 220). Ademais, “Fica claro como Fílon está muito mais próximo da hermenêutica cristã do que da rabínica pós-destruição do Templo. O platonismo, a Septuaginta, o método alegórico e a língua grega, alicerces da erudição de Fílon, tornam-se patrimônio cristão” (FOGAÇA; STIGAR, 2018, p. 97).
[3] Cf. REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga, vol. IV. São Paulo: Edições Loyola, 1994, p. 217.
[4] “O princípio, como eu dizia, é a maior das maravilhas: contém a criação do mundo, porque tanto está o mundo de acordo com a lei como a lei de acordo com o mundo. E o homem que se ajusta à lei é cosmopolita, pois conforma suas ações segundo o desígnio da natureza, de acordo com a qual o mundo inteiro é administrado” (Da criação do mundo e outros escritos, 2015, p. 59).
[5] “Em termos gerais, a hermenêutica pode ser chamada de ciência da interpretação. Na concepção atual, poderia ser definida como um método disciplinado de resolver mal-entendidos nas sentenças, palavras e no conjunto do texto; a dimensão psicológica e a gramatical da interpretação intervêm, uma clareando a outra, mas o seu significado pode ser mais bem compreendido acompanhado a hermenêutica ao longo dos séculos.” (FOGAÇA; STIGAR, 2018, p. 94).
[6] Conforme já destacado, alguns pensadores, como Reale, qualificam Fílon como platônico e, desse modo, encontram na obra do pensador helênico um núcleo primordial, qual seja: “sem Ideias arquetípicas, exemplares, não seria possível que as coisas do mundo tivessem forma e medida (…) tais Ideais distinguem-se de Deus: são potências, mas são inferiores a ele (…)” (NOUGUÉ, 2015, p. 42).
[7] Para Giovanni Reale (1994, p. 223), Fílon “estava convencido de que (…) também a Bíblia em língua grega, ou seja, a própria tradução era inspirada por Deus (…) Deus, diz expressamente Fílon “inspirou” os tradutores na escolha das palavras gregas com que transpuseram as originárias, de modo que, propriamente falando, eles não foram tradutores, mas sim “hierofantes e profetas”.
[8] “A princípio, o texto que ele comenta é o da tradução grega dos Setenta; algumas diferenças que se assinalou com razão entre seu texto e aquele que possuímos atualmente dos Setenta se explicam de uma maneira satisfatória não pela leitura do texto hebraico, mas pelo fato de que nossa recensão é de origem posterior à da que ele usava” (BRÉHIER, 1950, pp. 210-211).
[9] Cf. MARTIN, José Pablo; TOVAR, Sofia Tarallas. Fílon de Alejandría. Obras Completas. Volumen V. Editorial Trotta. Madri: España, 2009, 358p, p. 29.
[10] “O método do filosofar filoniano coincide com o alegorismo, o qual consiste, particularmente, em encontrar e explicar o significado oculto sob as figuras, os atos e os acontecimentos narrados no Pentateuco” (REALE, 1994, p. 225).
[11] “(…) A interpretação alegórica está relacionada com a necessidade de explicar uma narrativa bíblica das origens que poderiam evocar histórias mitológicas pouco compatíveis com a filosofia mosaica. Há também muitos outros textos lidos em chave alegórica, textos que não revestem necessariamente aspectos mitológicos. Eles permitem introduzir um discurso de amplo alcance de caráter ético ou político. São sobretudo passagens que remetem a personagens-tipo, a situações exemplares. Assim, por exemplo, as histórias dos patriarcas, além de sua historicidade, revestem significado ampliado, representam um nível de caminho em direção ao saber e à virtude, uma “figura” do agir humano” (CALABI, 2014, p. 51).
