AUTOPRESERVAÇÃO E INCONSCIENTE INTRÍNSECOS À GENÉTICA
Das tantas coisas atraentes na Psicanálise, o Inconsciente e as suas pulsões inerentes à nossa espécie são as mais encantadoras.
Percebo em cada análise sobre o assunto que, ao contrário do que muitas pessoas insistem, nossas pulsões não têm origem em nosso no Sistema Nervoso Central, mesmo que nele e no Sistema Nervoso Periférico se manifestem. Encontramos a origem das nossas pulsões em nosso genoma, com genes que estão inteiramente ligados à nossa autopreservação, para preservação e perpetuação da nossa espécie, tal como em todas as outras espécies, desde as mais simples até as mais complexas.
Genes específicos são acionados de maneira epigenética, transmitindo às outras gerações, características genotípicas por algumas gerações, sem alterações no genoma. Havendo usualidade e eficiência, pode haver alterações no genoma, pela eficiência das ativações gênicas que se transformam em genes específicos, ao longo de diversas gerações.
O Inconsciente aparenta ser o acionamento de genes em duas formas: a primeira, pela epigenética, criando alterações em genes que já existem, sendo ativados ou desativados nas próximas gerações. A segunda é a manifestação do Inconsciente dentro do próprio aspecto fisiológico. Basta haver a quebra da homeostase, nos colocando em modo nervoso simpático, que determinadas substâncias, fisiologicamente, alteram os nossos corpos para fuga ou luta, nos gerando emoções e sentimentos próprios da autopreservação, junto a condições físicas que premiam fugir e/ou lutar. Na segunda opção já temos reações reflexivas bem definidas, por características genéticas ou epigenéticas.
Podemos perceber que, até mesmo dentro do fator epigenético, estamos falando de genes existentes que estão ativos ou não, se tornando claro que há muito estão em nós, nos gerando comportamentos atávicos. Tal coisa nos leva ao estudo da evolução, chegando ao ponto de conhecimento em que estamos, sobre a compreensão do que é a vida: não sabemos a origem e, tampouco, o que é a vida. Sabemos das consequências dela, mas a potência em si e, como surgiu, não.
O Inconsciente é extremamente reativo para a autopreservação. O que nos difere dos demais seres é que temos mais bem desenvolvida a capacidade de análise consciente, que implica em termos capacidade mais refinada de imaginarmos coisas na atemporalidade do processo mental, tal como se fossem fatos no transcorrer temporal do mundo sensível. Imaginar é criar imagens de fatos e as suas consequências. Todas as espécies conseguem isso de alguma maneira, mas nós, Seres humanos, temos um grau de refino único, em comparação às outras espécies conhecidas em nosso planeta.
Ações de autopreservação não necessitam de Sistema Nervoso Central sendo utilizado de maneira racional. As partes mais primitivas do Sistema Nervoso Central se encarregam de reações instantâneas para autopreservação, como a retirada da mão de uma pessoa de um local quente, para não haver queimaduras, sem que exista a necessidade de um raciocínio complexo para a pessoa compreender que se há calor, há dano e, por isso, deve haver afastamento do corpo. Se tanto tempo fosse gasto com tal raciocínio, haveria queimaduras muito mais sérias e, por isso, já existe uma ação reflexiva de autopreservação, fazendo com que a pessoa retire inconscientemente a mão de um local quente, antes mesmo de raciocinar sobre o fato. São ações diretas que visam a preservação da espécie, mesmo que pelas vias da autopreservação. São ações construídas há diversas gerações, criando características no genoma, mas que começaram com epigenética, ficando a pergunta: quando surgiu o gene a ser acionado ou desativado? Imaginemos os gametas que têm processos extremamente complexos e se mantêm com comportamento organizado. Este comportamento é o conjunto de ações específicas, com fins específicos e resultados previsíveis, mesmo que não oriundos de um Sistema Nervoso Central. Havendo comportamento sem Sistema Nervoso Central, há reação inconsciente, nos demonstrando o quão primitivo é o Inconsciente das espécies e, por este motivo, tem tanta influência sobre todos os seres.
