Escolha como reage frente a situações que não podem ser modificadas

Escolha como reage frente a situações que não podem ser modificadas

Com essa pequena e ao mesmo tempo grande expressão de Santo Agostinho, início uma reflexão que julgo muito oportuna.

Hoje percebo muita fraqueza e vitimismo de muitas pessoas diante de adversidades que são simplesmente inevitáveis ao ser humano, vivo, presente em um tempo e espaço histórico. O livramento de tensões é próprio somente da morte. É de questionarmos até que ponto pode essa incapacidade que advém de alguns de fronte para as crises pode ser considerada aceitável ou patológica. Vamos a um exemplo prático: atendi uma pessoa que se lamentava constantemente, porque, na interpretação dela, o mercado de trabalho estava inflado de profissionais mais capacitados e experientes que ela. Segundo ela, fica difícil competir de igual para igual quando muitos tem maiores condições de se destacar. Neste caso, é claro que além da própria incapacidade de fazer do inevitável uma interpretação otimista, ou como diz Santo Agostinho, escolher se tua alma se eleva ou degrada diante da adversidade não controlável; há também uma visão deturpada acerca de si mesmo, de suas potências e virtudes.

Antes de adentrar na significação dada ou não pela pessoa, convém mencionar que eventualmente haverá profissionais que não são melhores, mas que, diante de situações que não tiveram escolhas, foram capazes de mudarem de atitudes diante do inevitável. Com isso, isentos de responsabilizar terceiros como forma de subterfúgio com intento de nada fazer, foram eles próprios forçados a encontrar a saída, numa atitude que a logoterapia trabalha: autorresponsabilidade.

Vamos agora pensar como podemos modificar de atitude em relação a situações que não podemos modificar. Segundo Viktor, “as circunstâncias não me determinam como pessoa, mas sou eu mesmo quem determino se irei submeter a elas ou se as desafiarei” (O homem em busca de sentido). Não sei se já parou para mentalmente simular uma situação para averiguar a assertividade dessa afirmação, mas o exemplo supracitado pode ser aqui encaixado. Vamos supor que a pessoa que se queixa da suposta vantagem de outros para, reflete e decide ser diferente. Agora ela não responsabilizará o que está fora de seu controle, pois se assim for, e muitos estão conscientes disso, a única solução é chamá-la de coitadinha e, por piedade unicamente, lhe concederão um espaço (depois discorreremos sobre o risco de assim suceder). Quando ela se encontrar em plena consciência da sua e tão somente sua responsabilidade, se dará conta de que tudo está em suas mãos. Dos profissionais que a paciente diz serem mais experientes, é de perguntar se sempre o foram. Será que nunca encontraram situações semelhantes à dela, mas que de pronto enxergaram a necessidade de ser diferentes.

Aqui faço só um adendo sobre a efetivação de uma pessoa que entrou no mercado com base dó de outros. Afinal, qual o risco de ter uma profissional que fora admitida na base do coitadismo? A princípio este fato parece ter se concluído com sucesso, se não houvesse um agravante: quem assim pensa, pensa em todos os contextos de sua vida. Ao entrar no mercado por pena alheia, sustentará seu trabalho de igual forma, pois essa pessoa não foi encorajada a ser agir conforme sua própria responsabilidade, e assim, tudo que acontecer ou não ela não se responsabilizará, isso porque acostumou-se a não pensar por si mesma.

Diante do exposto, não se trata de um passe de mágica que em um estalo seus olhos se abrirão e você enxergará flores. Não se trata também de somente aceitar tudo que de adverso lhe acontecer ou que deve acontecer. Trata-se, no entanto, de colocar-se diante de acontecimentos que não podem ser impedidos de forma diferente, a permitir que ao invés de a situação mudar e ser-te propícia, ser você capaz de superar esses obstáculos. A vida é mais que só viver, é buscar ser melhor.

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