DEPRESSÃO: DOENÇA NEURAL?

DEPRESSÃO: DOENÇA NEURAL?

“Desânimo”, “dor na alma”, “dor de viver”, “ausência de sentido”, “problemas de humor”, “dificuldades com o sono e alimentação”, “falta de desejo”. Essas são algumas das frases que estamos ouvindo de forma constante, seja por um conhecido, um familiar ou nas mídias sociais.

Essas verbalizações, referem-se a uma mudança na individualidade contemporânea que faz emergir o fenômeno da depressão. Sendo esse transtorno uma das formas do sujeito manifestar seu sofrimento psíquico. Para Kendler e colaboradores, a depressão deriva da integração de quatro fatores de risco, sendo as experiências traumáticas, fatores genéticos, temperamento e relações interpessoais. Contudo, de maior significância é o fator estressor de vida recente.


É considerável pensar nas mudanças que estão ocorrendo no social de vários países, regiões e culturas, que geram cada vez mais as produções e expressões das frases citadas das pessoas acometidas com a depressão. Para isso, é preciso fazer uma análise deste “mal-estar” social.


Han, filósofo alemão, realizou um apontamento pertinente para esse fenômeno coletivo, que está sendo denominado por muitos autores que nem a Tereza Pinheiro, Ana Maria e outros mais como, “mal-estar do século XXI”. A análise realizada por esse pensador é que a depressão decorre do excesso de positividade e autoprodutividade. Melhor, sinaliza que estamos em tempos de doenças neurais e não virais.

Denotando sobre as doenças neurais, afirma que é a enfermidade da “sociedade de desempenho” e não mais de doenças de infecções, e sim uma cremação do eu, em que o sujeito é o dono de si mesmo e livre da exploração, porém se torna escravo de si e cobrado pelo social ao um alto desemprenho, a ser um bom aluno, bom filho, bom profissional, ter o melhor corpo, possuir status social, ter poder aquisitivo, melhor relacionamento, construir uma boa família, boa casa, bom carro, etc. Com isso, além da cobrança se tem e a carência de vínculos afetivos, desde o familiar ao social, e a produção da a individualidade e competitividade.


Percebe-se, uma maximização das produções de desempenho e a não conquista do Ser, acarretando de forma inconsciente que o sujeito se acovarda ao seu desejo de ser a si mesmo e com isso vem à recusa a sociedade de desempenho, do ilimitante, do impossível. Leader (2011), aponta que a depressão é uma maneira de dizer “não ao que me mandam ser”, é como se não houvesse equilíbrio entre a demanda externa com a interna.


O sujeito também é responsável pelo seu sintoma, pois se tem implicações internas e aspectos externos, porém na sociedade atual não se tem espaço para falar do interno, entrar em contato com o sofrimento-tristeza, visto que é a era da hipervigilância, exibicionismo e extrema positividade.

Portanto, a priori, a depressão é um fenômeno produzido pelos aspectos interno do sujeito com entrelaçamento aos eventos externos, que em alguns casos são percebidos e vivenciados de forma intensa, traumática e não consciente; sendo que inconscientemente produzirá a conversão sintomal do quadro depressivo.

Carine Santos

Psicóloga clínica e orientadora profissional e de carreira

 

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