EXERCÍCIO FÍSICO NO COMBATE À DEPRESSÃO

EXERCÍCIO FÍSICO NO COMBATE À DEPRESSÃO

 Resumo

Transtornos depressivos poderão se manifestar em algum momento da vida de, aproximadamente, 20% da população mundial. Considerando a dificuldade de acesso à psicoterapia ou fármacos, uma alternativa se encontra na prática de atividades físicas, idealmente, em conjunto com outras intervenções. Além de resultados positivos encontrados por pesquisadores, a prática de atividade física se caracteriza como uma atividade simples, de alta aderência, fácil acesso e exige poucos recursos.

 Desenvolvimento

 Ao contrário do que muitos imaginam, a depressão é uma das doenças mais prevalentes ao redor do mundo (OMS, 2017; OMS. WORLD SUICIDE PREVENTION DAY; 2012). Aproximadamente 20% da população mundial terá alguma experiência com esse transtorno em algum momento de suas vidas (KESSLER; BROMET, 2013; MARI; KOHN, 2007). A própria Organização Mundial da Saúde (OMS, 2017) indicou o transtorno como o quarto principal doença na população mundial e, além disso, no continente americano representou 8% das causas de doenças na população (ÜSTUN et al., 2004).

Alguns pesquisadores se esforçaram para compreender os mecanismos que levam à depressão. Aron Beck (BECK, 1979), baseado em seu modelo cognitivo, definiu três mecanismos, pensamentos negativos, esquemas cognitivos negativos, e um déficit no processamento de informações. Algumas outras possibilidades foram citadas, por exemplo por Albert Bandura, baseado em seu conceito de auto-eficácia (confiança em sua própria capacidade) (BANDURA, 1977).

Alguns sintomas da depressão incluem, mas não se restringem a: tristeza, letargia, falta de motivação, falta de prazer em atividades antes prazerosas. Esses problemas podem levar o indivíduo a uma “estagnação”, criando um ciclo: Indivíduo apática não se engaja em qualquer atividade, resultando em uma isolação cada vez maior, levando a cada vez menos oportunidades de sentir prazer, fazendo-o se sentir cada vez mais deprimido.

Considerando o impacto devastador e a incidência preocupante de transtornos de humor na população, é urgente não apenas propagar conhecimento sobre, mas também formular novos métodos de intervenção. Uma dessas possibilidades reside na Psicologia do Esporte e Exercício, uma área ainda pouco conhecida

Acredito que o primeiro benefício a vir na cabeça das pessoas é a melhora física, algo que está relacionado com aumento da autoestima e auto avaliação decorrentes de sensações de controle, conquista, além da melhora na aparência física

Exercício físico e esportes representam uma possibilidade de intervenção muito interessante, principalmente quando consideramos os resultados positivos de pesquisas recentes (GRADDY; NEIMEYER, 2008), seu baixo custo, acessibilidade, e poucos efeitos colaterais negativos (ABDOLLAHI et al., 2017), sendo populações em situação de risco e classes baixas alguns dos alvos que poderiam se beneficiar dessas intervenções.

Além de ser pareada com psicoterapia, um programa de atividades físicas pode ser acompanhado de intervenções com fármacos. Em um experimento comparativo (BLUMENTHAL et al., 1999), 156 sujeitos com mais de 50 anos e que sofriam de transtorno depressivo maior foram divididos em três grupos, sendo que no primeiro participaram de atividade aeróbicas, o segundo foi exposto a fármacos, e o último tanto participou das atividades aeróbicas quanto receberam o fármaco. Todos os sujeitos diminuíram seus sintomas depressivos, porém, aqueles que continuaram a se exercitar demonstraram melhores resultados, além de menor probabilidade de recaída.

Pesquisas recentes apontam que a simples participação em atividades físicas já poderia promover algumas modificações neurais associadas com diminuição de sintomas depressivos, por exemplo, reduções no volume do hipocampo, córtex pré-frontal, córtex do cíngulo anterior a matéria branca. Gujral et al. (2017) sugeriu que indivíduos que praticam atividades físicas com regularidade apresentam ganhos volumétricos em relação à matéria cinzenta no hipocampo, córtex pré-frontal, e cíngulo anterior, aumentando a reprodução celular, vascularização e produção e de neurotransmissores na região.

Explicações acerca dos mecanismos psicológicos foram sugeridos. Primeiro, a distração propiciada pelo exercício físico, foi observada em estudos que envolveram grupos divididos em condições de exercício, meditação ou descanso, todos apresentando melhores em níveis de ansiedade e estresse. Alternativamente, sentimentos de controle e auto-efiçacia oriundos da atividade física tem relação com a capacidade de auto-regulação (Helgadottir et al, 2017; Mikkelsen et al., 2017).

Além de todos os benefícios citados até aqui, a prática em grupos possibilita que o indivíduo se encontre em um ambiente social, gerando benefícios como modelagem e aquisição de comportamentos sociais, habilidades de vida (Life Skills) (Cheik et al., 2003) estabelecimento de redes de apoio, resolução de problemas, trabalho em equipe, etc.

Um último aspecto positivo dessa possibilidade de intervenção remete à autoadministração, organização e flexibilidade, podendo o indivíduo praticar atividades físicas de acordo com seus horários.

Conclusão

 

A área de Psicologia do Esporte tem a contribuir não apenas com atletas de elite, mas pessoas em busca de mudanças no estilo de vida, além de representar possibilidades para intervir em certos transtornos e déficits psicológicos, os quais vem se tornando mais frequentes devido à dificuldade das pessoas, nessa era moderna, de dedicarem tempo para o mínimo de atividade física, promovendo saúde geral (OMS, 2017).

Referências Bibliográficas

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BANDURA, A. Self-efficacy: Toward a unifying theory of behavioral change. Advances in Behaviour Research and Therapy, [s.l.], v. 1, n. 4, p.139-161, jan. 1978. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/0146-6402(78)90002-4.

 

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BLUMENTHAL, J. A., BABYAK, M A, MOORE, KATHLEEN A. et al. Effects of Exercise Training on Older Patients With Major Depression. Archives of Internal Medicine, v. 159, n. 19, 1999.

 

CHEIK, N. C., REIS, I. T, RIMMEL A G et al. Efeitos do exercício físico e da atividade física na depressão e ansiedade em indivíduos idosos. Revista Brasileira de Cinesiologia e Movimento, [s.i], v. 11, p.45-52, 2003.
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KESSLER, R. C.; BROMET, E. J. The Epidemiology of Depression Across Cultures. Annual Review Of Public Health, [s.l.], v. 34, n. 1, p.119-138, 18 mar. 2013. Annual Reviews. http://dx.doi.org/10.1146/annurev-publhealth-031912-114409.

 

MARI, J. J.; JORGE, M. R.; KOHN, M. R. Epidemiologia dos transtornos psiquiátricos em adultos. In: Mello, M.F., Mello, A.A.F., Kohn, R. Epidemiologia da saúde mental no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2007. p. 119-141.
 

MIKKELSEN, K. STOJANOVSKA, L., POLENAKOVIC, M. et al.; Exercise and mental health. Maturitas, [s.l.], v. 106, p.48-56, dez. 2017. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.maturitas.2017.09.003.

 

OMS. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Disponível em: <|http://www.who.int/about/es/>. Acesso em: 14 Junho. 2017
ÜSTÜN, T. B., AYUSO-MATEOS, J. L., CHATTERJI, S. et al. Global burden of depressive disorders in the year 2000. British Journal of Psychiatry, v. 184, n. 05, p. 386-392, 2004.

 

 

 

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