COMOÇÃO

COMOÇÃO

Tivemos, nesses dois últimos anos, perdas irreparáveis no nosso mundo artístico. Foram perdas precoces e desastrosas de pessoas tão importantes para nós, que farão uma imensa falta não somente para seus familiares, como para nós, admiradores de seus trabalhos.


Às vezes é difícil  acreditar que sejam pessoas reais e com a chance de sofrer qualquer infortúnio que nós seres humanos do mundo laboral podemos, a qualquer, momento sofrer.
Às vezes parece que são imortais e de fato são,  pois estarão eternizados em nossas memórias, seja na música, literatura ou televisão, a qualquer momento temos acesso a vê-los novamente, através de seus inesquecíveis trabalhos.
Porém caro leitor,  pretendo fazer neste artigo uma pequena observação que pude perceber através das redes sociais, sobre a reação das pessoas diante da perda desses ilustres artistas.


Trabalhadores como nós,  a arte é um dos poucos trabalhos em que as pessoas têm dificuldade em dissociar o artista trabalhador, do artista pessoa.  Na realidade, o artista se torna rapidamente celebridade e muitas vezes seu trabalho fica em segundo plano no ranking de interesse da mídia, imprensa, redes sociais e seus fãs.  Tudo o que eles fazem, repercute de uma forma incrível, ganhando seguidores e admiradores por onde estiverem. Suas vidas pessoais se tornam mais importantes que seus trabalhos, aguçando cada vez mais a curiosidade humana.
Então eu venho falar de comoção.


Pois me deparei nas redes sociais com comentários odiosos de pessoas atacando outras que faziam homenagens à esses artistas, por não mencionarem em suas publicações, o lamento pela perda de pessoas não tão conhecidas ou até desconhecidas por nós e melhor dizendo, simplesmente pessoas mas que também possuem familiares inconsoláveis por suas perdas.


Ora, percebam, somos todos seres humanos, pessoas que trabalham. Mães, pais, irmãos, filhos de alguém. Obviamente toda e qualquer morte é extremamente lamentável e estará causando muita dor para seus familiares.
Mas eu compreendo a comoção geral, o lamento e o espanto que a morte de um artista conhecido causa nas pessoas. Exatamente pelos motivos citados acima. Porque o artista entra em sua casa mesmo sem ser convidado, passa a fazer parte da sua vida de alguma maneira, mesmo que seja sem querer: você está se deslocando ao trabalho e todo dia pela manhã vai ouvindo aquela música,  está em casa descansando e despretensiosamente está lá com você aquele artista, lhe fazendo companhia. De certa forma cria-se um laço, uma identificação. E quando ele se vai, dessa forma ainda inexplicável para nós como a morte, nos sentimos assim: com um vazio, um aperto no peito. A sensação de ter sido com uma pessoa próxima como um parente ou um vizinho. Nos faz refletir sobre nossa própria vida e sua finitude. Por isso tamanha comoção e homenagens.


Repito, todas as perdas são extremamente lamentáveis, mas as de um artista conhecido nos choca mais. Haja vista, a forma como reagimos diante do noticiário infelizmente sanguinolento que nos é ofertado pela tv diariamente. Quantas notícias tristes, quantas perdas irreparáveis! E no entanto, salvo a notícia de um crime chocante e brutal, continuamos calmamente a tomar o nosso café da manhã, lavando nossa louça,  olhando o celular. Enquanto ali, está o final da história de vida de alguém e o início da dor torturante de seus familiares.
Então voltando ao assunto redes sociais e seus ataques cibernéticos, continuo achando natural a reação das pessoas que homenageiam seus ídolos, se comovem e sofrem por suas perdas.
Mas com isso, talvez aprendamos a nos chocar mais, ter mais empatia pelo próximo e dar mais valor à vida.  À sua e à do outro. Pois é refletindo sobre perdas que aprendemos a valorizar a vida.
E essa vida, sendo uma só como conhecemos,  todas são igualmente importantes.

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