A empresa Google, principal buscador da internet, reúne em uma plataforma chamada trends quais são as palavras, as receitas, os clubes, os atletas, as personalidades, os acontecimentos, as músicas, como ser, o que é, e os programas de tv mais pesquisados anualmente. Essas são as classes em que se divide toda estatística. E por curiosidade fui dar uma olhada. Qual não foi a minha surpresa ao me deparar com uma pergunta mais feita, na classe “como ser”: “Como ser uma pessoa fria?”. Isso traz, como diriam os antigos, muito pano para manga. Aqui cabe, primeiramente, supor como pode ser uma pessoa fria, e entender o porquê de isso ser o desejo de uma grande parte dos internautas que recorreram a esse buscador especificamente. Infelizmente, este termo [fria] traz consigo várias interpretações, devido ao empobrecimento vocabular da maioria dos brasileiros (a plataforma filtra automaticamente para o país de origem das pesquisas). Um site, por exemplo, descreveu o que significa ser frio da seguinte maneira: “manter certa distância das coisas, ser racional e não deixar que as emoções falem mais alto”. Nesse caso, fica evidente a troca equivocada dos termos pela simples palavra “fria”. Veremos duas possíveis palavras que podem ter sido pensadas como sinônimos, mas que não o são.
Uma que pode cair perfeitamente se usarmos sinônimos é a palavra indiferente. Antes da segunda eventual palavra sinônimo, vamos refletir ao que se deve à vontade dessa primeira, de ser indiferente. Antes, faço uma observação: Quando coloquei “como ser uma pessoa fria?” no google, para buscar quais as definições e características mais citadas, esta foi a palavra mais citada nos primeiros 5 sites que a plataforma oferece. Uma pessoa indiferente é alguém cuja capacidade de sensibilizar-se inexiste. E mais que isso, indiferente é o estado de um indivíduo não dar importância nem com uma coisa, nem com o seu contrário, quando há. Em exemplos práticos e em voga: não se importa com político A nem B, nem C, nem D…; não interessa se a pessoa morreu ou continua viva; se tomou vacina ou é antivacina, usa ou não máscara, esquerda ou direita, conservador ou progressista, fingir que seu vizinho, e/ou colega de trabalho, ou parente não existem. entre tantas outras posições possíveis. Há de explicar, no entanto, que não é simplesmente estar contra, pois ficar contra é assumir não ser indiferente; e muitas pessoas que estão contra, e eu as conheço, estão preocupadas com a situação atual, e buscam melhorar. Indiferentismo é uma apatia, física, mental e socialmente falando, muito perigosa. Se aprofundarmos mais nessa reflexão, chegaremos, eventualmente, a um resultado: o crescente egoísmo. Nós, seres humanos, somos dotados de sentimentos por vezes bons, outras vezes ruins. Porém, quando se opta por ignorar parte importante do que lhe é própria (dos animais, incluindo os humanos), algo não está sendo bem compreendido, ou não está sendo vivido com maturidade emocional o suficiente.
Na outra opção em que o termo “fria” pode ter sido usada como sinônimo é a palavra serena. Por mais que ambas pareçam próximas e eventualmente possível em alguma troca, o significado muda completamente. De acordo com o dicionário, serenidade é característica da pessoa que age com tranquilidade diante de situações complicadas, perigosas, traumáticas e até alegres.
Agora, feita a divisão das duas possibilidades, é hora de pensar por qual motivo haveria alguém de querer ser frio. É evidente que em tempos de COVID-19 a atribuição à pandemia é automática. Foram, e são, tantas pessoas com aquele perfil de conversador, camarada, extrovertido cuja alegria era bater aquele papo legal no bar, abraçar as pessoas e fazer brincadeiras que agora estão no chamado home-office, trancados, com limitações mil. Há verdadeiramente quem não sabe lidar com isso, e a única maneira de minimizar o sofrimento é buscar como ser uma pessoa na qual a situação atual não viabilizará um sofrimento maior. Mas convenhamos, não foi somente a pandemia causa de uma busca tão constante de alguém a buscar ser mais frio. Desilusões e frustrações no campo sentimental também fazem parte de uma busca de mudança comportamental. Há em demasia tantos artistas que cantam suas desilusões amorosas, suas traições e a busca por não se importar com que já “amou”. Existem também aqueles com amizades duradouras que sucumbiram, por infidelidade ou por prioridades outras.
Conquanto, quando se tem claro o sentido da sua vida, e mais, o último e mais perfeito bem a ser buscado, desde o momento se há de ter a Vida, que se apresenta aos olhos; o caminho, que por conseguinte dá ao caminhante não só o sentido literal, mas a causa pela qual se é percorrido, e; a verdade, evidente por si mesma, e que frustra tudo que dela se distancia na medida em que se distancia de um único fim; fica explícito que nem em última análise ser indiferente ao próximo, ou a situações tristes ou alegres, será opção. Nesse caso, o sereno tem grande vantagem: ele vive tudo, mas não pede para se importar menos, pois sabe que a sabedoria, que implica compreensão e temperança, dará frutos virtuosos. O indiferente não se importa com coisa alguma; já o sereno se importa, e às vezes até mais do que quem externaliza, mas sua confiança repousa na Divina Misericórdia. Por isso, ao indiferente, que na ansiedade de sanar o seu sofrimento por conta dos sofrimentos alheios tenta dessensibilizar-se de tudo e de todos, um conselho muito útil e importante para sua relação com os outros é ouvir atentamente o que o outro tem a dizer, e de forma empática.
Falando em empatia: que a busca por essa, contrária a indiferença, seja a próxima a estar no topo dos trends do Google.