Não sei como é para você quando sai de casa, independente da distância que percorre ou do motivo pelo qual saiu, mas uma das coisas que me assusta quando saio é pensar no que posso encontrar pelo caminho, e dessa vez eu não falo sobre violência, sobre a possibilidade de ser assaltado ou algo assim.
Vou descrever para que você entenda melhor, certo dia eu saí para ir até a farmácia, no caminho passo por um terminal rodoviário e uma praça, e por alí eu sempre vejo cães de rua, alguns nasceram nas ruas, outros abandonados por pessoas que provavelmente (na verdade eu torço por isso) arderão no inferno ou sofrerão ainda em vida pelo karma. São bichinhos não mais voltarão para a natureza, os cães agora serão sempre responsabilidade de alguém. E mesmo não tendo uma clara expressão humana, é tão fácil ver os que tem medo, os que são amáveis. Que feliz eu ficaria se pudesse simplesmente recolher todos e trazer para mim, para que eu pudesse cuidar deles com amor; mas não posso, são muitos, famintos, alguns doentes, alguns querendo só atenção, ao menos sozinho eu não posso. Em uma outra ocasião fui comprar um lanche, não precisava, na realidade estava apenas com preguiça de cozinhar, e me deparei com uma pessoa vendendo sacos de lixo ou pedindo para que alguém lhe comprasse algo para comer, esse tipo de coisa me parte o coração, não o trabalho honesto de vender algo, mas ver a tristeza nos olhos dessas pessoas e um provável desalento, desesperança, a vida não vai melhorar, vai ser assim sempre. Creio que nenhum ser humano deveria passar por isso, assim como nenhum cãozinho merece ser abandonado, ninguém deveria viver a incerteza de ter ou não o que comer. Eu adoraria poder garantir isso, todo cão será amado e todo ser humano será alimentado, mas não posso, sei que não posso resolver todos os problemas do mundo (e estou falando apenas de dois, tem muito mais), quando muito, consigo ajudar um indivíduo.
Mas ver esse tipo de coisa me faz me dar conta da minha impotência, eu fico triste, desanimado, um pouco desiludido com a sociedade que discute besteiras como uma tal “pauta de costumes” que não existe, liberação de armas, “imposto é roubo” ou alguma forma de comunismo, socialismo ou sei lá mais qual besteira gente ignorante anda espalhando por aí. Os problemas reais que vivemos não entram nas discussões.
No meu intimo eu fico pensando que seria melhor se eu não me importasse, se ficasse indiferente a essas coisas, se fosse ao extremo do egoísmo e dane-se o meu próximo, talvez a vida fosse mais leve, mais tranquila, mas eu não sou assim, talvez o tempo me revele se isso é um vício ou uma virtude.