Buscamos a harmonia, queremos mais felicidade e mais paz. Queremos amigos de verdade e consideração, buscamos o melhor de cada pessoa com quem partilhamos o convívio. As pessoas nos são caras, quer sejam amigos, companheiros, filhos ou mesmo nas relações profissionais. E frequentemente nos decepcionamos e percebemos que criamos expectativas demais nas relações.
Bem verdade que há relacionamentos que não merecem um segundo olhar, talvez não tivessem merecido nem o primeiro. Mas tem sido comum o discurso que sugere que nos afastemos das pessoas difíceis e temperamentais. E se as relações que eram de amor azedaram, é hora de seguir sem elas.
Nesse ponto nos tornamos abertos a novas relações, novas interações e recomeços. Mas o passar do tempo vai transformando aqueles novos seres especiais novamente em gente comum, capaz de decepcionar, abandonar e repetir velhas histórias que conhecemos.
Parece que tudo está na convivência, no relacionar-se, parece que o dia a dia é que macula as melhores qualidades do outro e quando a opção é conviver, tem-se que abrir mão do “relacionamento perfeito”, ou se propor a seguir trocando de dores e amores ao longo da vida. Essa já uma prática de muitos que também não parecem mais felizes por isso.
E a vida é breve e não somos eternos, não somos perfeitos, temos um bocado de defeitos, de manias e carências, queremos ser ouvidos, amados e tratados com generosidade. Em auto avaliação não nos consideramos os tóxicos, os abusivos ou dignos de abandono. Em geral nos percebemos pessoas em processo de evolução, com pequenos passos de avanço ao longo do tempo, pessoas que aprendem a tolerância, a fraternidade e a fidelidade nas relações, e somos sempre bons.
Usamos sempre dois pesos e duas medidas, e somos mais condescendentes para conosco e rígidos com o outro. E por conta dessa medida mais pesada, as vezes abrimos mão do outro que é tão frágil ou duro como nós somos.
A vida vai nos experimentando com vicissitudes, com perdas e pressão, muita pressão. E a gente vai percebendo o tamanho de nossa fragilidade, o quanto somos dependentes do outro, o quanto somos igual ao outro no rancor e na dor e o quanto esse conceito de felicidade é transitório.
Parece modismo afastar as pessoas, conviver só com o positivo, o bacana e o divertido. Colecionar só boas histórias, vencer sempre. Será que é possível?
Dizem que os perfeitinhos não são desse andar, que só é sagrado quem morre, então me parece que viver e conviver dá trabalho mesmo. Exige tolerância e empatia, exige trocar de lugar com o outro, experimentar o sapato alheio para tentar imaginar a dor da caminhada do próximo.
Diminuir diferenças e espaços, ouvir e calar, dar uma nova chance para nós e para o outro, pode representar uma nova relação dentro de uma relação que já existe. Não temos as respostas, a vida é sempre tentativa e erro, mas é melhor errar tentando, do que desistir com dúvida.
Não se pode pescar na piscina, que venha o mar!
Mariângela Carvalheiro
Psicopedagoga e graduanda em Gerontologia
Leia nossa indicação e post “É possível chegar a perfeição do ser humano?”
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