Tenho atendido muitos casos de pessoas que buscam acompanhamento psicoterapêutico porque o seu relacionamento acabou. E diante desse novo contraste (com x sem a pessoa amada) que traz a consciência, a pessoa enxerga tudo de errado que fez e deseja mudar. E a primeira pergunta que faço é: “quanto tempo estavam juntos?”. Porque a outra informação normalmente vem automática: quem decidiu pela ruptura na relação. E por que pergunto da duração que teve o relacionamento? Há uma coisa muito simples, embora ignorada em certas ocasiões: quando um relacionamento tem 10, 15 anos de duração ou mais, as crises são diferentes dos relacionamentos de 4, 6 anos. E essa durabilidade implica em uma capacidade mais aperfeiçoada de lidar com certas crises que os mais novos ainda não desenvolveram. Quando um casal de 15 anos de relacionamento discute, não é (ou não deveria ser) porque não avisa aonde vai, onde está, a que horas volta, a educação dos filhos, a relação despesa x salário. Quando por acaso vem essas situações à tona em casais de longa data, está claro que desde o começo não havia diálogo; não havia e nunca houve um necessário ajustamento de ambos que fizesse com que o estágio relacional amadurecesse. E desde o primeiro estágio do relacionamento, se não buscarem ou não estiverem abertos para se aperfeiçoarem, vivendo com uma espécie de síndrome da Gabriela “eu nasci assim / eu cresci assim / e sou mesmo assim / vou ser sempre assim Gabriela” evidentemente que o resultado disso, quando não levado até a consequência de ser elevado à beatitude, não é outro senão o de cada um para um lado. Casais de longa data costumam relatar traições, esfriamento, quase uma indiferença de um para com outro. Isso se dá mediante um mal desenvolvimento no diálogo, repleto de ruídos e más interpretações. Entra nessa situação, assim como em casais novos que por vezes se deixam levar pelo fogo efêmero, a ignorância de como cada um entende a linguagem de amor do outro; quero dizer, falta buscar compreender o que é importante para cada um e quais os atos que o cônjuge entende como amor. O marido que acha que sua esposa entende amor como simplesmente um homem pronto e ereto a lhe dar prazer, ou a mulher que vê o marido como alguém querendo atenção, prova que estão longe de uma expressão amorosa viva, pois não basta sensibilidade para enxergar essa linguagem; há de se ter constantemente um diálogo.
Quando falo que a outra informação vem automaticamente e que ela também me interessa, quero tão somente saber com quem me coloco a disposição, e qual é o possível norte para o qual iremos nos guiar. Claro que tanto uma como a outra informação são integradas a algumas outras sem as quais não teria valor. Acontece que o tempo diz do tamanho do buraco e o terminante, aponta quem cavou, sabendo desde o início na sempre falha e falta de diálogo. Não é personalidade, não são parentes, não são peculiaridades de cada um; é tão somente uma obscuridade de anseios, desejos e desabafos que fazem com que ambos se tornem apenas colegas que dividem o mesmo espaço. Ora, digamos que a queixa da mulher para com seu marido é que ele não tem dividido com ela os tratos com os filhos ou as tarefas de casa ou um carinho para com ela, ou que o esposo se queixa de a esposa não querer mais dar atenção para ele, quando ambos dividem as tarefas domésticas. Digamos também que tais queixas não são verbalizadas para o(a) cônjuge, mas desabafadas para a psicóloga, a mãe, o pai, as amigas, os amigos de futebol. Qual será a chance de essas questões serem resolvidas? Posso até dizer, antes: qual é a chance de essas questões serem adivinhadas? Nenhuma. Porque o(a) parceiro pode considerar a situação óbvia demais, e, por conseguinte, que a outra pessoa esteja ignorando de propósito tudo isso. A partir dessa consideração, tão amadurecida no pensamento que já até convenceu quem a concebeu ser uma verdade, haverá uma retaliação, uma resposta do cônjuge que se sente ignorado em suas demandas. Quando menos se espera, surge um caso de traição, ou de aumento de tempo fora de casa, ou brigas cada vez mais frequentes, quando não tudo isso junto. E aí? Aquele que se convenceu estar certo sem nem ao menos deliberar com o(a) parceiro(a) acha que a relação deu o que tinha de dar; ou o outro toma a atitude quando nota e julga por si que juntos não estão dando certo. Ou seja, toda essa crise é resultado de uma relação com dois juízes, dois advogados, dois réus e duas vítimas, essa a depender do interlocutor; no fundo até é verdade que há dois juízes, dois advogados, dois réus e dois culpados, mas o erro está em julgar sua causa própria. E esse é um excelente exercício ao casal: ouvir e julgar você em relação a demanda do cônjuge. Afinal, não esqueçamos: há também numa relação dois responsáveis.
