Como deixar de ser refém das notificações diárias no smartphone

Como deixar de ser refém das notificações diárias no smartphone

Você começa o dia de trabalho super focada, mas logo vê o olho pulando da tela do computador para o celular, que piscou com uma notificação nova. Mesmo que você não pegue o aparelho para ver o que é, esse movimento, que parece pequeno e simples, tem um efeito e tanto na sua concentração e, principalmente, no seu emocional.

Não é de hoje que se fala sobre como a tecnologia, em especial as redes sociais, colaboraram para uma sociedade mais estressada. Seja por causa do FOMO, o medo de perder alguma coisa, de ficar de fora, seja tentando acompanhar os grupos do WhatsApp, parece que vivemos com um alarme mental constante, dizendo que temos que responder todo mundo imediatamente e ficar sabendo de tudo o que acontece na internet, o tempo inteiro.

“A tecnologia em si não gera estresse, mas a forma com que lidamos com ela”, explica a mestre em psicologia clínica e pesquisadora da PUC-SP, Debora Souza. “O sonho de séculos atrás, de estarmos disponíveis em vários locais ao mesmo tempo e de termos, de imediato, respostas sobre todas as nossas dúvidas num simples toque, nos fizeram criar um Universo de interrelações para as quais a nossa biologia e a nossa vida psíquica ainda não estão totalmente preparadas”,

O resultado dessa falta de preparo também já bem conhecido e começa a ser cada vez mais comentado: quadros de depressão e transtorno de ansiedade, por exemplo. E a relação com as tais notificações é direta, já que um estudo da Universidade Carnegie Mellon, nos Estados Unidos, em parceria com a Telefónica, comprovou que meras 24 horas sem notificações no celular fizeram com que o grupo de pessoas estudado se sentisse menos distraído e mais produtivo.

Debora explica que o efeito dessas notificações tem tudo a ver com o funcionamento químico do nosso corpo: os disparadores de estresse servem como um sinal de alerta, de que estamos sendo ameaçados e precisamos nos defender. Essas notificações foram criadas pensando em, justamente, ativar essa área do cérebro, e o resultado é que ficamos em estado de alerta o tempo inteiro.

“De certa forma, certo nível de estresse tem sua função em nossa saúde, porém, o que acontece com toda esta conectividade tecnológica é que nos mantemos em alerta a todo momento. Esperando a última mensagem ainda não lida, as curtidas que poderão afetar nossa autoestima e toda uma gama de exigências que vem sendo impostas e até auto-impostas e sobre as quais devemos e podemos refletir”, diz a pesquisadora.

E buscando manter essas expectativas e esse desejo de conexão sanado, criamos um nível de relações que não se sustentam, tanto no trabalho, quanto em casa. Ou seja, se você se sente improdutivo, com certeza é porque tenta equilibrar essas expectativas no seu dia a dia.

É óbvio que a tecnologia e as redes sociais não são vilões de desenho animado, tramando um grande plano contra nós. Mas a conversa sobre limites e o tempo que dedicamos à elas precisa, sim, ser questionado.

Não é sem motivo que tem-se comentando tanto sobre passar um tempo offline e as próprias redes, além de sistemas operacionais como o iOs, estão colocando mecanismos de medição do tempo de uso – você já deve ter se assustado com as horas que passa no Instagram depois de ver um dos seus relatórios.

MAS, COMO SAIR DISSO?

Já que invertemos os nossos valores e passamos até a elogiar quem está sempre disponível para responder mensagens independentemente do horário – inclusive profissionalmente – pode parecer difícil quebrar esse ciclo.

Mas, ainda bem, essa não é uma tarefa impossível, e você pode começar com alguns exercícios básicos:

1.Atenção ao seu dia a dia

“Observar nossas rotinas, ter horários para utilizar as redes e responder mensagens, combinar e compartilhar com nossos interlocutores estas práticas, são formas de não perder nossa autonomia quanto a todos estes aparatos tecnológicos”, aconselha Debora.

2.Equilíbrio é chave

Buscar atividades e hobbies que não dependam de uma tela também é uma boa ideia. O ideal é buscar um equilíbrio entre o tempo que você passa respondendo à essas notificações, e distante delas.

Aqui, é importante perceber se passar tempo longe da tecnologia gera alguma sensação de incômodo – esse pode ser o indicativo de que você precisa de ajuda profissional para lidar com as sensações causadas pela conectividade constante: “A falta da tecnologia não pode nos paralisar e nos fazer sentir sensações desagradáveis e insuportáveis”, continua a profissional.

3.Coloque limites no trabalho

O problema de receber uma mensagem de alguém do trabalho é que o primeiro impulso é responder imediatamente – ainda mais se for um chefe. Por mais que existam situações e situações (uma emergência, claro, deve ser respondida na hora), isso não pode virar um hábito. Coloque na cabeça que o seu dia de trabalho tem um horário para terminar e seja fiel à essa rotina.

Além disso, vale a pena desligar as notificações durante o dia, e estabelecer períodos de intervalo para olhar o que tem de novo, de forma a não atrapalhar o seu dia a dia profissional. E, mais uma vez, é interessante ficar atento à forma como você reage a esse novo hábito, já que sensações ruins podem indicar uma dependendência não-saudável.

4.Recupere a sua rotina

Falamos ali em cima sobre equilíbrio, mas qual a forma mais prática de fazer isso acontecer mesmo? “Metas, rotinas e auto-conhecimento”, diz Debora. “Entender quais são os momentos, ambientes e gatilhos que nos fazem mais vulneráveis a dispersar em função de acessar o celular e as redes são passos importantes para reassumir o controle. Reaprender a ter o domínio da própria rotina e, consequentemente, da vida, traz uma série de benefícios e, por isso, é algo que para aqueles que já conseguiram realizar um caminho, muito mais compensador e sem volta”.

Fonte: Maria Claire

Deixe seu comentário