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As coisas que você vê quando desacelera

Levantei cedo. Esqueci de parar para respirar. Todos iriam fazer aquela piada comum, como é parar parar respirar? E naquele dia de manhã cedo pensei “o que queremos dizer quando dizemos, parar para respirar?” Já havia escutado essa frase por diversas vezes, sempre saindo da boca de quem está apressado, atarefado ou ansioso demais. Já ouvi de amigos, de gente indo trabalhar ou voltando do trabalho.

O que é parar para respirar?

Parar para respirar é ter um momento intimo consigo em que pausamos o relógio da vida, olhamos profundamente para dentro da gente e sentimos o nosso físico e a presença única daquele momento, num breve respirar.

Acho que a mente cheia, o tempo todo calculando o presente, passado e futuro impede a gente de realizar tal ato, vamos levando e levando e levando, fazemos tudo como robôs e dormimos, só esquecemos de uma única coisa: parar e realmente respirar — sentindo-se vivo.

Uma das coisas que mais gosto de fazer e que me fazem sentir viva é observar de forma sútil as pessoas na rua. As que mais gosto são as crianças, os idosos e os que andam de bicicleta ou ficam na calçada de suas casas. E no interior isso se dá de forma peculiar. Não sei, mas elas sempre tem algo a oferecer. Não queria especificar, mas sempre que estou indo ao mercado, trabalho ou indo treinar procuro observar. E isso me tira um pouco do automatico que por diversas vezes me encontro.

Ao ir trabalhar cedo passei por um senhor parado na esquina de sua (possível) casa e ele usava logo pela manhãzinha um chapéu de cowboy rosa claro e uma camisa azul. Seu visual diferente se destacava junto ao sol daquela manhã. Lembro que ele me olhou e me ofereceu um breve bom dia de uma forma muito gentil , pude reparar quando o avistei de longe, que ele estava observando a rua e as pessoas que andavam naquele dia fazendo suas atividades cotidianas, olhava o movimento e o fluir da vida.

Viver no automatico

Sabe aquele curto período em que encontramos com alguém na padaria e ganhamos um bom dia surpreendente? Ou aquela pessoa na calçada que te dá um sorriso gracioso e meio intimidado? Ou aquela criança conversadeira que você encontra no mercado? Ou quando você está na rua e escuta alguma conversa de terceiros que te faz dar umas breves gargalhadas internas? Acredito que tudo que contém espontaneidade, bondade e simplicidade nos faz sentir vivos e nos tira do automatico.

Tem histórias que escutamos e vivenciamos com pessoas que conhecemos de forma aleatória, que nunca escutaremos com o mesmo sabor com pessoas intimas. É a singularidade da vida e dos seres.

Afinal, não são só meramente histórias, mas momentos sem celular, sem registro, sem articular movimentos e falas, sem rede social e sem pensar demais, é história de gente que aprendeu a grandiosidade de viver.

Meu pai me contava dos seus hábitos na época em que morava na chácara, e apesar das dificuldades, ele sentia tudo que vivia muito intensamente. No interior dá para apreciar bastante partículas breve do outro quando se abre para essas oportunidades, coisa essa que na cidade grande a gente não tem, somos movidos pela pressa do tempo e do que o saber que existe tempo faz com a gente.

As vezes é bom não saber as horas do relógio.

Esses dias um moço da zona rural que vende doce e queijo, bem piadista e que por sinal sempre vivia fazendo piada, piadas bem ruins… (não poderia deixar de frisar que ele era um péssimo piadista) me disse essa semana que eu tinha de rir mais. Eu não tinha conseguido gargalhar com a piada dele, e dei um sorriso amarelo, com tom de educação. Mas o que ele havia dito tinha sido tão bonito que eu sorri para aquele dia de forma diversa.

Ele me disse que a vida era pra isso – ser grato e dar risada. Que Deus gostava de gente grata e que sorria. E eu ri verdadeiramente quando ele falou isso, e me lembrei do que ele havia me dito o dia todo, tem coisas que ficam marcadas na gente. Essas mais simplórias, os conselhos mais sábios sempre sai da boca dessas pessoas, e são os melhores.

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