[12] “De fato, Fílon não esclarece objetivamente a natureza de seus comentários, que muitas vezes não parecem, à primeira vista, ter qualquer fundamento bíblico, mas isso não impede que o caráter apologético permaneça, na medida em que Fílon pretende difundir o conteúdo do Antigo Testamento em uma linguagem filosófica não só acessível aos gentios eruditos, como também, e principalmente, aos judeus helenizados, pelo menos aos mais cultos.” (MARCONDES; NASCIMENTO, 2003, p. 62)
[13] “O método de interpretação alegórica era, na época de Fílon, empregado muito generalizadamente no mundo grego (…) bem antes dos estoicos, o procedimento tinha sido aplicado à mitologia grega e aos poemas homéricos. Mas a escola estoica que, desde seu começo, no intento confesso de reencontrar sua doutrina na mitologia popular, empregou-o com maior desenvolvimento” (BRÉHER, 1950, p. 36).
[14] “Fílon ligou a Lei de Moisés com a ordem natural, kosmos, e por conseguinte com a physis, afirmando que a ordem natural ou espiritual e a ordem natural não são forças opostas, mas nascem da mesma fonte. Esta posição filosófica cria uma complexa equação onde a Torá, tanto com sistema legal e documento, é revelada como a planta arquitetônica para a harmonia cósmica e política. A Torá é estabelecida como um texto de validade e significância universal.” (FOGAÇA; STIGAR, 2018, p. 100).
[15] “Podemos agora aprofundar os pressupostos da hermenêutica em Fílon: A Bíblia, escrita por Moisés por inspiração é a escritura da realidade; as leis da Bíblia são detectáveis também no cosmos ordenado por Deus segundo uma mesma lei; A Torá modelo para qual Deus olhou no momento da formação do cosmo, é a estrutura do real; A busca pelo significado profundo do texto, suas inúmeras nuances, não implicam a rejeição da interpretação literal (…) A hermenêutica em Fílon é uma hermenêutica do texto sagrado, mas também do homem e do mundo, com um envolvimento integral do intérprete em relação ao texto.” (FOGAÇA; STIGAR, 2018, pp. 100-101).
[16] Ademais, uma contribuição de Fílon reside na chamada “metafísica negativa” ou “teologia apofática”. Nos escritos do pensador helênico, a teologia apofática representa uma forma de discurso utilizada para frisar um ponto de vista: a impossibilidade do conhecimento do verdadeiro nome de Deus. A chamada teologia apofática é de inspiração neoplatônica, “é melhor dizer aquilo que Deus não é, do que aquilo que ele é; em outras palavras, é mais correto predicar de Deus atributos negativos (…)” (REALE; ANTISERI, 2003, p. 59). Para uma melhor compreensão da metafísica negativa no tomismo, Cf. NASCIMENTO, Carlos Arthur Ribeiro do. Metafísica negativa em Tomás de Aquino. In: Pacheco, M.C.; Meirinhos, J.F. (eds.) 2004. Intellect et imagination dans la Philosophie Médiévale / Intellect and Imagination in Medieval Philosophy / Intelecto e imaginação na Filosofia Medieval. Actes du XIe Congrès International de Philosophie Médiévale de la Société Internationale pour l’Étude de la Philosophie Médiévale (S.I.E.P.M.), Porto, du 26 au 31 août 2002, vol. IV. Mediaevalia. Textos e estudos 23. Porto: SIEPM, pp. 263-272
[17] Para afirmar que a Filosofia e a Teologia não são excludentes, Tomás de Aquino se valeu de uma concepção pluridimensional da Sabedoria- tomada sob uma consideração tríplice como Filosofia Primeira, Metafísica e Teologia (racional) – que exerce a primazia entre todas as ciências, sendo necessariamente reguladora e ordenadora de todas as demais. Cf. TOMAS DE AQUINO s/d. Proêmio da Exposição sobre os doze livros da Metafísica de Aristóteles. Tradução coletiva do CEPAME/GELM. São Paulo: Cepame. Inédito.
[18] Acerca das disputas na Idade Média acerca concernentes ao papel da teologia e da completude racional da Filosofia, Cf. STORCK, Alfredo. 2004. Autonomia e Subalternação. Notas acerca da estrutura e dos conflitos das teologias em Tomás de Aquino. In: ÉVORA, F. et alii (ed.) 2004. Lógica e Ontologia : Ensaios em homenagem a Balthazar Barbosa Filho. São Paulo: Discurso, pp. 387-418.