No caso dos Seres humanos e outros animais mais complexos, podemos perceber relutância nas ações de autopreservação, por existir imaginação, dentro de uma previsibilidade de causas e efeitos. Obviamente, os Seres humanos sendo mais refinados. Em tais relutâncias há melhor previsão de causas e efeitos e, tal percepção, leva ao refino evolutivo de nossa espécie, fazendo com que as próximas gerações criem maior complexidade nos processos inconscientes. O Inconsciente é o conjunto de fatores hereditários e ambientais, tal como a epigenética. Precisam, ambos, de gatilhos, seja para surgirem nas próximas gerações ou para acionarem elementos fisiológicos quando já existentes em um ser.
O Inconsciente surge dentro de um processo genético e epigenético, se instalando em conexões neurais de simples preservação, automáticas na percepção de perigos mais comuns e que requerem reação imediata. Percepção puramente analógica e ligada às situações mais primitivas de perigos diversos.
Passamos a possuir, depois de gerações, genes que nos proporcionam reações fisiológicas e morfologia que nos dão aptidão e nos auxiliam na autopreservação, para preservamos a nossa espécie. A autopreservação é o melhor meio para a preservação da própria espécie, fazendo com que os mais aptos na autopreservação, representem a nossa espécie em continuação hereditária.
As nossas tantas relutâncias sobre as nossas ações incontroláveis são consequentes da nossa racionalidade, buscando justificar as nossas pulsões de autopreservação.
Nossas pulsões não possuem valoração de bem e mal; de certo e errado ou de qualquer outro par de valoração de extremos absolutamente contrários. São apenas reações autopreservativas. A nossa racionalidade criou tais parâmetros valorativos. Qualquer outro animal mais complexo apenas age para se preservar. Um grande felino se alimenta de presas ainda como filhotes indefesos, os devorando pelo abdômen enquanto agonizam de dor. Um grande felino não valora sua ação, mas a tem como essencial para se alimentar e se autopreservar.
Alguns animais em concorrência de alimentos matam os filhotes das espécies concorrentes, nos demonstrando que há consciência de causas e efeitos, mesmo que rudimentar. No entanto, não há valoração, pelo menos, como compreendemos refinadamente. Possuímos condição mais refinada de consciência, tal como possuímos valorações que ditam condutas como certas e erradas; eficazes e ineficazes; corretas e incorretas e diversos outros extremos bipartidos de potências contrárias. Tais valorações nos geram grandes conflitos emocionais, pois enquanto as nossas pulsões ancestrais nos impulsionam a reações de autopreservação, ainda em um aspecto altamente primitivo, como as feras que hoje ainda existem em estado natural, o nosso refinado senso de causas e efeitos, tal como de valorações, nos gera dúvidas sobre como agirmos ou não, podendo, inclusive, comprometer a nossa existência como espécie e indivíduo (s) específico (s).
Como somos altamente racionais, o Conhecimento é a única forma de criarmos compreensões sobre os perigos reais e não reais da atualidade, tal como das valorações que necessitamos para a nossa espécie. O Conhecimento é a junção de vários conhecimentos. Tal coisa implica em uma harmonização de informações em um pensamento uniforme. Adquirir diversos conhecimentos sem uniformizá-los em um Conhecimento, implica em mais conflitos internos.
Temos como fruto genético, processos neurais reflexivos de autopreservação. Percebamos que a origem do Inconsciente se demonstra ser genética, mas atuante no Sistema Nervoso Central. No entanto, quando conseguimos compreender que determinadas coisas não são perigos reais, as reações instintivas de autopreservação se modificam em conexões neurais e, se contínuas forem tais reações, as gerações vindouras poderão receber tais características por vias epigenéticas.
Um exemplo bem simples é sobre pessoas que não praticam artes márcias. Se alguém as ataca, instintivamente protegem as suas cabeças e fecham os olhos ou, os fecham e os abrem com constância, enquanto emitem sons altos. Adquirem posição fetal, pois são remetidas ao espeço uterino da mãe, que é o local reconhecido como mais seguro inconscientemente. Um praticante experiente aprende a ter noção de espaço e tempo com os treinos e somente reage quando percebe o perigo real, pois se automatiza, refazendo conexões de autopreservação sem a necessidade de epigenética, que somente levaria tais características às próximas gerações. Aqui podemos perceber que temos condição geneticamente defina de refazermos pulsões ancestrais na própria existência, com base na Consciência, refazendo conexões neurais primitivas e alterando processos fisiológicos. Conhecimento leva ao refino reflexivo e, consequentemente, ao refino de elementos inconscientes.
