Espetacularização da violência e banalização do sofrimento como instrumentos de controle

Espetacularização da violência e banalização do sofrimento como instrumentos de controle

 A espetacularização da violência representa um tema de análise para muitos sociólogos, geralmente associados aos pressupostos teóricos e investigativos da chamada teoria crítica, vinculada aos escritos de Theodor Adorno e Max Horkheimer. Num primeiro momento, é premente afirmar que os pensadores em questão relacionam a espetacularização da violência ao fenômeno da banalização do sofrimento, já que a divulgação massiva pelas mídias de notícias funestas acaba por favorecer, a longo prazo, uma espécie de conformidade passiva, ou melhor, uma indiferença dos telespectadores com os problemas da realidade. Dessa forma, a propagação de um acontecimento tétrico ocasiona apenas um desconforto inicial, uma aversão momentânea, que se desfaz num conformismo permanente e, até mesmo, num fatalismo paralisante. 

Sob essa perspectiva, a banalização do sofrimento representa um dos grandes empecilhos e entraves para a consolidação de uma cidadania genuinamente ativa e comprometida com o participativismo, isto é, com a atuação dos indivíduos na esfera pública e na comunidade em vista, sobretudo, do bem comum e do princípio da dignidade da natureza humana. Nesse sentido, o controle midiático parece fomentar uma descrença na capacidade dos cidadãos na promoção de uma melhora na sociedade e no aperfeiçoamento de suas instituições. De certo modo, a exposição excessiva da violência pela mídia estimula a ideia de que a sociedade é incapaz de uma melhora. Em vista disso, é preciso resgatar a crença na potencialidade de uma ação política efetiva e no preceito segundo o qual a associação comunitária é capaz de efetuar o bem e  atenuar o mal. 

Ademais, a crescente espetacularização da violência, enquanto instrumento de controle promovido pela mídia, sufoca umas das virtudes consideradas imprescindíveis e indispensáveis para o aprimoramento ético do ser humano, qual seja: a esperança. Portanto, ao demonstrar tão somente aspectos nefastos da realidade, a mídia potencializa a descrença na existência do bem, da caridade, da coragem e da justiça. Diante disso, afirma o pensador Joseph Ratzinger (Papa Bento XVI): “O mal faz mais barulho do que o bem: um assassinato brutal, a propagação da violência, injustiças graves fazem notícia; pelo contrário, os gestos de amor e de serviço, o cansaço quotidiano suportado com fidelidade e paciência, muitas vezes na sombra, não aparecem”. Desse modo, saber apreciar os pequenos atos de bondade, de sacrífico cotidiano das pessoas em prol do próximo e a simples existência da amizade e dos vínculos de amor fraterno é uma atitude essencial para o combate à banalização do sofrimento. Por certo, seria muito mais cômodo a exigência de uma regulamentação por intermédio de órgãos governamentais para a redução da espetacularização da violência, todavia, tal proposta de intervenção estaria vinculada ao institucionalismo, que atenua a responsabilidade moral dos indivíduos na mudança da sociedade.

Diante dos fatos supracitados, é preciso combater a ideia falsa de que o cidadão é impotente diante dos problemas sociais, reforçando, assim, seu papel no exercício das virtudes cívicas em prol do desenvolvimento da comunidade e no combate aos seus males. Além disso, embora o fatalismo da mídia apresente um poder notável de paralisar as esperanças, deve-se reconhecer que ainda existe beleza no mundo, que pode ser contemplada nas pequenas ações de compaixão, no simples caminhar da natureza e nos vínculos sociais que enxergam no bem seus fundamentos de persistência. 

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