E hoje em dia, como é que se diz “Eu te amo”???

E hoje em dia, como é que se diz “Eu te amo”???

Pois se o eu sou odioso, amar ao próximo como a si mesmo torna-se uma atroz ironia.”

Paul Valéry

Quando é que amar ao próximo se tornou tão démodé? 

Hoje o refrão “amor ao próximo” é  muito difundido nas redes sociais, na tv, nas rádios, nas igrejas e chega até certo ponto a ser banalizado. Não que eu ache banal o exagero do amor ao próximo, longe disso, mas acredito que essa frase tão forte, emitida por dois grandes homens da história e da humanidade é muito repetida sem que haja uma meditação sobre ela e consequentemente crie uma ação prática.

A frase se tornou-se tão popular que as pessoas não pensam mais no que ela significa. É como falar “Graças a Deus” ou “Se Deus quiser”. São frases emitidas corriqueiramente sem pensamentos prévios, apenas repetem o que é dito por todos. As pessoas nem mesmo acreditam em Deus ou não tem opinião sobre “Ele” e mesmo assim continuam a pronunciá-las. 

Mesmo porque essas duas frases tiram toda e qualquer responsabilidade sobre o ser humano. Se uma coisa boa acontece é graças a “Ele” e se uma coisa ruim acontece é porque “Ele” quis ou permitiu. Assim, conhecemos as pessoas que adoram a Deus de maneira bem objetiva.  As pessoas condicionaram Deus a um Ser que elas querem que ele seja e não ao Ser que ele é.

Um episódio que aconteceu comigo ilustra isso:  Eu conheci uma pessoa que condenou a minha fé porque eu não acreditava em curas milagrosas. Então eu perguntVocê foi curado?

Lógico. E depois disso eu acreditei, respondeu ele.

Então eu disse:Meu amigo, me desculpa, se você precisou de um evento milagroso ou metafísico para acreditar em Deus, sinto em lhe informar, mas não é a minha fé que deve ser reforçada. Pois eu não preciso que Deus apareça na minha frente para eu acreditar Nele. 

As pessoas precisam acreditar pela fé que tem. Se Deus tivesse que provar sua existência materialmente para todos, não precisaríamos ter fé e sim da ambição e do interesse em alcançar alguma coisa que “Ele “possa te dar. E o ser humano tem a maluquice de achar que aquilo que ele não consegue  compreender tem uma importância maior, mas não se aprofundam nesse conhecimento. Apenas ficam na superfície da ignorância. 

Segundo os Judeus e os Cristãos, consequentemente, tanto Moisés quanto Jesus Cristo falaram sobre amar ao próximo. Mas para quem conhece a bíblia  sabe que Jesus Cristo aumentou essa responsabilidade. Ele disse que o ser humano deveria amar ao próximo como Ele (Jesus) amou. E, segundo a bíblia o modo como Jesus amou a humanidade foi morrendo por ela. Você estaria disposto a morrer para salvar o seu próximo mesmo que seja alguém desconhecido?

Então agora entendemos a questão de falarmos e de praticarmos. De pregar uma coisa e demonstrar outra.  É muito fácil amar a quem nos ama, é muito fácil ser gentil, educado, benigno com quem nos quer bem.  Difícil é fazer isso por pessoas que não conhecemos. É por isso que hoje vemos as pessoas condicionando Deus a seu bel prazer, adaptando Deus às suas circunstancias. Quer dizer, condicionando-o ao nosso padrão de vivência. Deus hoje está sendo perseguido por isso. E por que mesmo assim algumas pessoas buscam a Deus de maneira não meditativa? Há duas possíveis respostas:

Medo ou esperança

Quer dizer, o medo de ser castigado por Ele e a esperança de ter uma recompensa eterna. Poucas pessoas irão falar que adoram a Deus pelo simples fato de adorá-lo.

As guerras religiosas entre católicos e protestantes que varreram a Europa nos séculos XVI e XVII são particularmente conhecidas. Todos aceitaram a divindade de Jesus Cristo, no entanto eles discordavam da natureza desse amor. Os protestantes acreditavam que o amor divino é tão grande que Deus se encarnou e permitiu ser torturado e condenado redimindo o pecado original e abrindo as portas do céu para todos que professam fé Nele. Os católicos defendiam que a fé, embora essencial, não era o mais importante. Que para entrar no céus o crente devia participar dos rituais de igreja e fazer boas ações. Os protestantes recusavam-se a aceitar isso, pois essa compreensão diminuía a grandeza e o amor de Deus. Essas disputas teológicas ficaram tão violentas que, neste mesmo período, católicos e protestantes mataram-se uns aos outros a centenas de milhares.

Isso ilustra bem como o objetivo da fé começou errado. Era uma disputa ideológica mais forte do que o próprio amor a Deus. E por mais que essa seja uma parte histórica, rústica e arcaica do pensamento mal desenvolvido da humanidade na idade média, muitos hoje ainda comungam desse pensamento. 

Algumas pessoas ainda hoje tentam defender as verdades ou sua religião através da violência. Essa violência não é física. É uma violência verbal, uma violência que prega o amor a Deus através do medo. Usam esse medo para defender o seu “Deus” e as suas crenças. Até hoje não entenderam que a verdade nunca precisa ser defendida. Ela se defende por ser “a verdade”. E nessa mesma confusão de entendimento não entenderam que “Deus” precisa que as pessoas sejam suas “testemunhas” e não seja seu “advogado”.

Pode não parecer, pois tal forma de pensar agora é romantizada para ludibriar, mas no final o “amor a Deus” ainda continua sendo a mesma disputa ideológica para fins egoístas.

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