Tal coisa nos demonstra que podemos controlar as nossas pulsões, pois mesmo sendo de origem genética, se alocam em nosso Sistema Nervoso Central, quando somos ou nos tornamos pessoas capazes, que implica em sermos meros Seres humanos definidos como tais por comportamento, genótipo, fenótipo e morfologia, mesmo que com mutações, mas que não sejam suficientes para a descaracterização da espécie humana, principalmente no aspecto intelectual.
Percebamos que pessoas que não conseguem, por motivos diversos, sejam genéticos, fisiológicos ou de formação comportamental que interfere nas percepções consideradas normais, têm condutas de desespero comum a seres que estão em grande perigo. Protegem as cabeças, fecham os olhos, emitem sons altos e se tornam agressivas. Tal coisa é fruto das pulsões de autopreservação. O caminho é o Conhecimento, dentro das possibilidade de aquisição de conhecimentos que cada pessoa possa já possuir e/ou vir a adquirir. Somente pelo Conhecimento pessoas se tornam mais capazes de refazerem as conexões de autopreservação primitivas, por perceberem não haver risco real, por conseguirem associar o mundo mental com o mundo sensível em que existem.
Os gatilhos são exatamente situações que acionam as pulsões de autopreservação, seja por situações de reações abrangentes ou por fazer surgir lembranças traumatizantes, gerando reações específicas.
O nosso processo mental é atemporal e pode nos levar a qualquer situação, em qualquer tempo que imaginemos, sem que tratemos o transcorrer temporal do mundo sensível de maneira a dominar os nossos processos internos, nos fazendo lidar com pensamentos sem que a percepção de tempo material atrapalhe as imaginações. Destarte, as nossas reações de autopreservação, a começar da homeostase, se tornam atuantes e eficientes, pois o que nos leva a percepção de existência do mundo sensível é o mundo mental, independente de estarmos percebendo o mundo sensível em tempo real ou de estarmos nos lembrando de coisas que há muito aconteceram, sendo apenas processos mentais baseados em fatos passados.
Quando nos sentimos ameaçados por lembranças, reagimos como se estivéssemos dentro da situação, de maneira material. Tal coisa acontece pelo fato de permitirmos que as conexões neurais mais primitivas, se sobreponham às percepções de racionalidade. Os gatilhos são situações que fazem as nossas reações primitivas perceberem que há um perigo semelhante a determinado perigo que nos marcou em algum tempo, seja como pessoa ou espécie.
Somente pelas vias do Conhecimento é que o nosso processo fisiológico será alterado, nos permitindo a criação de outros menos estressantes. Havendo sequência no trabalho de Conhecimento, poderemos, ‘em tese’, de maneira epigenética, ao longo de diversas gerações, alterarmos o nosso genoma, formando reações autopreservativas mais condizentes com a nossa espécie, que possui mais refino perceptivo e valorações diversas de nossas condutas. De igual forma, podemos refazer conexões atuais e nos transformarmos como pessoas, potencializando outras gerações, seja pela influência genética e/ou transmissão comportamental.
Não somos presente ou futuro, somos passado. O presente é um transcorrer temporal que não nos demonstra compreensão alguma. A falha ideia de presente é um emolduramento que criamos entre um ponto e outro, para que nos organizemos e não nos sintamos perdidos no mundo sensível. Tudo que vislumbramos; que imaginamos acontecer, é baseado naquilo que é passado, seja por experiências e/ou por informações.
Por sermos passado, temos uma potência muito mais significativa no antes que no agora, que se faz em construção, enquanto o antes já nos define compreensões. O Inconsciente é o algo que é acionado e que nos faz agir antes de percebermos conscientemente, por serem reações que nos preservaram há diversas gerações.