Nas muitas ocasiões em que “a vítima” busca a terapia, quase sempre a pessoa que não quer o término, com frequência há uma confissão de culpa; há uma clarificação impressionante de como tudo poderia ter sido e não foi. É um tanto óbvio enxergar todas essas falhas quando já não é o ego e o orgulho que assume a condição, mais um sinal de que esse sentimento(orgulho) deve estar bem longe de qualquer relacionamento que aspira perdurar.
Pergunto também quanto de chance você acredita ter em voltarem. Quando me respondem, e 95% dizem que a chance é ínfima, coloco a refletirem: quanto de energia vale então investir, quase certo do resultado? Quanto vale alimentar essa ideia quando a realidade parece contrariar? E aqui gosto de fazer uma analogia: digamos que sua vida é representada por um carro, e que você é a(o) motorista. Se o relacionamento acabou e não há nem uma chance de retornar, por que você estacionou para esperar quem não vem para embarcar? E nesses casos parar ou estacionar é proibido, porque a vida não espera, e o tempo jamais retorna ou para. Por isso, se alguém pediu para desembarcar no meio da estrada, pare e entregue todas as bagagens. Pode ser que pela pressa, você acaba saindo e esquecendo no carro algumas bagagens que são dessa outra pessoa, e que não lhes serão úteis. Neste caso, não se esforce para encontrar e devolver, nem leve para a casa e ficar ocupando lugar. Pare em uma instituição beneficente e converta o peso em um bem. Captou a mensagem?
Nesse momento, provoco todos a pensarem e me responderem: “qual é a sua prioridade?”
Vejo que quando terminam há um desfoque na estrada; uma titubeada em continuar para onde estava a caminhar, porque alimenta seus pensamentos com os desapontamentos vividos, e assim bloqueia sua própria flexibilidade, sua habilidade em responder mais adequadamente à sua situação. A prioridade não é você? Não é seus filhos? Seu trabalho? A prioridade tem de ser aquilo que te faz bem, não somente aquilo que a faz esquecer, porque pensando assim se cai no vício do álcool, da droga, prostituição, entre outros hábitos autodestrutivos.
Para concluir, peço que faça um exercício: ainda tem aquele(a) parceiro(a) que quando lembra te traz mágoa, abre a ferida, chora e te deixa não operacional? Pare e pense em algo que sempre quis fazer, mas que porventura ainda não conseguiu, ou algo que descontinuou por força maior. Que tal recomeçar? Término de relacionamento é isso: recomeço. E para isso é necessário sacrifício, porque eventualmente exigirá mudança física também: a casa mora, a cidade, eventualmente alguma amizade. E mesmo que desanime, não esqueça que a vida é longa, e que sacrifícios pequenos trará pequenos bens, sacrifícios maiores, trará maior bem. Nunca se perca do sentido de sua vida. Aprenda a lidar com situações que não podem ser modificadas. E com isso, não ignore o sentido de cada percalço, pois a vida sem altos e baixos é uma linha reta no eletrocardiograma. Em tudo haverá o lado bom e o ruim. Se vire para aquele que te fará enxergar além do que se vê, e se esforce, pois pode não ser fácil, mas é necessário. Caso contrário verá erroneamente que o limite chegou, e ali parará.