As nossas reações instintivas vêm antes da nossa percepção do que estamos fazendo e para qual motivo e, por isso, acabamos tendo conflitos internos, pois somos essencialmente ávidos por respostas. É exatamente esta necessidade de respostas e de parâmetros, que nos preservou como espécie até hoje. Tais parâmetros são frutos do Inconsciente, com reações rápidas, anteriores a uma compreensão e, com especificidades extremamente práticas e eficientes na autopreservação, sem sequer se conectar com valorações sociais. Estas respostas se tornaram extremamente rápidas, para nos preservar das feras e de inimigos pertencentes à própria espécie.
Enquanto o Inconsciente tem elementos que já existem, o Consciente ainda os está formulando em uma ação, dentro de um fato.
Devido ao nosso alto grau de avaliação intelectual é que geramos, ao longo da História Humana, tantas coisas que foram se tornando cada vez mais complexas, pois o Inconsciente é e deve ser simplório nas reações para nos preservar. Por ele ser simplório e por termos avidez por respostas e alto grau intelectual, acabamos gerando novas reações de autopreservação, baseadas em período humano mais atual. Quando falamos de simplicidade, estamos falando de aplicabilidade, pois os processos até tal simplicidade, são frutos de diversas gerações e (re)formulações de alta complexidade, no que se refere a conexões neurais de resposta imediata, prontas em nossos genes, mas que são prontas a serem modificadas fisiologicamente, quando nos prontificamos a modificá-las pelas vias do Conhecimento.
Epigeneticamente podemos nos transformar em uma espécie mais apta conscientemente e/ou mais apta inconscientemente. Devido ao que podemos perceber nas (re)ações mais violentas, o Inconsciente ainda está em evidência. Devemos agir o mais rápido possível, para que o Consciente se torne mais presente, pela aquisição de conhecimentos, com o fim de criar Conhecimento.
Com tal coisa poderemos, epigeneticamente, criar fenótipos que, ao se demonstrarem mais viáveis, poderão se tornar genoma. Quanto a morfologia, o próprio meio ambiente exigirá e, por isso, genética e fisiologicamente, também poderá sofrer alterações nos processos evolutivos. E, se nos basearmos no processo histórico de evolução, certamente haverá mudanças na nossa morfologia.
O Inconsciente jamais poderá deixar de existir, pois nos protege de perigos inesperados e nos causa o necessário estresse para luta e/ou fuga, quando o Sistema Nervoso Periférico Simpático se evidência para nos proteger e para que possamos proteger os nossos de maneira mais eficiente. Mesmo que não sejamos constantemente alvos de seres da nossas espécies, seremos de outras e das próprias intempéries.
O comportamento é o que nos definirá em um futuro próximo. Comportamento que se pauta no domínio ou não das pulsões mais ancestrais, sem que deixem de existir. Controlar não é aniquilar, obviamente. É não deixar que o nosso genoma ancestral, que se manifesta em nosso Sistema Nervoso Geral (Central e Periférico) seja gerador de condutas baseadas apenas nas potências fisiológicas autoprotetivas.
Elementos fisiológicos, principalmente hormônios, são potências de autopreservação. Não levam as pessoas a agirem, mas dão maior potência para se, agirem, obterem maior êxito naquilo que ancestralmente seria autopreservação.
É aqui que entramos na Consciência. Não há como percebermos fisiologicamente a Consciência, mas sim, conexões neurais. Conexões neurais que se fazem devido a provocações sensoriais, por si ou por gerarem lembranças de outras situações sensoriais ou que levam a pessoa a compreender que podem acontecer com ela, de maneira certa ou incerta.
É esta potência que não se conhece, chamada de consciência ou tantos outros nomes como potência de existir, elã vital, libido, alma, espírito e tantas outras que nos demonstram que podemos controlar o fisiológico, seja atual ou ancestral. Por mais que desejemos algo pelas potências ancestrais, somente executamos se criarmos conexões neurais que movimentem o nosso corpo para tais ações. Músculos esqueléticos não são involuntários. Necessitam de nossa manipulação, por vias de conexão neural. Conexão que se faz pela nossa vontade. Então, o que é essa potência do “Eu“? Ainda não sabemos.
Como somos seres altamente intelectualizados, em comparação com os demais que conhecemos, podemos criar justificativas para agirmos ou não, além das justificativas que já possuímos inconscientemente e conscientemente. As que já possuímos, também, se pautaram na autopreservação. Uma se sobrepondo à outra.
Imaginemos uma pessoa com raiva, por algum motivo que ela justifique racionalmente. Apesar da potência, não revidará com o chefe que grita e a ofende, pois sabe que poderá perder o emprego que é essencial à sua sobrevivência. Temos aqui a autopreservação agindo, pelas vias da racionalidade mais atual, que refez as cautelas primitivas, as atualizando para os tempos mais atuais. O patrão seria como o chefe do bando. Sem ele, o bando não come e não tem proteção das intempéries e dos inimigos. Em tempos atuais, conseguimos tais elementos com dinheiro, oriundo do labor. O chefe é a conexão entre conseguir o dinheiro ou a falta dele, que geraria grandes perigos. No entanto, essa pessoa chega em sua casa e agride pessoas que diz amar, por saber que, exatamente pelo possível amor recíproco, não será, a pessoa agressora, vítima de agressões oriundas de revides. Logo, o que era amor se torna medo e, assim, facilita as agressões. A autopreservação demonstra não haver perigo em agredir pessoas que não revidam oferecendo perigos reais. Por isso, a pessoa se retém até ter como eliminar as suas potências em quem sabe que não revidará. Quem não tem em quem revidar, acaba perdendo as pulsões, pois os pensamentos se desviam e a homeostase se refaz. Em casos de transtornos, a pessoa pode criar justificativas mentais para agredir determinados grupos de pessoas. Por exemplo, usando o exemplo ficto, a pessoa poderia passar a possuir (re)ações mais violentas, desde a conversação até a letalidade, quando tratando com pessoas que possuem determinadas semelhanças físicas com o chefe agressor.
Não, não descarregamos em quem amamos por confiança, como equivocadamente é dito no senso comum. Descarregamos as nossas pulsões primitivas de agressão nas pessoas que sabemos que não irão nos oferecer perigo. E, comumente, há medo ao invés de amor nas vítimas, em diversos níveis. Quando as agressões são ofensas verbais e provocações do tipo “chateações desnecessárias”, começa a existir a destruição do amor da vítima que, em algum momento, passa a compreender como ameaça aquela pessoa que em outrora era parceira na autopreservação e preservação da espécie. Neste ponto, há possibilidade de rompimento ou de revide violento, em diversos níveis e em diversas formas, antes do rompimento.
O “Eu” de cada um vai se formando pelo que permite que o Inconsciente domine. Da mesma forma, vamos transferindo epigeneticamente e comportamentalmente às próximas gerações aquilo que somos ou, melhor, que nos tornamos, por nos transformarmos ou por permitirmos sermos transformados por outrem e/ou até mesmo por nós, pelas nossas pulsões primitivas não serem dominadas. Para reforçar o que nos tornamos, passamos a ter condutas padronizadas, justificando as nossas boas e más ações. Criamos regras entre as pessoas, de diversas formas. Por este motivo, não devemos agir apenas por nos ser afirmado como devemos agir ou, inclusive, como não devemos. Devemos compreender. Do contrário, apenas estaremos criando novas conexões de reações inconscientes para nós e para as próximas gerações ou, deixando as que já se firmaram, mas que não são eficientes à nossa preservação como espécie.
Somos muito mais complexos do que parecemos, principalmente pela simplicidade de nossas reações mais primitivas, que são as mesmas de seres muito mais simples, a começar de procariotas, que têm ações e reações de autopreservação, que não são chamadas de comportamento por não partirem de Sistemas Nervosos, como os que os animais mais complexos possuem.
Comportamento não é algo tão simples que possa ser explicado como conexões neurais consequentes de estímulos externos, sejam atuais ou passados; frutos de fatos que a pessoa fazia parte ou não, mas que vislumbra a possibilidade de fazer. Comportamento é o conjunto de ações para autopreservação, com o fim de preservação e perpetuação de uma espécie, com o Consciente mediando e valorando as ações, para recriação de automatismos comportamentais, que implicam em ações que geram materialidade perceptível sensorialmente.
A autopreservação nos demonstra por qual motivo as pulsões sexuais são tão latentes. São elas que perpetuam a nossa espécie. E, para tal, deve haver segurança no momento da cópula para que, no caso de espécies sexuadas, não haja a perda de dois indivíduos, principalmente da fêmea, nos demonstrando os motivos dos machos protegerem tanto as fêmeas, por serem elas as que gestam. Isso também nos demonstra o motivo dos machos comumente serem mais agressivos e mais fortes, por terem o dever de protegerem as fêmeas, que são as que irão gerar outros seres de uma espécie. Somos extremos em ações em duas condições: de perigo e de prazer. Em perigo, revidamos, mesmo que com a fuga, para nos preservarmos. Em prazer, buscamos algum gozo. O gozo é fruto da necessidade de reprodução, que é o que garante a perpetuação de nossa espécie. Por isso, nada incomum o sexo acontecer nos momentos de ausência de perigos ou, melhor dizendo, momentos de prazer. Quando não temos ou não queremos ato sexual por motivos racionais, buscamos as sensações de estado parassimpático, com outros gozos. O gozo é a manifestação das sensações de sucesso nas pulsões de preservação da espécie, que podem ser escamoteadas em diversas condutas. Quando no momento da cópula, próximo ao orgasmo, para autopreservação, no caso de algum perigo no exato momento em que há a possibilidade de reprodução, entramos em estado simpático, que busca preservar o casal em cópula, no caso de uma luta ou fuga de alguma ameaça que se aproxime.
O desejo sexual é tão forte que apaga as percepções de mundo. Tal coisa acontece para que o casal não desista da prole, por perceber as tantas implicações das paternidade e da maternidade. Se houvesse racionalização sobre tais implicações, a própria pulsão de autopreservação evitaria a reprodução.
A autopreservação não é somente potência de proteger quem a sente, mas de proteger a própria espécie e, por isso, a potência de reação autopreservativas pode e comumente é direcionada a outrem, como prole, por exemplo, para cumprir a sua função, que é perpetuar a espécie e, não meramente proteger um único ser de uma espécie.
Tal como a pulsão sexual, as demais pulsões se manifestam de maneira latente. A autopreservação se manifesta com igual latência e grande ostensividade nas reações. Tais potências de autopreservação impedem o racional por um breve mas suficiente momento, para que a pessoa aja da forma mais direta possível frente a um perigo. Como tais pulsões implicam em defesa de perigos contra a integridade física e até mesmo a vida, as reações são incisivas e comumente violentas. Mesmo havendo algumas pulsões que se manifestam nos tempos atuais com base em elementos menos primitivos, são pautadas nas reações mais primitivas. Por isso são reconexões. Isso implica que uma conexão se aprimora em outra, que é mais usual no meio humano atual, seja em uma pessoa, grupo ou na espécie de maneira geral.
O Inconsciente nos guia pelo próprio Consciente, pois buscamos justificar as nossas ações, oriundas de pulsões, para que nos sintamos melhor, por sabermos que fomos incapazes de nos autogerirmos. Justificativas que tem o fim de sustentar ações incompatíveis com a preservação da nossa espécie, tendem a ser extremamente danosas.
Devemos aprender a nos admitir para nos modificarmos. Nos modificarmos pelo conhecimento, criando Conhecimento para autoconhecimento e autogestão.
Somos mais complexos do que comumente entendemos, exatamente por tentarmos nos simplificar, para termos uma existência menos insuportável por não sabermos o que somos de fato. Sequer sabemos de onde viemos, como surgimos e para onde vamos, se é que vamos.
Reflitamos, então, sobre as nossas certezas sobre o que pensamos ser ou sobre o que algumas pessoas afirmam sermos, com base em simples reações químicas comuns.
Instrução não é mera repetição, mas sim, reformulação e criação. Devemos nos instruir a sermos melhor para nós, para os nossos, para a nossa espécie e para o Todo.
Autor: Carlos Alexandre Costa Leite
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